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Festival Ritek Paredes de Coura 2011

"Estamos todos proibidos de adormecer"

Mal chegámos ao recinto do festival Paredes de Coura apercebemo-nos de que não sobrava um bocadinho de terra para montar mais uma tenda. As cores mortas entre azuis e amarelos, vermelhos e verdes das inúmeras tendas e os pulsos cheios de pulseiras das edições anteriores de algumas pessoas com quem nos cruzámos, garantem-nos que muitos são repetentes por estas andanças e que este é de facto um festival de culto. A romaria até Paredes de Coura começou no passado dia 13 de Agosto dando oportunidade aos festivaleiros de terem uma semana de descanso no meio da natureza, tendo o Rio Tabuão logo ali ao lado para dias e dias de mergulhos.

Entretanto, na sala de imprensa, verificamos que os norte-americanos Foster The People cancelaram o concerto que estava agendado para o dia 20 de Agosto no Palco Ritek. Em substituição ficou agendada a actuação da cantora Maika Makovski. Outra alteração foi também a do grupo Jamaica, sendo substituídos pelos Summer Camp que actuariam no dia 19 de Agosto no Palco 2.

Neste dia zero, ou de recepção oficial ao campista, o Palco 2 mudou de nome para Palco After Hours e, de facto, o que não faltou foram horas de pura diversão e contraste de estilos musicais. Para o aquecimento inicial, coube aos portugueses Quarteto de Bolso abrirem as hostilidades. A banda, cujo nome leva ao engano – são um sexteto e não um quarteto – conseguiu e muito bem animar todos os presentes. Apenas com um EP lançado no mercado, o Quarteto de Bolso brilhou com a sua actuação bastante efusiva, dinâmica e festiva, combinando com as imagens de animação que eram transmitidas em pano de fundo e alteradas conforme as músicas. Toda a musicalidade entre o jazz e o funk funcionaram às mil maravilhas e a dança criada pelos presentes era contagiante. Uma autêntica farra (no bom sentido).

Se durante 40 minutos os Quarteto de Bolso conseguiram atrair um número significativo de pessoas, o cantor que se seguiu conseguiu atrair ainda mais fazendo com que se tornasse difícil a deslocação pelo recinto. Omar Souleyman surge em palco apresentado por um homem contratado para o efeito, de túnica branca, turbante vermelho, um bigode de meter inveja a todos os homens de tão bem aparado que estava, óculos de sol e um relógio dourado que ofuscava. A figura do próprio Omar é só por si motivo de admiração: baixo e magro e com um estilo de magnata do petróleo. Contudo é uma estrela pop na Síria, o seu país de origem: começou por tocar em casamentos e de repente tornou-se um fenómeno de popularidade, tendo já colaborado com grandes nomes da música internacional, como é o caso da cantora islandesa Bjork. Acompanhado por um teclista que também remisturava a base de melodias pré-gravadas, Omar Souleyman encantou logo desde o princípio com os seus ritmos orientais de base techno onde só faltaram as bailarinas e os cachimbos de água, pois a atmosfera criada pelo cantor transportava qualquer um para uma mega festa típica de filme. A comunicação e as letras em árabe não foram uma barreira para ninguém, muito pelo contrário. Os espectadores entoavam o nome de Omar Souleyman em plenos pulmões e o cantor correspondia com pequenos gestos entre palmas e pulinhos. As palavras arrastadas e cortadas com os últimos acordes iguais em todas as músicas, proporcionaram um ambiente muito afável e este foi sem dúvida um dos concertos mais surpreendentes da noite.

Circular de um lado para o outro tornava-se uma odisseia. Ao lado do palco, as filas para as barraquinhas da cerveja eram enormes e iam surgindo cada vez mais pessoas que não queriam perder a última actuação da noite – os aguardados Crystal Castles. Mas antes, foi a actuação dos Wild Beasts que deu o toque de requinte. A banda liderada por Hayden Thorpe e Tom Fleming apresentou o seu último trabalho de originais, “Smother”, lançado em Maio deste ano e cujas críticas elevaram o estatuto da banda britânica tomando o último álbum como um dos álbuns do ano.

“Olá, somos os Wild Beasts. Que bom ver-vos” – disse o vocalista visivelmente animado e rendido com a calorosa recepção do público. Alternando entre os álbuns “Smother” e “Two Dancers”, o colectivo abriu o espectáculo com «Bed of Nails», seguindo-se «Albatross» e o single «Loop the Loop». As letras estavam na ponta da língua dos inúmeros espectadores e estes conseguiram também deixar a banda rendida ao nosso país e ao festival em particular.

A noite era ainda uma criança e alguns procuravam o melhor lugar para conseguir ver a banda canadiana. Os Crystal Castles causam algum desconforto interior, mas que depressa se desvanece. Na sala de imprensa fomos avisados de que “durante os Crystal Castles os fotógrafos não podem fotografar da frente de palco. Por vontade do Management da banda, devem fotografar do meio do público. Agradecemos que se limitem às 3 primeiras músicas. Obrigado”. De facto, a visualização de todo o concerto foi uma aventura. O recinto estava a rebentar por todos os lados e tendo em conta que sou uma pessoa de estatura baixa, apenas consegui visualizar sombras. As luzes francamente psicadélicas, a neblina de fumo empurrada para cima do palco, o frenesim caótico e puramente sexual exercido pela vocalista Alice Glass fizeram com que se tornasse para muitos, um dos melhores concertos de todo o certame. Se em 2007 os Crystal Castles deixaram um rasto de devastação sensorial e uma marca importante neste mesmo local, esta vez não foi excepção. As suas melodias excessivas, como são o caso de «Baptism», «Celestica» e «Crimeware», trouxeram a Paredes de Coura um arrebatador universo de beeps beeps e desenhos de luz que transtornava a vista de qualquer um.

Ainda meio encandeados com tanto fervor, o público deixou-se ficar para ouvir os sets do DJ espanhol Vladimir Dynamo. Bastante popular no seu país, o DJ engloba na sua setlist referências do universo indie-rock. Para a equipa da RDB tornou-se a música de embalar pois fazia-se ouvir do ponto mais alto do campismo e o cansaço já se tinha instalado no nosso corpo.



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