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Festival Ritek Paredes de Coura 2011, dia 18

Passear no rio, amar e ser feliz.

O Festival Paredes de Coura proporciona momentos mágicos. Arrisco a dizer que se trata mesmo de um dos melhores festivais portugueses em termos de gestão do espaço e pela forma como conflui com a natureza. Temos ar puro, sombras, um rio bem tratado (note-se que este ano ninguém falou das famosas salmonelas que em anos anteriores manifestaram o seu aparecimento) e pequenas quedas de água. Durante a tarde eram muitos os campistas que, com as suas guitarras, megafones, colchões e bóias, decidiram mergulhar e cantarolar nas margens do Tabuão. Entre os demais, encontramos alguns elementos dos Blonde Redhead a banhar-se no rio e a deambular pela sala de imprensa vimos George Lewis Jr. líder dos Twin Shadow. Infelizmente não foi possível realizar a entrevista, mas podemos afirmar que conseguiu agarrar a atenção de todos por onde passava pela sua simpatia e simplicidade.

Mas vamos ao que interessa: à reportagem detalhada dos concertos. O primeiro concerto do dia estava marcado para as 18h00 no Palco 2 com os Murdering Tripping Blues, que entrevistámos recentemente. Pontualmente, o trio composto pelos alter-ego Henry Leone Johnson, Johny Dynamite e Mallory Left Eye, que exibiu maravilhosamente bem a sua gravidez, subiram ao palco para apresentar o seu mais recente disco “Share The Fire”, reeditado recentemente. O poder estridente da guitarra confluía com o som poderoso da bateria e das teclas. A música surgia naturalmente e com forte carga emocional transmitida pelo à-vontade da banda e a química que têm entre si. Energia é algo que está intrínseco nas veias e os Murdering Tripping Blues souberam entregar de forma explosiva toda essa energia durante a sua actuação.

A correr, instalámo-nos numa das colinas naturais, onde nos sentamos a assistir ao primeiro concerto do Palco Ritek. A abertura coube aos nova-iorquinos Crystal Stilts que, pela primeira vez em Portugal e para a hora a que estava agendada o concerto, conseguiram mover uma pequena multidão de espectadores. A banda liderada por Brad Hargett tocou durante 40 minutos e ao longo da sua actuação contam-se pelos dedos de uma mão as vezes que se dirigiu ao público. A sua presença em palco também não ajudou a cativar mais público, embora tenha agradecido o facto de terem sido convidados a tocar no certame e de a cerveja portuguesa ser francamente boa. Na bagagem, os Crystal Stilts trouxeram o último álbum “In Love With Oblivion” onde se destacaram os temas «Flying Into the Sun» e «Through the Floor».

Também vindos de Brooklyn, de onde são originários os Crystal Stilts, o quinteto Here We Go Magic subiu ao palco secundário onde já várias centenas de pessoas compunham o recinto. O guarda-roupa que apresentava era no mínimo cómico pois não tinha nada em comum com os diferentes membros da banda. Luke Temple, vocalista, surge de camisa de estampado tropical, enquanto Jen Turner e Kristina Lieberson, elementos femininos da banda, mostram alguma sensualidade e dão um ar de graça ao colectivo. Os Here We Go Magic não são um nome sonante no panorama musical, mas na sua pequena carreira já estiveram em digressão com Grizzly Bear. Para o festival trouxeram na bagagem o álbum homónimo e o mais recente disco “Pigeons”, do qual se destacam as canções «Surprise», «Land of Feeling» e «Herbie I Love You, Now I Know», cujas letras estão na ponta da língua dos demais admiradores que permaneceram na fila da frente.

Outro nome que se fez ouvir durante o primeiro dia oficial foi o de George Lewis Jr., o senhor Twin Shadow. De pé a admirar o seu concerto encontrámos Brad Hargett da banda Crystal Stilts, curiosamente com mais uma lata de cerveja na mão para combater o calor que se fazia sentir no recinto. Com um estilo de se tirar o chapéu, e com os restantes elementos igualmente bem vestidos, e uma presença bastante simples e de cumplicidade, George Lewis Jr. atraiu uma imensidão de espectadores que entoavam as suas canções. O cantor oriundo da República Dominicana esteve em Portugal pela terceira vez, apresentou o único álbum intitulado “Forget”, lançado no ano passado. Com as músicas «When We’re Dancing» e «At My Heels», Twin Shadow arranca aplausos e sorrisos de uma plateia que aparenta seguir, e bem, o trabalho artístico do cantor. «Slow» e «Castles in the Snow» foram outras das canções que marcaram este concerto.

No início do concerto ouvimos um tímido “Olá, nós somos os Twin Shadow” e a interacção com o público era quase uma constante. “Penso que temos tempo para uma última canção. Pediram-nos e nós vamos tocá-la só para vocês” disse o vocalista, deixando o público rendido a «Tether Beat», que encerrou o espectáculo e ainda teve tempo para deixar mil “obrigado” a todos os presentes. Se ficaste curioso, os Twin Shadow regressam ao nosso país no dia 1 de Setembro para um concerto no Clube Ferroviário, em Lisboa.

No Palco 2 uma novidade para alguns, mas não uma estreia. O projecto WE TRUST que se estreou no festival Milhões de Festa marcou presença em Paredes de Coura para apresentar o seu álbum a ser lançado para o mercado brevemente, segundo o mentor da banda, André Tentugal. Mas o colectivo não é composto só pelo realizador. Fazem parte também os músicos Gil Amado, Rui Maia, Nuno Sarafa, João André e Sérgio Freitas que são igualmente conhecidos de outros projectos musicais. À espera dos WE TRUST estava uma plateia bastante composta e todos à espera do êxito «Time (Better Not Stop)» que não faltou no seu reportório. Foi uma das surpresas da noite no palco 2 e as expectativas que existiam, foram largamente superadas. Não é que André Tentugal seja um grande génio em termos musicais, mas conseguiu elaborar melodias simples e que ficam no ouvido. O tema mais aplaudido foi o já mencionado single e que, mesmo tendo começado a cantar o tema seguinte, o público continuava a cantar o refrão de «Better Not Stop» repetidamente. Ao longe conseguia-se ler um cartaz que dizia “WE TRUST in you… André” o que mostra que este projecto tem seguidores acérrimos. Ficamos à espera de mais concertos ao vivo.

Com a fome a aparecer e a necessitarmos de um pequeno descanso, pegámos nos alimentos e sentámo-nos para escutar o quarteto feminino Warpaint. Vindas da terra dos anjos – Los Angeles -, as Warpaint trouxeram apenas o seu único álbum “The Fool”. Toda a presença em palco é irmãmente dividida entre as quatro jovens – Stella encantava com os seus toques na bateria, Emily, Theresa e Jenne Lee vão cantando alternadamente, criando vários estilos dentro de um dream-pop e um indie-rock que capta a atenção dos inúmeros espectadores que ali se encontravam sentados descontraidamente a assistir. Quanto às músicas, escutamos (entre outras) as canções «Undertow», «Stars» e, para terminar, «Elephant», que fez com que todos dançassem até não poderem mais. De modo ingénuo e peculiar, elogiam o público com a frase “Vocês são tão sexy!” que é retribuído com um forte aplauso.

Andar de um lado para o outro, dividindo o tempo entre os dois palcos, fez-nos ver a quantidade de festivaleiros que se encontram no recinto. Enquanto se dividem entre actuações, outros tentam a sua sorte para que lhes saia um DVD ou um chapéu de palha na banca do Jornal de Notícias. Outros dividiam-se entre o stand da Antena 3 e o Renault 4 L que publicitava o Cartão Jovem. Também havia representantes da Amnistia Internacional distribuindo alguns brindes.

Quando damos conta já são horas do concerto do trio britânico Esben and the Witch. Mais um grupo a pisar pela primeira vez o solo nacional e a ser recebido quase em ombros por um público bastante atento à sua actuação. Apenas com um disco para apresentar, de nome “Violet Cries”, ninguém acabou por chorar de tristeza, muito pelo contrário. “É a nossa primeira vez em Portugal. Obrigado por nos dispensarem o vosso tempo” anunciou a Rachel Davies, vocalista e baterista da banda. Entre gemidos que fizeram recordar a voz de Karen O (líder dos Yeah Yeah Yeahs) e sons estridentes de uma guitarra, Rachel Davies deu um concerto poderoso apresentando as canções «Argyria», «Chorea» e a reconhecidíssima «Marching Song». Interagindo bastante com o público, notava-se que havia uma grande empatia com o mesmo, exibindo a sua garra e mostrando o seu lado super-star-rockeira desfilando pelo palco com um blusão dos Iron Maiden. Resultado final: Esben and the Witch saíram vitoriosos encerrando os concertos do Palco 2 com um estridente aplauso.

O tempo passa a correr e quando olhámos para o relógio já estava na hora de os Blonde Redhead subirem para o palco principal. À espera do colectivo que vive em Nova Iorque, mas que tem influência italiana e japonesa (esta última por parte da vocalista), está uma imensidão de gente que aguardava a actuação sonante dos britânicos Pulp. Mas já lá vamos.

Blonde Redhead surgem impecavelmente bem vestidos e com um cenário minimalista, mas que salta à vista de todos com lâmpadas agarradas aos instrumentos que, reflectidas numa tela branca, provocavam efeitos bastante elegantes e finos, adequados à sua presença em palco. A vocalista Kazu Makino utiliza o seu longo cabelo comprido para se “esconder”, mas ao mesmo tempo para perpetuar uma actuação carregada de sensualidade pura ao ritmo de uma sonoridade carregada de melancolia. O trio norte-americano tocou entre os demais temas «Spring and by Summer Fall», «In Particular» e «Misery Is a Butterfly». A sua performance foi uma alegria para muitos que ficaram surpreendidos pela positiva e a actuação ficou por fim marcada pelos múltiplos e quase inaudíveis “Obrigado”.

Depois do compasso de espera, eis que surge, através de um pano, um jogo de luzes lazer que, ora em Português, ora em Inglês, perguntava se o público estava preparado para o concerto ou se queríamos uma bebida. Mais insólito ainda foi questionar se queríamos ver um golfinho e apresentarem uma animação do mesmo. Posto isto, que ainda arrancou valentes gargalhadas do público, eis que entra em palco Jarvis Cocker, o ícone da banda Pulp, que deambula sob um corpo esguio e um visual saído dos anos 80.

Os Pulp são e serão eternamente na história da música uma banda divertida e inteligente e que utiliza este dois adjectivos de uma forma perfeita. Jarvis Cocker é um entertainer e um gentleman. Mesmo estando o grupo oficialmente separado desde 2002, este ano decidiram reunir-se e integrar alguns festivais europeus, como foi, por exemplo, o caso do Primavera Sound em Barcelona.

«Do You Remember The First Time?» foi a música escolhida para abrir o concerto e que desde o primeiro acorde movimentou os corpos de todos os presentes que efusivamente saltavam e cantavam. E o desfile de êxitos continuou: «Razzmatazz», «Sorted For E’s and Whizz», «Pencil Skirt», «Disco 2000» e «Something Changed». O que faz com que bandas como os Pulp nunca “acabem” é a energia que transmitem e que o público sempre quer ver repetidamente. Jarvis Cocker foi a estrela da noite ao tentar falar português, mas sem se perceber o que pronunciou. Também meteu conversa com o dono do Piruças (o cão amarelo de borracha que deseja fervorosamente ser a mascote do festival e que tem um grande número de seguidores no Facebook) e até pronunciar o seu nome, mas mais uma vez sem efeito.

«Common People» e «Little Girl With Blue Eyes?» foram as músicas perfeitas para dar como concluído o espectáculo que não teve direito a encore, mas que ficará na memória. Foi um espectáculo que aqueceu a alma, o espírito e o corpo que já mostrava sinais de cansaço e de felicidade imensa.

Sendo um festival, música foi algo que não faltou pela noite dentro. E a caminho do campismo, ainda ouvíamos algumas pessoas a cantarolar e a permanecer no recinto para dançarem freneticamente.



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