Festival MED 2023 | Dia 2 (30.06.2023)
Depois do nosso roteiro para o dia inicial nos ter mantido ausentes do Palco Chafariz, a segunda jornada do festival louletano permitiu-nos desfrutar do nosso poiso favorito neste certame.
Começámos por desfrutar ao vivo de um dos trabalhos mais frescos editados em Portugal nos tempos mais recentes. Falamos do álbum de estreia de Bandua, uma joint-venture luso-brasileira que adorna com motivos electrónicos os sons e linguagens mais tradicionais, principalmente extraídos da nossa Beira Baixa. E, em palco, ainda mais integrado num festival, é normal que a parte electrónica se tenha mostrado mais acérrima, sobrepondo-se às ambiências que acabam por ser mais rentáveis nas gravações de estúdio. Com um palco marcado por um adufe gigante, que não é mero ornato, mas ladeado de instrumentos modernos, a dupla demonstra precisamente ao que vem.
Depois de uma pausa para repor baterias, usufruindo das diversas iguarias dispostas pelas curiosas ruas históricas de Loulé, era hora do Palco Chafariz dar as boas-vindas ao mais recente projecto saído do génio de Nicola Conte, baptizado de Umoja (que significa “unidade” em swahili), editado curiosamente na mesma data desta aparição no MED. E, de facto, unidade foi o que o conjunto de músicos que o acompanham evidenciaram, de uma ponta a outra da actuação, com especial menção para a dupla finlandesa Timo Lassy (saxofone) e Teppo Mäkynen (bateria). Não menos tremendo é o facto do compositor italiano ter convocado Zara McFarlane para dar voz às faixas cantadas de “Umoja”, com a sua forte mas sedosa entoação. Nicola Conte Umoja é uma nova manga na travessia que o músico/produtor de Bari faz pelo jazz, que das electrónicas suaves dos registos iniciais evoluiu agora para uma abordagem mais técnica e pura, embora agregando muitos outros temperos.
Seguiam-se os Aywa no Palco Cerca, numa enorme demonstração de fusões efusivas, asindo uma panóplia de instrumentos que exibiam de igual forma as misturas que confeccionam ao longo das suas composições. A energia foi transbordando incessantemente do palco e invadindo os presentes, que se foram rendendo progressivamente à dedicação do colectivo franco-marroquino.
De volta ao Palco Chafariz para assistirmos ao debute do novo espectáculo preparado por Pedro Mafama, que assim deu o tiro de partida para a digressão de «Estava no Abismo Mas Dei um Passo em Frente», o seu segundo LP com edição bem fresquinha. O artista da Graça faz-se acompanhar de duas teclistas, Lana Gasparotti e Sónia Trópicos, que vão fazendo soar as toadas celebratórias e festivas, ao ritmo das marchas e das rumbas portuguesas que marcam indelevelmente este novo disco. E a verdadeira multidão que se encontrava defronte ao Palco Chafariz vibrou de modo assinalável, o que claramente transmite uma nova confiança a Mafama, que certamente respira melhor com as canções mais recentes, menos pessoais e introspectivas, apesar de conterem sempre vivências suas. Pese embora o registo festivo da fatia de leão do concerto, houve obviamente tempo para revisitar temas mais antigos como “Jazigo” ou “Contra a Maré”, que retratam a transição da noite para o dia que Pedro Mafama assinou. Esperamos que toda a crescente atenção, proporcionada pelo sucesso de “Estrada” e “Preço Certo”, possam levar a que mais gente preste igualmente atenção ao que Mafama teceu ardilosamente nos lançamentos prévios.
A noite número dois do MED 2023 culminaria com o brilhante DJ set da dupla canarinha Venga Venga. Já bem conhecidos da capital, pelo menos, Ricardo Don e Denny Azevedo coleccionaram certamente inúmeros seguidores após o espectáculo que ecoaram junto à Matriz de Loulé. A forma como injectam ritmos brasileiros, e latinos em geral, em temas super famosos tornam o baile irresistível e o público sempre ansiando por mais.
Reportagem do dia 29 de Junho aqui e do dia 1 de Julho aqui.
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