EXD 09 – Peter Saville
O co-fundador da emblemática Factory passou por Lisboa.
No 2º dia da Experimenta Design’09 o tempo apresentou-se de forma cronológica. O Teatro Camões abriu mais uma vez as portas para as Conferências de Lisboa, fazendo-nos desta vez viajar pelo percurso profissional de Peter Saville numa conversa que se prolongou posteriormente pelo Jardim de Inverno do Lounging Space da Experimenta.
Recordaram-se os dourados anos 80, marcados pela emergência de uma nova geração de Designers, o espírito contestatário dos anos 90 e a irreverência própria de Saville.
Co-fundador da Factory, a conhecida editora discográfica independente, o designer foi responsável pela criação de capas de álbuns para bandas como Joy Division e New Order. Aí, “tinha a liberdade de fazer o que queria através da Comunicação”, necessidade que manifestou ao longo de toda a sua carreira.
Mas a criatividade de Saville não se esgota na área da música. As suas intervenções no mundo da Moda contam com as colaborações de nomes como Jil Sanders, John Galliano e Yohji Yamamoto. Este último, por exemplo, deu ao designer toda a liberdade de que ele precisava para se expressar. Numa crítica à geração de Designers dos anos 80, Peter Saville manifestou na década seguinte o desejo de fazer uma paródia à publicidade. Surge então “Game Over”, um controverso anúncio de moda para Yamamoto, que se caracterizou pelo abstraccionismo numa época em que a publicidade de Moda seguia o caminho inverso.
Figura marcante da cultura visual contemporânea, o criador britânico alterou a relação do design com a arte através das inovações que introduziu na àrea de Comunicação, chegando mesmo a trabalhar na Pentagram, uma das mais prestigiadas consultoras/agências de Design do mundo.
Actualmente com 53 anos, Peter Saville não hesita em afirmar que cometeu “vários erros”. Só esteve na Pentagram por dois anos, atrasava-se várias vezes, faltava muito. Só a partir daí aprendeu realmente a fazer Design de Comunicação, altura em que o próprio confessa que “já não o queria fazer”. “Queria exprimir-me livremente. No Design de Comunicação não há autonomia ou liberdade para afirmar uma opinião própria. A mensagem comunicada é premeditada por outras pessoas”.
Enveredou então por um trabalho artístico mais maduro. “Não tinha formação em Belas-Artes, tive de aprender sozinho e errar em público. O pior é ganharmos oportunidades que não merecemos”, diz.
O início da década de 90 encontrou-o em Los Angeles. “Não é o lugar ideal para um Designer. O importante é a televisão e o cinema, o resto é secundário”. No entanto, “em momentos de optimismo e força mental era extremamente excitante. Era como estar num filme de David Lynch: podia ser muito entusiasmante ou assustador”, confessa.
E é precisamente com este último adjectivo que Saville caracteriza a Arte. “Queria oferecer algo que não tivesse sido proporcionado antes e para isso tive de me encontrar. Esse processo é embaraçoso. Tenho tentado encontrar uma maneira de ser eu próprio, tentando não ser muito estúpido”, conta o criador, reforçando o espírito descontraído que marcou toda a conversa. “A única coisa especial que podemos oferecer é nós próprios. Isso sim, é único. Arranjei uma forma particular de me exprimir (…) Uma das cortesias da Arte foi ter-me ensinado a ver. Aprendi que coisas que não são Arte podiam sê-lo”.
Hoje em dia, para além dos vários projectos em museus e galerias de todo o mundo, Saville é o Director Criativo da Câmara Municipal de Manchester, cidade que o viu nascer, liderando a estratégia de revitalização e renovação cultural e enconómica da cidade. Numa tentativa de lhe dar uma “irreverência intemporal”, o designer conta que, ao longo de 5 anos, o trabalho “pode por vezes tornar-se frustrante, mas nunca é inútil. É como ver relva crescer: pode não se notar imediatamente, mas ela cresce mesmo”.
O trabalho de Saville, mais do que pelo tempo, é fortemente marcado por estados de espírito. “Devemos encontrar uma maneira de partilhar o que sentimos”.
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