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Festival Iminente 2018 @ Panorâmico de Monsanto (21-23.09.2018)

Ainda bem que não ficámos em casa.

Disseram-nos que era “melhor ficar em casa”. Não querendo saber, decidimos ir.

Este ano trocou-se o jardim à beira mar pela nave-mãe, no meio da floresta. Durante 3 dias, Monsanto foi palco e galeria daquilo que é iminente – o que “está a acontecer ou prestes a acontecer” na música, nas outras artes e até naquilo que não podemos adivinhar.

O atalho até lá, estrada fora, era guiado pelo burburinho que aumentava à medida da subida. Avistavam-se clarões em cor, algo mais ou menos Real, como lembra a obra de Miguel Januário na fachada do Panorâmico. Um palco cá fora, e muita, muita gente à varanda daquele que fora outrora o bingo, discoteca e restaurante da floresta de Lisboa.

Chegamos e abrem-se dois caminhos: um resvalo a esconder o destino e uma rampa até ao edifício. O esqueleto do Panorâmico de Monsanto manteve-se intacto. Imaculado. E como todos os corpos em ruínas, há entradas e saídas que vamos descobrindo sem querer. O Iminente irrompia assim: de circulação sanguínea, portas abertas para todo o lado, à espera de ser (re)descoberto. 

Foi de coração a pulsar que se escutou cada batida e batimento, do rés-do-chão ao telhado. E nesta casa portuguesa coube toda a gente. No Palco Cave, estacionaram-se as vozes do rap crioulo – Vado Más Ki Ás e Landim – do trap tuga, com YUZI, Papillon e uma plateia em ponto de ebulição, os Príncipes do kuduro e afrobeat (DJ NinOo, DJ Nigga Fox, Nídia) e ainda uma espécie de Delorean junto ao bar, regressado de um futuro que ali se adivinhou.

Os cantos da casa foram curados por Vhils (Alexandre Farto),  pela Underdogs, pela Enchufada e a produtora Versus. De cada curador se fez curandeiro, trazendo à baila o seu remédio. Do semba angolano de Bonga ao dabke do ex-animador de casamentos sírio Omar Souleyman, das seguidas homenagens a lendas vivas do hip hop, por Havoc e Dj Maseo, à tempestade tropical dos Dengue Dengue Dengue chegando ao furacão da noite de sexta feira: a visita inesperada de Fatboy Slim a tocar em Primeiro Balcão.

E como festival que cresceu à medida da sua anatomia, em 360º de horizonte, também André Saraiva, Francisco Vidal, ±maismenos±, VSP Crew, Wasted Rita ou Ricardo Jacinto fizeram o cartaz (e os cartazes) das artes plásticas, que se sedimentaram no betão do Panorâmico. Exposições, poesia declamada, um estúdio de tatuagens e até um rosto tatuado na parede interna do edifício (o de Marielle Franco – acérrima defensora dos direitos humanos) deixaram à flor da pele a vontade de regressar à casa que o Iminente tem construído, de corpo e alma.

Texto por Mariana Machado e fotos por André Costa Santos.



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