Festival para Gente Sentada

Corpos sentados, mentes inquietas. Dias 24 e 25 de Novembro, em Santa Maria da Feira.

É o mais peculiar festival de Portugal. Pelo menos o prémio para título mais original já ninguém lhe tira. O Festival Para Gente Sentada, que se realiza este ano pela terceira vez, é já uma referência obrigatória na agenda do melómano nacional mais exigente.

Mais do que uma alternativa aos comuns festivais de Verão, o Festival Para Gente Sentada preenche uma importante lacuna que existe no mercado de oferta nacional, ao ser direccionado para um público mais específico e afastando-se da comum tendência de apelar às massas, através de uma aposta num universo musical muito característico, como é o dos vulgarmente chamados cantautores.

Cantautores foi a palavra ultimamente convencionada para apelidar os artistas a solo, aproveitando a vitalidade recente que o folk conheceu, principalmente graças ao contributo de Devendra Banhart (que, curiosamente, passou pela edição de estreia deste Festival Para Gente Sentada). Assim, por Santa Maria da Feira, simpática localidade que acolhe o festival, têm passado alguns dos mais conceituados intérpretes, letristas e compositores da actualidade, como Sufjan Stevens, Patrick Wolfe ou Damien Jurado.

A terceira edição do Festival Para Gente Sentada está marcada para os próximos dias 24 e 25 de Novembro, no Cine-Teatro António Lamoso, em Santa Maria da Feira, com bilhetes que custam 15 euros (um dia) e 20 euros (dois dias), em regime de venda antecipada (se os comprar no próprio dia, os preços serão de 18 e 25 euros, respectivamente). De momento, apenas se conhecem os primeiros nomes que compõem o cartaz. A Rua de Baixo irá acompanhar o desenvolvimento do festival através deste artigo estilo-work-in-progress, efectuando actualizações sempre que se justificar. Por isso, mantenham-se atentos.

OS ARTISTAS DE DIA 24

Fink

João Carvalho, um dos nomes por detrás da organização do festival, garantiu há bem pouco tempo que a edição deste ano do Festival Para Gente Sentada teria, e passo a citar, “o melhor cartaz de sempre”. Exagero ou não, o que é certo é que para ser o melhor de sempre não poderia faltar o nome de Fink no alinhamento, ou não fosse este o primeiro cantautor de sempre a assinar pela editora Ninja Tune.

Nascido em Inglaterra, Fink é o nome artístico de Finian Greenhall, um dos mais importantes cantautores da música electrónica, geralmente colado ao trip-hop e ao lounge. A sua paixão pela guitarra e pela música electrónica traduziu-se no disco “Fresh Produce”, em 2000, após um par de EPs que chamaram a atenção do grande público.

A vertente eclética de Fink, que deambula com relativa facilidade do trip-hop ao funk, (e que desde início lhe valeram comparações com Johnny Lee Hooker ou James Brown(!)), sempre foram o seu maior trunfo e o músico inglês valeu-se desse talento multifacetado para encetar uma mutação em direcção ao universo folk mais acústico, que se consolidou no seu último registo de originais, intitulado “Biscuits For Breakfast”.

Certamente, será este último que servirá de cartão de visita à passagem de Fink por Santa Maria da Feira.

CDS & VINIL

Stuart Robertson

Não será a estreia absoluta de Stuart Robertson em solo português; já este ano, o pianista inglês percorreu o país com uma séria de showcases nas lojas FNAC. Merecidamente, o Festival Para Gente Sentada volta a chamar Stuart Robertson para uma actuação condizente com o seu valor.

Stuart Robertson é daqueles músicos que mostra ao mundo que basta uma pinga de talento para fazer boa música. Uma boa voz, um domínio sobre o piano de excepção e eis “The Furthest Shelter”, o seu disco de estreia, que demorou dois anos a ser gravado, em constante deambulação entre a sua Inglaterra natal e os Estados Unidos da América.

Apesar do universo jazzy muito semelhante, Stuart Robertson destaca-se dos outros pianistas, não só devido a um domínio harmonioso sobre o piano e uma voz fantástica, mas pela sua capacidade compositora e, especialmente, a sua vertente letrista, debruçando-se sobre os temas da actualidade que marcam a nova geração folk.

Despojado dos (poucos) arranjos de cordas que complementam o seu álbum, Stuart Robertson certamente dará em Santa Maria da Feira um dos concertos mais intensos do festival.

Adam Green

Adam Green continua ainda a ser conhecido como um dos responsáveis dos Moldy Peaches, mas já não faltará muito para que atinja o reconhecimento geral a nível individual, desde que em 2002 encetou uma profícua carreira a solo.

O seu percurso tem demonstrado todo o seu talento de como evolui de um álbum para o outro, saltando de estilos e influências de forma sólida e justificada. O universo musical de Adam Green é uma fusão sofisticada do power-pop e do indie-rock com o folk, cantando sobre tudo o que lhe vem à cabeça, próprio dos impulsos juvenis, numa capacidade letrista ácida, satírica e até desnecessária, por vezes.

Depois de três álbuns de originais – “Garfield”, “Friends Of Mine” e “Gemstones” –, Adam Green lançou este ano “Jacket Full Of Danger, que é já a sua obra-prima. Com uma voz inconfundível de barítono, Adam Green mascara-se de Frank Sinatra e de Leonard Cohen aperfeiçoando e afinando a sua máquina musical até à perfeição.

O seu concerto em Santa Maria da Feira será para corpos sentados, é certo, mas as mentes ficarão, irremediavelmente, inquietas.

(no dia seguinte, Adam Green tocará ainda em Lisboa, numa data extra agendada para o Club Lua)

OS ARTISTAS DE DIA 25

Sparklehorse

Depois de um percurso pelo indie-rock nos anos 80 (em bandas como os Johnson Family), o compositor norte-americano Mark Linkous formou, em 1995, os Sparklehorse, de onde se aproximava mais das suas raízes lo-fi.

Logo com o álbum de estreia, originalmente intitulado “Vivadixiesubmarinetransmissionplot”, a banda conseguiu o pouco habitual feito de se intrometer no horário nobre das rádios, com o single «Someday I Will Treat You Good».

Mark Linkous conta já com uma carreira assinalável no mundo da música. Para além do sucesso com os Sparklehorse, Linkous colabora habitualmente com algumas das mais prestigiadas estrelas internacionais (PJ Harvey ou, recentemente, Tom Waits), já compôs bandas-sonoras (do filme “Laurel Canyon), para além de também ocupar a cadeira de produtor por algumas vezes (produzindo, inclusive, o último álbum de Daniel Johnston, “Fear Yourself”). Para além disto tudo, Linkous também já esteve às portas da morte quando, em 1996, antes de um concerto em Londres, uma mistura de anti-depressivos e Valium o atiraram para o hospital durante vários mese, qual estrela rock. Esse acidente resultou na inspiração para o  álbum de 1998, “Good Morning Spider”.

Para o Festival Para Gente Sentada o mote será “Dreamt For Light Years In The Belly of a Mountain”, álbum que contou com a produção de David Friedman (que já colaborou com os Flaming Lips e Mercury Ver) e de Danger Mouse.



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