Fatimah X

Primeiro albúm de um novo projecto electrónico Português que surge como a primeira aposta dos Transformadores.

A imperfeição é condição necessária para a magia das transformações e da poesia

Assim se apresentam os Fatimah X, a primeira aposta discográfica dos Transformadores. Definem a sua música como “baladas e poemas de electrónica distorcida para fantasmas e guitarras noise para crianças e guerrilheiros” e lançaram o seu primeiro registo discográfico no passado mês de Outubro. A banda é composta por três elementos no minimo peculiares. Preparem-se para entrar num mundo imaginário e distorcido.

Fatimah X, 26 anos, mãe de dois gémeos biónicos que vive em Gibraltar num velho contentor de cargueiro de longo curso completamente sufocado por guitarras alteradas, estranhos artefactos sonoros electrónicos e computadores novos e velhos. Vive esperando o evento que previu e deseja: o início da montagem da rampa de lançamento das naves que irão evacuar os humanos. Está encarregue da composição, programações, sintetizadores e guitarras. El Kapitán Z, 43 anos, ex-capitão das tropas especiais guatemaltecas envolvido na guerra suja dos anos 80 do século xx; um ex-padre católico na Palestina dos anos 90; uma ex-criança que em Viena acompanhava o pai (romeno) exilado e recebia lições de Gyorgy Ligeti (de quem o pai era amigo). Manipula guitarras baratas sugadas para dentro de um computador e aí transformadas e escreve todos os poemas que consegue agarrar. Responsável pelas letras, guitarras e colabora com a sua voz em alguns temas. Por fim, Dansi Neve, 19 anos, funcionária de uma operadora de telecomunicações que, diariamente, ao entrar ao serviço, aceita ser teletransportada para o ano de 1953 em Portugal. Objectivo: fazer escutas telefónicas. É a voz da maioria dos temas.

Neste contexto, surge o álbum da banda entitulado ‘’ÁNGELES EN LOOP ;La brutalité des ordinateurs et des enfants’’. São 16 temas dominados inteiramente pela electrónica das máquinas e dos sintetizadores. Sons e vozes distorcidos onde é dada uma total liberdade às máquinas. No meio desta revolução, aparecem dois temas de uma electro-pop bastante límpida. « Atak Aéreo » e « Sal 13 », são dois temas claramente influenciados pela  electrónica, mas com uma construção totalmente pop. Os temas deste albúm transmitem-nos uma vontade e um aviso de revolução e transportam-nos para uma realidade alternativa dominada por máquinas e ciborgues. São mensagens subliminares que parecem ter como destino uma entidade diferente do nosso consciente. Mensagens que, por muitas vezes, parece que nos passam ao lado mas ao mesmo tempo nos transmitem uma espécie de alterta sobre a forma como lidamos com as nossas emoções. É a desordem e o acaso das palavras que predomina, deixando uma sensação de subjectividade num mundo onde a previsibilidade e normalidade não existem. Um albúm verdadeiramente marcado pela distorção e dedicado à imaginação e criatividade de quem o ouve. De realçar o uso da língua portuguesa como único idioma utilizado nos temas, bastante apropriada no contexto apresentado.

Um albúm interessante, de uma banda peculiar, bastante original e criativo que demonstra mais uma vez a capacidade de inovação, e evolução da música portuguesa que cada vez tem menos medo de arriscar e que acredita cada vez mais nas suas convicções, projectos e ideias.



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