“Euro pesadelo – Quem comeu a classe média?” – Aleix Saló

“Euro pesadelo – Quem comeu a classe média?” – Aleix Saló

Porque a política não tem de ser um assunto assombroso e aborrecido

O mais recente livro do cartunista espanhol Aleix Saló, “Euro pesadelo – Quem comeu a classe média?” (Bertrand Editora, 2013), tem por objectivo identificar os caminhos que conduziram a Europa até à actual crise financeira, salientando a forma como, a mesma, tem vindo a afectar e a ser afectada pela classe média, uma vez que quando esta “protagoniza um filme de terror, a Europa treme”.

Saló começa muito bem o seu livro, ao nos providenciar uma sucinta contextualização histórica do Ocidente: são 4000 anos condensados num capítulo com especial evidência dada ao percurso de algumas nações europeias. Afinal de contas, para falar da Europa é preciso compreender o que é a identidade europeia – se existe de todo – e o que significa ser europeu. A partir da associação entre o Ocidente e o Oriente, ao longo de todos estes anos, o autor tenta também compreender melhor o presente e até especular sobre o futuro – muito curiosa a analogia feita no final entre o domínio mundial e a arquitectura de um país.

Depois desta breve introdução histórica as atenções dirigem-se a três grandes momentos, ocorridos em 2001, cujo impacto o autor considera responsáveis por definir a Europa do terceiro milénio: a queda das torres gémeas, a organização da cimeira do G8 e a entrada em circulação do euro.

O ataque do 11 de Setembro nos Estados Unidos gerou uma onda de pânico ao longo do globo. São em momentos destes, sob o manto da segurança, que o governo consegue aumentar o controlo sobre uma civilização. Nesse sentido, o aumento da segurança para o cidadão comum não vem sem custos (nada vem), o que resulta na perda de algumas das suas liberdades. Existe uma ironia amarga, por exemplo, na criação de um campo de detenção americano na baía de Guantánamo, em Cuba. Tal ocorreu porque a única forma de os Estados Unidos poderem agir por cima da constituição tinha de ser além das próprias fronteiras – como se isso alterasse alguma coisa.

Entretanto, a globalização na Europa é cada vez maior, com o sonho europeu cada vez mais próximo de se concretizar. Um sonho que pecou por alguma ingenuidade, é certo. Na realidade, nem todos os países pertencentes à união europeia estavam no mesmo pé de igualdade e prontos para assumir este novo desafio e parceria (alguns até alteraram valores da sua economia para poder entrar). No início as vantagens fizeram-se sentir em grande escala, enquanto o dinheiro fluía graças a uns e uma dívida se gerava graças a outros, mas era apenas uma questão de tempo até esta bolha de felicidade rebentar e de os problemas financeiros começarem a surgir, encaminhando-nos para a situação em que nos encontramos hoje.

A grande virtude de Aleix Saló é a de, em poucas páginas, nos conseguir passar uma boa imagem do mundo, em geral, e da Europa em particular. Tudo contado de uma forma leve e muito humorística, acompanhado sempre pelas suas divertidas ilustrações. No campo do humor, o livro assume um tom satírico forte – afinal de contas, muitos dos acontecimentos na realidade não têm graça nenhuma.

“Euro pesadelo – Quem comeu a classe média?” é a prova viva de que a política não tem de ser um assunto assombroso e aborrecido. Aleix Saló traz-nos, assim, uma proposta muito interessante e divertida para quem quiser conhecer e compreender um pouco melhor este nosso percurso continental. É importante que estejamos todos conscientes da realidade: estamos a atravessar uma fase problemática que deixará, sem dúvida, as suas marcas na História. Como bónus ainda podemos dar umas boas gargalhadas, mesmo que, no final, o sentimento que mais permaneça seja o de uma séria preocupação com o futuro. Mas isso, infelizmente, não poderá ser de outra forma.



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