FESTAS DE GARAGEM TEATRO NACIONAL D.MARIA II

Festas de Garagem

Uma Porta semi-fechada

“O inferno somos nós”. Nós, portugueses. Nós, que nos deixamos viver em decadência, com incapacidade de agir nos momentos mais decisivos da nossa existência, pessoal e social. Nós, que ficamos “à porta” quando do outro lado está algo tão importante que queremos alcançar. Assim temos vivido, com a dor de existir.

É sob esta reflexão que Carlos J. Pessoa decidiu celebrar os 25 anos de existência do Teatro da Garagem. No ano em que se completa as bodas de prata deste espaço cultural, o encenador virou-se para o Portugal dos nossos dias e criou um espectáculo que, ao contrário do panorama actual, pretende ser positivo.

O espectáculo conta a história de um grupo de pessoas que tentam entrar numa festa de garagem mas que são proibidas pela porteira. À medida que vão chegando, vão mantendo diálogos sobre os mais diversos temas. O modo como o encenador trabalhou as personagens (e o modo como os actores as representam) trouxe um interesse maior ao texto. Num tom joco-sério, apresenta-nos personagens que correspondem ao imaginário português e que vão partilhando ideias que vão demonstrando quer os seus modo de estar, quer as suas frustrações. A partir daqui multiplicam-se peripécias que dão conta de pontos de vista desconcertantes, amorais e patéticos de uma porteira que é uma artista falhada, um carpinteiro oportunista que vai fazendo uns biscates por fora, um estudante cujo prazer só está em dançar, um Dux, senhor de praxes e de vinho carrascão ou um arquitecto/engenheiro, que só passou para ver o Eusébio. É interessante observar a forma como apresenta estas cinco personagens e como torna o drama numa abordagem cómica, criando com sucesso um espectáculo caricatural

A mensagem de Carlos J. Pessoa não é imediatamente perceptível ao longo dos cinco actos. É preciso estar atento. É preciso ler-se nas entrelinhas e entender a linguagem do artista, a metáfora presente em cada acto e que se entende no acto final. Ter-se focado na adolescência não foi um pormenor. Esta é sempre um processo, um agente de ideais, de esperança e de fé no que está para vir. Como a de, finalmente, conseguir entrar numa festa de garagem.

Produção do Teatro da Garagem, esta peça estará em cena na sala estúdio do Teatro D. Maria II até 11 de Maio, de Quarta a Domingo. Os bilhetes custam entre 1€ e 12€.



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