Festival Músicas do Mundo | Sexta-feira, 27 de Julho de 2012
Quase
Os finais de tarde no Castelo de Sines durante o Festival Músicas do Mundo (FMM) foram sempre agradáveis. É o cenário perfeito para aproveitar os últimos raios de sol do dia, enquanto se bebe uma cerveja e se vê um concerto. A combinação perfeita.
Sexta-feira foi a vez dos Diabo a Sete, colectivo português, nos mostrarem a riqueza da nossa música tradicional, com a presença inesperada de Carlos Guerreiro dos Gaiteiros de Lisboa em dois temas, ele, que também marca presença no último álbum da banda, “TarAra”. Um concerto agradável e descontraído, e perfeito para aquele momento.
O primeiro concerto da noite trouxe ao palco do Castelo o Dhafer Youseef Quartet, do tunisino Dhafer Youssef, que nos ofereceu o melhor concerto da noite. Um quarteto quase “normal”, não fosse o alaúde tocado por Youssef e que acaba por ser uma tremenda mais-valia pelas sonoridades árabes que traz às suas composições de índole jazzística. Digna de registo foi também a sua voz, que surpreendeu tudo e todos pela sua versatilidade e alcance, alternando com uma facilidade impressionante entre registos graves e agudos. Foi um concerto de jazz pleno de irreverência e que conseguiu contagiar o público que começou a encher o Castelo aos poucos.
Mari Boine é uma figura ímpar, xamã e embaixadora do povo Sami (que vive no território norte de Países como a Suécia, Noruega e a Finlândia). As suas canções falam de espíritos, da natureza e do seu povo, tudo assente sobre folk, com uma percussão constante, que parece querer conduzirmos para um estado de transe, que acabou por nunca ser atingido. O primeiro “quase” da noite.
Como banda de rock alternativo, os belgas Zita Swoon são bem conhecidos por cá, até pela forma como a sua história se cruza com a dos dEUS de Tom Barman, daí que esta sua incursão pela música africana com músicos do Burkina Faso despertasse alguma curiosidade. Infelizmente foi uma desilusão ver os Zita Swoon Group. Confesso que pensei e reescrevi esta frase algumas vezes e, no final, acabei por optar por esta abordagem mais directa. Foi uma desilusão porque a fusão a que se propunham pura e simplesmente nunca teve lugar. As sonoridades de rock alternativo praticadas pelos Zita Swoon fizeram-se sempre escutar mais alto, relegando a influência africana para um plano demasiado secundário, mesmo alternando entre as letras cantadas em Inglês e língua Mandinga Dioula (falada no Burkina Faso e na Costa do Marfim). O segundo “quase” da noite.
Se fosse supersticioso, diria que a nova localização do palco da praia, localizado atrás do Pontal, trouxe um mau olhado à edição de 2012 do FMM na Avenida Vasco da Gama, com os Dubiosa Kolektiv, da noite anterior, a serem a excepção que confirma a regra. Os JuJu – Justin Adams do Reino Unido e Juideh Camara da Gâmbia – traziam mais uma proposta de fusão entre Europa e África; rock (ou não seja Adams guitarrista de Robert Plant, que ultimamente se tem aventurado na música do mundo – assusta como se consegue meter assim toda a música que é feita nas várias regiões do mundo em duas palavrinhas simples… não devia ser assim…) e o ritti (um violino de uma corda) do griot Camara, ou contador de histórias, se preferirem. A premissa era interessante, já a concretização ficou aquém do esperado. Sejamos honestos. Na praia espera-se ritmo. Alegria contagiante. Uma desculpa para dançar, dançar até cair para o lado. Não houve disso em doses suficientes, infelizmente. O terceiro e último “quase” da noite.
Fotografia por Mário Pires
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