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Festivais de Músicas do Mundo

De Norte a Sul, os eventos de world music multiplicam-se de ano para ano. O que têm em comum Sines, Aveiro, São Pedro do Sul e Portimão?

Fala-se da grande quantidade de concertos que tem invadido Portugal nos últimos anos. Fala-se da enorme oferta no que a festivais de Verão diz respeito. Mas não se dá a atenção devida à explosão de festivais de world music a que temos assistido nos últimos tempos.

Só de Aveiro são dois, Festim e Sons em Trânsito. Sobram ainda o Festival de Músicas do Mundo de Sines, o Andanças em São Pedro do Sul e o Med, no Algarve. Sintomas de saturação relativamente aos festivais de música mais convencionais? Tendência para a diferença? A globalização? Manuela Pires da Fonseca, representante da Pedexumbo – a promotora do Andanças –, na área de Comunicação Social, começa por lembrar que o festival que representa segue “os mesmos moldes há 14 anos. Mesmo que nessa altura ainda não se falasse no termo world music.” O que terá então mudado, nos últimos anos para as música do mundo estarem na mó de cima? Na opinião de Manuela a subida de popularidade da world music está relacionada com uma simples substituição dos termos utilizados. «As músicas e danças populares não são outra coisa senão world music. O Andanças, por exemplo, surge, porque um grupo de pessoas se apercebe, de repente, que a uniformização de gostos musicais pelos modernos meios de difusão musical, tiveram por consequência a extinção dos tradicionais bailes populares. Nesse sentido, a world music em Portugal deu, sem dúvida, um salto brutal», clarifica. Carlos Seixas, responsável do Festival Músicas do Mundo de Sines refere que «o momento é bom para a música ao vivo. A crise mundial por enquanto não está a afectar esta indústria e o mercado é fértil. Em muitos países não acontece o mesmo. O futuro ditará o fim ou a sobrevivência deste tipo de eventos.»

Nesta altura, o Med, no Algarve, já concluiu a sua sexta edição com nomes como Ojos de Brujo, Bajafondo, Donna Maria, Rokia Traoré, entre outros. No próprio site pode ler-se que «as músicas oriental, árabe, africana, latino-americana ou dos Balcãs são as principais vertentes da “World Music”». Fará sentido circunscrever desta forma este género? O mesmo site contrapõe, «neste contexto cabem ainda estilos mais conhecidos, com claras influências das diferentes culturas ancestrais, como é o caso do reggae, blues, soul ou samba» Não há limites portanto? No Andanças, por exemplo, vai haver muito para além dos concertos. Manuel da Fonseca revela que a edição deste ano vai incluir «centenas de oficinas de diferentes estilos de dança precedidas de oficinas de relaxamento e seguidas de sessões de massagens e os bailes onde se vai praticar o que se aprendeu». Muito mais que a mera concentração de artistas world music.

Optar pela diferença

Com uma tão grande oferta de festivais de músicas do mundo – cinco ao todo – torna-se necessário às organizações demarcarem-se umas das outras. «O forte do Andanças é o programa integrada e não apenas a presença deste ou daquele músico. O que importa é “o que acontece”», refere Manuela da Fonseca. O Festival Músicas do Mundo de Sines também conta com algumas actividades paralelas. Haverão iniciativas como uma exposição de fotografia que relatará o historial do festival, ao longo da década, vários ateliers de crianças com nomes como Carmen Souza, Uxía, Ramiro Musotto e Bibi Tanga, sessões de conversas entre artistas e público, com Dele Sosimi Daara J Family, Chucho Valdês, Debashish Bhattacharya e Chicha Libre, um ciclo de cinema documental e programa de DJ’s. Para Carlos Seixas, o Músicas do Mundo de Sines «desde o seu início que se distingue dos outros pela afirmação como espaço artístico da diversidade de projectos e em ruptura imediata com o conceito que lhe dava nome. Estabeleceu os princípios da sua identidade. Foi conquistando, ao longo dos anos, um espaço que é seu.»

Torna-se cada vez mais óbvio que, para além do vasto programa de concertos, as promotoras tentam destacar-se pela diferença. E isso implica um investimento noutras áreas da cultura.

O Festim também já está a decorrer. Prolonga-se até ao dia 24 de Julho e conta com nomes como Manecas Costa, a Amsterdam Klezmer Band e Kepa Junkera. O conceito é um pouco diferente dos restantes festivais do género. Os concertos propostos estão dispostos por várias cidades, ao longo dos quase dois meses que constituem o evento. A diferença poderá estar precisamente nesse facto já que no site oficial não está disponível informação relativa a qualquer tipo de eventos paralelos aos concertos. O Rua de Baixo tentou contactar a organização tendo em vista esclarecimentos relativamente a este ponto, mas não foi possível.

O cartaz é importante?

Esta «diferenciação» leva-nos a outra questão: Os cartazes apresentados pelas organizações deixaram de ter importância? Manuela da Fonseca não desvaloriza a construção do cartaz, mas refere que «tudo depende da garra de quem faz o baile, mas também do modo como os participantes se deixam agarrar. Este «clique» tanto pode surgir a partir de bandas reconhecidas, como a partir de um ilustre desconhecido. O Andanças vive muito da aposta de novos valores, da expectativa de ser surpreendido.» O Andanças não desvaloriza o cartaz apenas o constrói de forma diferente dos outros festivais. O Festim, por outro lado, faz uma clara aposta no cartaz. É essa a bandeira do festival, um conjunto de músicos vindos dos quatro cantos do planeta para promover o seu espectáculo. E o público do Festim desloca-se ao festival com propósitos bem definidos – ver este ou aquele artista.

É possível então concluir que o que faz uma pessoa viajar vários quilómetros para participar num festival tanto podem ser os concertos como as actividades paralelas. Manuela da Fonseca refere que o «Andanças fez um inquérito que prova que o público do Andanças vai ao festival por mil razões. Uns porque gostam de dançar e querem surpreender-se com novos estilos de dança, outros porque nunca tiveram a oportunidade de dançar e ouviram dizer que ninguém sai do Andanças sem saber dançar, outros porque querem ouvir as bandas que estarão na moda amanhã, outras porque têm filhos e sabem que o festival cuida das crianças, outras porque se preocupam com o ambiente e sabem que no Andanças se implementam iniciativas originais neste campo, outros porque passaram a marcar lá, no festival, uma reunião anual com amigos de outros partes do país e além fronteira.» A globalização outra vez, portanto.

De facto, parece não haver apenas uma razão para os festivais de world music estarem a passar por uma espécie de moda. Uma coisa é certa, a world music mexe como nunca mexeu em Portugal. Estará aqui um verdadeiro negócio? Será este o momento mais prolífero das músicas do mundo em Portugal? A avaliar pelo número de festivais do género, a resposta é afirmativa. Aveiro parece ser um improvável centro do «movimento», mas os festivais de músicas do mundo realizam-se de Norte a Sul. De outro modo não faria sentido.



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