Fantasporto 2016 – Fotografia de Andreia Filipa Cardoso

Dorminsky, correu bem como sempre!

36ª Fantasporto

Após uma semana de intensa actividade cinematográfica, tendo a RDB marcado presença no Fantasporto 2016, a 36ª edição deste festival de referência, não podemos deixar de manifestar a falta de Mário Dorminsky por doença, a quem dedicamos este título e enviamos o desejo de rápidas melhoras. Ainda sobre isto, resta-nos acrescentar que Beatriz Pacheco Pereira não deixa os créditos que também são seus por mãos alheias, fazendo desta edição mais um grande evento a registar na Invicta.

Será praticamente impossível encontrar um cinéfilo que nunca tenha ido ao Fantasporto. A noção de festival de cinema é reforçada no Rivoli, como se viu este ano, pela atenção que se dedica aos filmes e até por pormenores como a salva de palmas que se costuma fazer ouvir na sequência de créditos finais.

A atribuição de prémios no Fantasporto está dividida em cinco secções: Cinema Fantástico, Semana dos Realizadores com o Prémio Manoel de Oliveira, Orient Express, Prémio Cinema Português e Prémios Não Oficiais.

Fantasporto 2016 - Fotografia de Andreia Filipa Cardoso

Fantasporto 2016 – Fotografia de Andreia Filipa Cardoso

 

Para lá da organização

Começando pelos premiados não oficiais temos o Prémio de Carreira que distinguiu dois rostos enormes do cinema. Milcho Manchevski teve direito à retrospectiva do seu trabalho e Nicolau Breyner foi distinguido pela sua vida dedicada à arte da câmara como actor, realizador e produtor, contando com alguns feitos menos conhecidos de quem apenas o acompanha pela televisão.

Augusto Canedo, pintor que expôs no Rivoli, recebeu uma distinção especial do Fantasporto, adicionando a arte da imagem estática ao movimentado festival.

Jeppe Ronde, realizador do filme Bridgend, foi o vencedor do Prémio Jovem, porque a arte de hoje também é feita de futuro.

No mundo do cinema, a crítica é algo que raramente se encontra de mãos dadas com os intervenientes na feitura dum filme. Podendo condicionar quase todas as circunstâncias comerciais de amostragem das produções, a crítica reveste-se dum género de amor-ódio que se consubstancia pela sua necessidade e pela dor da crítica negativa e, por vezes, destrutiva.

No entanto, o Fantasporto tem o Prémio da Crítica, não negando o espaço vital desta, mas atribuindo-lhe um lugar próprio e integrado. O premiado nesta categoria foi o filme Prisioner X de Gaurav Seth, sobre o qual nos debruçamos noutro artigo da RDB.

Em ex-aequo, eleitos pelo público do Fantas, I Am Hero (Shinsuke Sato) e Sensoria (Christian Hallman).

 

Fantasporto 2016 - Fotografia de Andreia Filipa Cardoso

Fantasporto 2016 – Fotografia de Andreia Filipa Cardoso

Cinema Português e o destaque merecido

Conforme nos prova a vitória de Leonor Teles no festival de Berlim e a abertura do Fantas com Gelo, dos Galvão Teles (pai e filho), o cinema português está em maré de subida, ganhando notoriedade lá fora.

Por isso, não seria de descurar, mais uma vez, no Fantasporto, com a sua secção exclusiva.

Quarto em Lisboa, realizado por Francisco Carvalho, foi considerado o Melhor Filme, ficando o prémio de Melhor Escola de Cinema Portuguesa para a Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE). O júri dignou-se ainda a atribuir uma menção especial de criatividade ao filme de escola intitulado Cinema Dom Dinis de Tiago Basílio, Tiago Fonseca e Tiago Costa, da UTAD.

Expresso do Oriente

A secção Orient Express é sempre surpreendente, pelo simples facto de nos trazer interpretações culturais completamente díspares da nossa. Vidas diferentes, ambiências e factos diversos, realidades alteradas mas que se tocam, num mundo cada vez mais global.

Atribuídos os dois prémios, Deep Trap (Kwon Hyung-Jin) foi o Melhor Filme Orient Express e o Prémio Especial foi para I Am a Hero (Shinsuke Sato), vencedor também do Prémio do Público da secção de Não Oficiais.

Prémio Manoel de Oliveira

A 26ª Semana dos Realizadores, baptizada com o nome do emérito realizador português, teve nos seus premiados verdadeiros representantes das preocupações modernas com a evolução do nosso mundo em forma de apresentação cinematográfica.

O Melhor Actor foi Ziyad Bakri, protagonista do filme Blind Sun (Joyce A. Nashawati), que nos envolve numa trama sobre a emigração e a problemática do clima extremo.

A Melhor Actriz foi Barbie Forteza, protagonista da história de amor dificultada por migrações de teor tradicional e choques étnicos do filme Laut (Louie Ignacio).

O Prémio Especial do Júri da Semana dos Realizadores foi para Just Jim, filme de Craig Roberts, actor vencedor de um BAFTA e que se estreia com esta narrativa das vicissitudes de um adolescente galês que ele próprio protagoniza.

O grande premiado desta secção foi The Open, dirigido por Marc Lahore, que venceu os prémios de Melhor Filme, Melhor Argumento e Melhor Realizador. Por esta razão e por ser um filme cuja linha de pensamento difere do mais canónico, dedicamos-lhe um artigo próprio que convidamos a explorar.

Fantasporto 2016 - Fotografia de Andreia Filipa Cardoso

Fantasporto 2016 – Fotografia de Andreia Filipa Cardoso

O Cinema é mesmo Fantástico

A secção principal do Festival Internacional de Cinema do Porto é a mais aguardada pelos seus seguidores e trouxe até nós, este ano como em outros, nomes de grande valia para o cinema mundial.

Como Melhor Curta-Metragem temos Blight, de Brian Deane, ao passo que Cord (Pablo González) foi a Menção Especial do Júri.

Chasuke’s Journey (Sabu) e Queen of Spades. The Dark Rite (Svyatoslav Pogdayevskiy) venceram, respectivamente, o Melhor Argumento e o Prémio Especial do Júri. O primeiro conta-nos a história de um habitante do Céu que tenta salvar a sua paixão. O segundo relata-nos as desventuras de quatro jovens que invocam a Rainha de Espadas do mundo dos Mortos e que acabam por desgraçar as suas existências.

Ken’Ichi Matsuyama foi o Melhor Actor pelo desempenho em Chasuke’s Journey e Laura de Bóer venceu o prémio de Melhor Actriz. Cord, o filme de Pablo González que Laura protagoniza, trata duma relação que nasce duma premissa pós-apocalíptica: o sexo torna-se impossível devido à falta de salubridade dos sobreviventes do subsolo, pelo que a masturbação se torna a principal forma de satisfação da líbido e, consequentemente, um negócio. E eis que, neste cenário, um vendedor de dispositivos masturbatórios e uma ninfomaníaca se aproximam.

Agnieszka Smoczynska estreou-se da melhor forma na realização de longas-metragens. A sua “comédia musical de terror” The Lure, que conta a história de um triângulo amoroso de duas irmãs sereias vampiras, arrecadou os galardões Grande Prémio de Melhor Filme Fantasporto 2016, Melhor Realização e Melhores Efeitos Especiais. Um filme que chega até nós vindo do Festival Sundance e que encheu as medidas do júri internacional do Fantasporto

Até para o ano

Conforme a cidade do Porto nos mostra, a idade é uma virtude. Está no vinho, está nas pessoas, está na essência das coisas e está no Fantas, como carinhosamente é chamado por todos os que com ele convivem e dele sentem falta. Assim será por mais uns meses. A expectativa de que comece, de novo, a descoberta que consiste na visita ao salão do Rivoli para assistir às múltiplas e fantásticas sessões de cinema.



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