Festa RDB – Linda Martini & Contradisco

Um dia passado com os Linda Martini. Reportagem com os animadores da festa do 3º aniversário da RDB a decorrer no próximo dia 23 de Novembro no Clube Mercado.

3 ANOS DE RDB

23 de NOVEMBRO (5ªFEIRA) – CLUBE MERCADO (Bairro Alto) – 23:30

LINDA MARTINI
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DJ SET – CONTRA DISCO (Rui Maia dos X-Wife e Mário João Camolas)

Nota: A festa comemorativa dos três anos de edições da rua de baixo vai ter lugar no Clube Mercado no próximo dia 23 de Novembro (quinta-feira) com a presença dos Linda Martini e da dupla Contra Disco, formada por Rui Maia dos X-Wife e Mário João Camolas (indie/electro set). As festividades têm início às 23:30 e a entrada tem preço único de 5 euros (com uma bebida branca incluída). Esperamos contar com a presença de todos. Fiquem de seguida com uma reportagem realizada com os Linda Martini no dia de apresentação do seu novo disco no Santiago Alquimista. Pode ser que vos abra o apetite …
A equipa da RdB

O desafio, que à partida pareceria simples, acabou por ter de se adaptar às circunstâncias inerentes a um dia especial e diferente. O dia, 27 de Outubro, marcava a apresentação de “Olhos de Mongol” no Santiago Alquimista, num concerto de entrada livre. O desafio era entrevistar os Linda Martini, um dos nomes fortes do novo-rock português (ou do que quer que seja) – e presença confirmadíssima na festa do terceiro aniversário da RdB a decorrer no próximo dia 23 de Novembro no Clube Mercado, em Lisboa.

Posto isto, os dados em jogo: O tempo era o dia 27 de Outubro de 2006, isto é, dia de lançamento ao vivo de um disco que, soube-se na altura, só verá edição comercial a meio do mês de Novembro, poucos dias antes do concerto na festa da RdB. Relativamente ao espaço, tomar-se-ia como segura a exclusividade do Santiago Alquimista, mas tomemos toda aquela área Lisboeta como global panorama de local de reportagem (culpa do jantar fora do espaço de concerto). As etapas percorridas, podemos dividi-las em fases: uma primeira de soundcheck, uma segunda de intervalo, repouso e alimentação, uma terceira de real conversa e uma final de actuação ao vivo. Tudo isto com muitos desvios de percurso e situações caricatas. As inevitáveis contrariedades umbilicalmente ligadas a todo um dia de celebração, certo, mas de nervos mais elevados e empenho redobrado. Mas já lá vamos. Antes, contudo, um pouquinho de história e contexto.

Os Linda Martini são boa gente de Queluz e Massamá (aqui, o escriba assume a parcialidade derivada da sua área de residência ser idêntica). Os Linda Martini são quatro tipos (André Henriques na voz e guitarra, Pedro Geraldes e Sérgio Lemos nas restantes guitarras e Hélio Morais na bateria) e uma moça (Cláudia Guerreiro, baixo) que se conheceram no Liceu, algures nos finais da década de 90 – jovens com intenções sérias perante a música divididos entre a Escola Secundária Padre Alberto Neto (Queluz) e a Escola EB 2+3 Miguel Torga (Massamá). De comum memória ficam alguns concertos da época, de bandas que, directamente ou não, vieram a dar origem aos Linda Martini – nomes como Onion Basement ou Waste of Time, por exemplo. Daquela altura, ficam essas memórias e outros momentos curiosos, como a pontual passagem de um dos membros dos Linda Martini na série “Riscos” (favor buscar as gravações em VHS e procurar pelo episódio do jovem viciado em flippers). Fica também a memória (partilhada pelo escriba também) do Professor Sanches de Filosofia e Psicologia (na Miguel Torga).

Anos mais tarde, surge então a força Linda Martini, colectivo que, basta olhar para a sua muito visitada página no MySpace, partiu no começo com uma só ideia e certeza: ”suar e cantar em português”. A sonoridade da banda viu primeira amostra pública numa maqueta posteriormente convertida (com nova masterização) num EP de tiragem limitada. Nesse EP, homónimo, consta, entre outras, uma faixa chamada «Amor Combate» – conhecem? Provavelmente o hino maior da geração MySpace portuguesa (já lá vamos, mais à frente). Já foram dar concertos lá fora (e muito lhes marcou a muito boa recepção nalguns lados), já esgotam salas cá dentro (ninguém esquece a intensa noite na ZDB há uns meses), e aprestam-se para editar, finalmente, o álbum de estreia.

“Olhos de Mongol” vai buscar José Mário Branco (em sample), melódicas, mais guitarras, harmónica, o cantar inevitavelmente em português e as paisagens sonoras pós-rock de traço comum com nomes como Isis, Mogwai ou Explosions In The Sky (se bem que cada membro tenha as suas influências e haja até quem nunca tenha ouvido Mogwai dentro da banda).

Regressemos ao dia 27 de Outubro, apresentação pública, gratuita e livre, de “Olhos de Mongol”. Pelas 19h00, iniciava-se (com relativo atraso), o soundcheck da praxe, tão inevitável quanto fundamental. Chega, pouco depois, o merchandising (umas t-shirts muito jeitosas e uns crachás não menos interessantes) e dá-se como certa a não presença nesta noite, em registo físico, de “Olhos de Mongol”. “Dia 10 de Novembro nas FNACs e, não muito tempo depois, nas restantes lojas”, avança-nos Hélio Sousa, o baterista e, comprovaremos mais de noite, o grande animal de palco dos Linda Martini. “Estes atrasos são complicados, especialmente porque não dependem de nós, mas de questões de fábrica e afins”, afirma o vocalista/guitarrista André Henriques. Em frente.

O soundcheck demora e dois membros ausentam-se por um certo tempo – a culpa é de um pedal problemático a precisar de ser substituído. A coisa lá se desenvolve e a hora de jantar aproxima-se – isto numa altura em que já há fãs à entrada do Santiago Alquimista aguardando a abertura de portas. Indicador nada mau para uma banda ainda sem longa duração de originais no mercado. Tiram-se algumas fotos rapidamente, e abala-se para a refeição pré-concerto.

Janta-se calmamente num restaurante não muito distante do local do concerto. A noite foi de Buba (o central goleador), mas apenas em Aveiro – o jogo Beira-Mar vs. Sporting CP ia sendo espreitado por alguns membros da banda, nem que seja numa tentativa de desviar alguns habituais nervos pré-concerto. Hélio Sousa termina o repasto mais cedo, pois necessita de ir a casa antes do espectáculo. A restante comitiva Linda Martini abala depois de uns bifes (da casa e na pedra) e de um bacalhau para o Santiago Alquimista – onde uma casa já praticamente cheia aguardava pelo início do espectáculo.

Os momentos maiores de entrevista surgem, minutos antes do concerto, na casa-de-banho do backstage do Santiago Alquimista.  Quão mais rock’n’roll poderia isto ser? Os intervenientes maiores são André Henriques e os restantes guitarristas Pedro Geraldes e Sérgio Lemos. O baterista Hélio entra e sai (obrigado a ir buscar uma amiga impedida de entrar na já cheia sala), a baixista Cláudia Guerreiro surge na lotada casa-de-banho na recta final, tão surpreendida pela caricata cena quanto nervosa para a actuação daí a minutos: “Estou assim desde manhã”, assume. Não parecia, visto que a boa disposição reinou durante todo o dia por estes lados, não obstante alguns imprevistos passageiros. Fala-se no concerto desta noite e nos seguintes, festa RdB incluída: “Esta não é a digressão de promoção ao disco”, assume no imediato Sérgio Lemos: “O concerto desta noite e o da festa da RdB são concertos isolados, onde tocaremos obviamente os temas novos mas são espectáculos que não estão ligados entre si enquanto digressão contínua de promoção ao álbum”. Essa digressão mais plana surgirá, avançam os músicos, em começos de 2007. “Mas também, a verdade é esta – o que é fazer uma digressão em Portugal?”, interroga-se sabiamente Hélio Morais.

Falamos depois numa eventual nova cena rock feita em Portugal. Pedro Geraldes refere as ligações que já fizeram entre os Linda Martini e malta mais ligada a netlabels e projectos mais experimentais, coisas na onda de Frango. “A única coincidência é mesmo termos surgido todos no mesmo tempo. A única cena (à falta de melhor termo) onde nos vejo integrados é na ligação que temos com as outras três bandas que gravam nos mesmos estúdios que nós, os If Lucy Fell [com Hélio Morais também na bateria], MEN EATER e Riding Pânico”, confessa o guitarrista.

André Henriques fala depois sobre “Olhos de Mongol” e a forma como a banda vê o disco meses depois de o mesmo ter sido gravado: “Tenho a tendência para ser muito auto-crítico, confesso. Sou o meu maior crítico”. Aborda-se a inclusão de um sample de «FMI», de José Mário Branco, e fica-se a saber que “essa ideia já vinha desde a passagem da maqueta para o EP, mas na altura não foi possível ter as devidas autorizações legais, o que felizmente aconteceu agora”, refere o vocalista/guitarrista dos Linda Martini. Menção também para o MySpace e a forma como ajudou a banda, especialmente em matéria de fãs – e basta olhar para a população presente no concerto para tentar calcular a quantidade de friends que cada um terá na sua página, por entre fotos a mostrar a mais recente aquisição visual (maioritariamente ténis) e uma lista de gostos pessoais e intransmissíveis (ou não tanto assim). Como cantam os Loto – a new generation now?

Faz-se o brinde e grito de guerra e avança-se para o concerto. Uma introdução abre a porta para «Cronófago», já escutado por dez mil ocasiões no, lá está, MySpace da banda. O povo já canta, já bate palmas no momento certo, já toma a canção como sua.

A sala, já se referiu, estava sobrelotada, mas não foi só o factor “borla” que contribuiu para isso – já no acima mencionado concerto na ZDB o mesmo sucedera há alguns meses atrás, e a tudo isto não será alheio um “boca-a-boca” intenso sobre uma banda que, tomando o rock como baliza central, não hesita em flanquear a sua sonoridade por terrenos com algum experimentalismo mais ou menos livre e desprendido de regras. «Amor Combate» assume-se ao vivo como o hino maior da banda e «Efémera», ainda mais poderosa numa experiência em directo, ganha contornos de tema indispensável num qualquer concerto da banda. As novidades convencem: num tema há gritaria quase metal, noutro há a baixista Cláudia a tocar harmónica e noutro ainda vemos Hélio Morais a dar vida a uma melódica. Hélio Morais, o tipo mais violento de sempre (elogio!) a tratar uma bateria? As cãibras no intervalo do concerto e na recta final do mesmo comprovam-no…

No final, Cláudia e Hélio fazem ainda uso dos seus talentos enquanto supostos vendedores e lá conseguem encaminhar para os seus adeptos algumas t-shirts da banda. Pergunta o escriba à baixista: “E como é que vai ser daqui a cinco anos, quando encherem o Pavilhão Atlântico e tiverem dezenas de pessoas a trabalhar para vocês?”. A resposta é directa – “Achas mesmo que isso vai acontecer?”. A contra-resposta é dita de forma tão genuína como desiludida – “Creio que não, mas nunca se sabe”.

Os Linda Martini são a banda escolhida para tocar na festa do terceiro aniversário da RDB, no próximo dia 23 de Novembro no Clube Mercado (às 23:30), uma noite que contará ainda com o dj set da dupla Contra Disco, formada por Rui Maia (X-Wife) e Mário João Camolas  (RDB)  – a entrada custará 5€ com direito a uma bebida branca. É caso para dizer que o chão que eles vão pisar vai ser o de todos nós, isto numa altura em que “Olhos de Mongol” já terá tido edição comercial. Venham celebrar connosco a mais recente certeza do rock made in Portugal.



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