EU#5 – AnAnAnA

AnAnAnA

Num mercado dominado pelos grandes monopólios comerciais, o melómano de sempre e o consumidor ocasional procuram, ainda, referências alternativas para as suas compras musicais. O número de discos vendidos em Portugal, dizem os dados da Associação Fonográfica Portuguesa (AFP), continua a descer a olhos vistos. Lado a lado com o aumento gradual do mercado do DVD, o decréscimo nas vendas de registos musicais tem sido nota de preocupação em anos recentes. A pirataria, a troca de ficheiros ilegalmente efectuada pela Internet, e o alto preço dos discos são as razões mais apontadas para tal queda.

Num mercado dominado, desde a sua chegada a Portugal em 1998, pela FNAC, há ainda quem tente a sua sorte. Lojas alternativas e especializadas em determinado estilo de música, geridas por melómanos convictos e dirigidas a um público muito reservado. Funcionam ainda, algumas, como distribuidoras nacionais de editoras lá de fora. A rua de baixo decidiu ir conhecer melhor uma dessas lojas/distribuídoras: a AnAnAnA.

Evolução, Materialização, Expansão

A AnAnAnA surgiu em finais da década de 80: “começou por ser tudo através de venda postal até termos aberto em 1992 uma loja em Alfama”, afirma a começo Fred Somsen, responsável maior da AnAnAnA. Depois, deu-se a mudança para o Bairro Alto, mais concretamente para a Travessa Água da Flor. As pessoas são comodistas. “O nosso maior problema é a localização, esta zona do Bairro Alto está degradada e os consumidores ocasionais não vêm aqui”, lamenta.

Na AnAnAnA já trabalharam pessoas que estão actualmente, por exemplo, na Flur, mas a eventual concorrência entre lojas/distribuidoras é, segundo Fred Somsen, algo que não interessa a ninguém. “A nossa concorrência maior é a Internet”, afirma. “Por exemplo, a FNAC actualmente, depois de aniquilada a concorrência, já não está a atacar tão fortemente as áreas em que trabalhamos”, sustenta.

Em contraste com o monopólio das grandes cadeias, todas estas lojas (como a AnAnAnA) procuram, em época de vacas magras, consolidar a sua posição no conturbado nicho musical português. Tarefa complicada, reconheça-se.

A loja, por dentro, é aquilo que se espera: acolhedora, caseira, promete “atendimento personalizado e um cuidado maior que em qualquer superfície de maior dimensão”, garante Fred Somsen. Tem CDs, LPs, DVDs, promoções, revistas, até uma máquina de café para qualquer cliente se servir. Clientes esses, os mais regulares, aguardam já religiosamente pelas sextas-feiras, altura da semana em que a mailing-list é actualizada. “O meio digital é algo em que estamos a apostar forte, enviando por mail links para excertos das nossas novidades, etc. É um meio fundamental e que tem de ser aproveitado”, realça.

Sucessos recentes da AnAnAnA versão distribuidora? “Os discos mais recentes de Andrew Bird e Joanna Newsom foram alguns dos mais marcantes de tempos recentes”, remata Fred após alguma reflexão. As muito respeitadas Green Ufos, Drag City e Fargo são algumas das editoras distribuídas nacionalmente pela AnAnAnA.

Edições presentes da AnAnAnA

Novos trabalhos de Edith Frost ou Oranger, o regresso aos discos de originais dos Heaven 17 (sim, esses mesmo!), um apanhado de Faris Nourallah ou a estreia de Southern Arts Society são apenas alguns dos mais recentes lançamentos distribuídos pela AnAnAnA. Mas vamos por partes.

“Near The Sun”, de Faris Nourallah, para começar, ou como antes do quarto disco a solo um dos mais interessantes (e pouco revelados) talentos do novo cançonetismo norte-americano acerta em cheio. Este trabalho agrupa algumas das maiores composições do músico até à data, servindo como ideal porta de entrada no universo deste cantautor. Quem gosta de Beatles gostará de Faris Nourallah, quem se deixou encantar recentemente por Devendra Banhart ou, especialmente, Sufjan Stevens, também não se fará rogado. Uma pequena (ou nem tanto) pérola pop.

Depois, outra novidade, outra grande surpresa. Os Heaven 17 não estão mortos e enterrados, bem pelo contrário, e apresentam o seu melhor disco desde a sua reunião em finais de 90. “Before After” é, então, um rebuçado pop muito interessante na carreira da banda, (quase) capaz de ombrear com os melhores momentos dos anos 80 do colectivo. A matriz sonora é a do costume, pop baseada em electrónicas, assente em ritmos quentes e dançáveis. Mas as canções são melhores que o costume no género e, analisando tempos recentes, na banda. Uma fuga muito bem conseguida à habitual linhagem sonora distribuída pela AnAnAnA.

Edith Frost edita pela Drag City e tem em “It’s a Game” o seu mais recente registo. Canta, toca guitarra, ocasionalmente piano, e compõe. “It’s a Game” é já o quarto disco da artista, e, infelizmente, pouco acrescenta ao imaginário country-folk de Edith. Vale, ainda assim, por algumas composições de inegável valor, “Emergency” à cabeça.

Outros lançamentos recentes da AnAnAnA referem-se aos Southern Arts Sociery, em destaque na rua de baixo com o concerto com os Piano Magic e com direito a entrevista para breve; destaque-se, também, “New Comes and Goes”, dos Oranger, manual de como fazer um bom indie-rock musculado e ambicioso mas simultaneamente muito livre, descomprometido e, pasme-se!, divertido.

Já se disse mas repete-se: alguma da melhor música que por aí anda passa pela AnAnAnA. Descubram-na – a música e a loja. Não precisam de agradecer.



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