Festival MED – dia 1 (30.06.2022)
Na pretérita quinta-feira foi dia de celebrar o regresso do Festival MED ao seu figurino normal, sacudindo todas as limitações e preocupações maiores causadas pela pandemia. Assentando arraiais na zona história de Loulé, tabelada entre o vistoso Mercado Municipal e o castelo, o festival escorre por todas as ruas e vielas que ali se encontram, seja com os palcos principais ou secundários do certame, ou com as mais diversas mostras comerciais, que vão do artesanato aos omnipresentes comes e bebes.
O entusiasmo e a boa disposição eram evidentes nas caras que íamos encontrando nas deslocações entre concertos, sendo que a primeira experiência musical ocorreu no Palco Matriz, oferecida pela Re:Imaginar Banda Monte Cara. O projecto, que se dedica a assinalar e revisitar o marco da cultura africana em Lisboa fundado pelo mítico Bana, foi desfilando as correntes musicais mais célebres de Cabo Verde, alicerçando-se na veterania da maioria dos seus elementos, comandados pelo mestre de cerimónias Toy Vieira. Escusado será dizer que as ancas da massa humana à boca do Palco Matriz não resistiram aos ritmos viciantes do funaná, das mornas e das coladeiras.
Entre um palco e outro, fomos surpreendidos ao encontrar Rodrigo Leão no Palco Castelo. O compositor foi escalonado à última hora para substituir Nancy Vieira, que por motivos de saúde se viu forçada a cancelar a ida a Loulé. Acompanhado por um quarteto, munido de violoncelo, violino, teclas e percussão, Rodrigo Leão foi intercalando entre as suas composições neo-clássicas e outros momentos mais cinematográficos, num registo bastante adequado para o palco em questão.
Entretanto, chegados ao Palco Cerca encontramos Gyedu-Blay & His Sekondi Band em autêntica ebulição, emanando em todo o esplendor todo o seu high-life e o funk, bem característico de muitos colectivos ganeses. Sob a égide do mestre Gyedu-Blay (muitas vezes apelidado de James Brown do Gana), o sexteto de músicos que o acompanhava parecia discutir acesamente com o público o título de grupo mais animado da noite, sendo inquestionável que ambas as facções deglutiam forma prazenteira o concerto.
E foi na nossa primeira deslocação ao Palco Chafariz, que acabaria por se mostrar a posteriori o nosso local favorito do Festival MED, que assistimos à actuação mais carismática e potente da noite inaugural, assinada pelos Jupiter & Okwess. É notável a intensidade que o grupo vindo da República Democrática do Congo injecta em todas as suas canções, desde as mais frenéticas às mais (aparentemente) serenas, sendo que nenhuma se livra da latente inquietação. A banda capitaneada por Jupiter Bonkodji é indubitavelmente um passo à frente no cenário musical do continente africano, não se cingindo à revisitação das raízes, mas pegando nas mesmas para produzir e refrescar os terrenos tão férteis onde vivem.
Para encerrar uma primeira aventura no Festival MED, bem recheada, assistimos e dançámos com os refrescantes sons transmitidos pelas marimbas turbinadas e os sintetizadores exóticos de Magupi, que se apresentou para suprir os Shkoon que se viram impossibilitados de marcar presença no Palco Matriz. Foi uma viagem a alta velocidade, durante a qual nunca enjoámos, graças à criatividade do artista em palco, que nos continuamente presenteando diferentes cenários nos quais continuávamos a exercitar os nossos movimentos de dança mais inspirados e adequados à situação.
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