Festival Músicas do Mundo | Sábado, 28 de Julho de 2012
Altos e baixos
O último dia de um festival traz sempre um misto de sentimentos. Por um lado, o descanso vai saber bem – o nosso próprio corpo trata de nos fazer entender isso – por outro, lembramo-nos que vamos ter de esperar pelo próximo ano para repetir a dose. Assim, o melhor que temos mesmo a fazer nestas situações é tirar o máximo partido do dia. Dito e feito.
Sem o saber, a Orquestra Todos conseguiu imiscuir no conceito que teve na base da sua origem, no Festival Todos – Caminhada de Culturas no Intendente, um sentimento de comunhão e partilha entre as mais variadas culturas, algo que é também uma parte indissociável do Festival Músicas do Mundo (FMM): a partilha musical intercultural e até mesmo intercontinental. Em palco estiveram músicos de mais de dez nacionalidades que mostraram um pouco de si próprios e de uma Lisboa moderna e europeia mas também indiana, e africana, e sul-americana. Mais um final de tarde agradável no Castelo.
Hugh Masekela é figura de proa do jazz sul-africano e até ao dia 28 de Julho seria desconhecido de quase todos os que marcaram presença no Castelo de Sines. Acreditem que depois daquele concerto isso mudou. Encheu o palco. Encheu-nos os corações e o espírito. Com a sua juventude; ele, que lá do alto dos seus 73 anos(!) não parou por um segundo, sempre a dançar como se não houvesse amanhã, a cantar e a conversar. O activismo político e social está nos genes de muitos artistas africanos. Cada concerto é uma oportunidade de ouro para ser escutado e Masekela, sempre com o Soweto (uma área urbana da África do Sul, junto de Joanesburgo) em mente e no coração (porque não dizê-lo), sabe-o. O momento alto terá sido a interpretação de «Stimela (Coaltrain)», canção que aborda a vida dos mineiros na África do Sul. Um concerto maravilhoso, daqueles que nos fazem sentir a alma cheia!
Tony Allen’s “Black Series” feat. Amp Fiddler. Não há muito a dizer aqui. Foi aborrecido. Monótono. Repetitivo. E nem Amp Fiddler conseguiu acrescentar algo de novo à música de Tony Allen. A glória será eterna mas os tempos áureos já vão longe.
O fecho do palco do Castelo, na edição de 2012 do FMM, ficou a cargo dos congoleses Jupiter & Okwess International, que, sem deslumbrar em demasia, cumpriram na perfeição aquilo que se esperava deles. Colocaram toda a gente a dançar e a fazer a festa ao som de um groove made in Congo! Pelo meio houve o já tradicional fogo de artificio, que nos voltou a lembrar que estava quase a terminar mais um FMM.
O derradeiro concerto do FMM tinha tudo para ser memorável. Lirinha já tinha pisado o palco do Castelo há alguns anos, como vocalista dos brasileiros Cordel de Fogo Encantado, naquele que foi um dos concertos memoráveis do FMM. Agora regressava em nome próprio, para mostrar “Lira”. Foi para esquecer. Um tiro ao lado, ou uma rajada de metralhadora nos pés se preferirem… Se musicalmente o concerto teve, em determinadas alturas, alguns motivos de interesse, liricamente revelou-se um desastre completo. No final ficámos na dúvida se tínhamos estado num concerto ou a ouvir um sermão…
Para o ano há mais. Esperamos apenas que o palco da Avenida volte ao seu devido lugar e que, porque não dizê-lo, haja uma maior ponderação nas escolhas para os concertos de encerramento de noite, na praia. Tão importante quanto saber escolher as bandas que integram um cartaz (e ali sabem-no!), é saber também qual o momento certo para as colocar em palco.
Mas sabem que mais? Já sentimos saudades do FMM…
Fotografia por Mário Pires.
Reportagens dos restantes dias do Festival Músicas do Mundo 2012: 20 de Julho; 21 de Julho; 25 de Julho; 26 de Julho; 27 de Julho.
There are no comments
Add yoursTem de iniciar a sessão para publicar um comentário.
Artigos Relacionados