Festival MED | Dia 1 (29.06.2023)
Pelo segundo ano consecutivo a Rua de Baixo instalou-se no Algarve para seguir a par e compasso todo o ritmo do Festival MED, cujo cartaz continua literalmente a correr mundo. O dia inaugural era, desde logo, um bom exemplo disso mesmo, abarcando sonoridades que iam desde o Portugal tradicional ao Portugal moderno, viajando ainda pelas Caraíbas ou o continente africano.
O Palco Cerca abriu portas com a actuação sempre portentosa e confiante de Sara Correia, num espírito ainda mais compreensível quando se é sustentado por um grupo de músicos de excelência, que também tiveram logicamente tempo para nos presentear com alguns momentos instrumentais. Sempre com o perfume das casas de fado lisboetas a correr-lhe pelas veias, Sara Correia foi deliciando a plateia, num concerto que contava com muitos lugares sentados onde se encontravam pessoas de idade mais avançada que não quiseram perder a abertura deste evento internacional.
Na primeira deslocação ao Palco Matriz reencontrámos uma dupla sobejamente conhecida e acarinhada pelo público nacional destas andanças das músicas tradicionais: Amadou & Mariam. A dupla de Bamako deliciou-nos novamente com a sua irresistível mistura entre doçura e psicadelismo, numa performance onde a guitarra eléctrica de Amadou se mostrou especialmente irrequieta, para gáudio dos mais rockeiros. Merece igualmente destaque o labor do teclista da banda que os acompanhou, que foi marcando as ondas rítmicas, sempre com um sorriso na face de todos os intervenientes, que obviamente contaminou também a massa de espectadores.
De volta ao palco localizado na belíssima Cerca do Convento Espírito Santo assistimos à continuação da digressão do álbum homónimo do Club Makumba, indubitavelmente um dos trabalhos mais refrescantes e interessantes do panorama musical português no ano transacto. As águas do Mediterrâneo vão-se agitando e acalmando consoante ditam essencialmente o saxofone e a bateria, com baixo e guitarras a adicionarem densidade e força às linhas mestras. Houve ainda tempo para finalizar com uma nova composição, que não pertence ao disco de estreia, e que contou na versão ao vivo com o baixo de João São Payo como cereja no topo do bolo.
Horace Andy era o senhor que se seguia, fazendo-nos regressar à Matriz, para nos deliciarmos com o seu reggae bem musculado, que transporta aquele seu timbre inconfundível, nunca removendo o sorriso do gosto como quem faz aquilo que ama. Soará a cliché, mas é absolutamente impossível permanecer imóvel quando somos expostos a música deste género, tocada ao mais alto nível, ainda para mais beneficiando de uma qualidade de som do melhor que se escutou no festival.
Finalizámos o primeiro dia de cartaz ao som do set bem diverso e divertido que Nuno Galopim preparou para fazer ribombar em Loulé, indo desde o costumeiro “Seven Nation Army”, repescando um imparável “I Fink U Freeky” dos Die Antwoord, e assinalando o momento alto com um altamente inesperado “Atlas” dos inadjectiváveis Battles.
Foi um sólido tiro de partida para o MED 2023.
Reportagem do dia 30 de Junho aqui e 1 de Julho aqui.
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