Festival Vodafone Paredes de Coura 2022 | Dia 1 (16.08.2022)
Era até fácil de antever que seria uma jornada absolutamente épica para o festival, para o público presente e, principalmente, para a música portuguesa.
Por mais que chovesse, por mais nuvens que pairassem sobre Paredes de Coura, nada conseguiria beliscar minimamente a beleza do alinhamento que o dia de abertura da edição de 2022 reuniu. Um dia extra, para sacudir de vez toda a tristeza e pânico dos tempos pandémicos, para podermos matar ainda mais as saudades do anfiteatro natural da música.
Era até fácil de antever que seria uma jornada absolutamente épica para o festival, para o público presente e, principalmente, para a música portuguesa. Um verdadeiro all-star, onde óbvia e felizmente caberiam muitos mais.
Mesmo que não pretendêssemos distinguir ninguém, seria muito complicado não destacar a actuação de Sam The Kid, um dos poucos actos que teve direito a mais de trinta minutos de concerto, que ao apresentar-se cheio de trunfos na manga facilmente triunfou. Desde a abertura do concerto pela voz poética do seu pai, a ter nas suas costas Orelha Negra e a Orquestra, aos cameos de Mundo Segundo e NBC, o seminal rapper assinou uma prestação esmagadora. Com uma sonoridade bem cheia, fruto de toda a armada que referimos, a dar corpo ao esqueleto hip-hop das suas canções, muita delas com estatuto de míticas, Sam não desperdiçou um segundo do se regresso ao festival minhoto duas décadas depois.
Outro momento inscrito também nos anais da história da música portuguesa foi o término do espantoso concerto de Moullinex. Sendo certo e sabido que Luís Clara Gomes comanda uma máquina avassaladora, que raramente ou nunca falha, foi único ver um bom leque de outros dos artistas presentes em Coura para dançarem em palco os últimos minutos de Moullinex em Paredes de Coura, juntando-se a portentosa voz de Selma Uamusse, que juntamente com Afonso Cabral constituíram os convidados desta performance.
Os Linda Martini beneficiaram também de tempo de antena alargado, e a multidão logrou presenciar um concerto bem potente, com uma sujidade e crueza maior que o habitual, numa noite em que o destaque foi dado ao recente «Errôr». Quiçá seja uma mudança originada pelas mudanças na banda ao vivo, quiçá seja uma evolução natural da mesma, o crucial foi que os Linda Martini raramente ficam em águas paradas, e em Coura agitaram-nas sobremaneira.
No que concerne às actuações obrigatoriamente limitadas a meia-hora, Benjamim apostou nas suas canções mais fortes, incluindo o épico “Vias de Extinção”, que soube especialmente bem escutar naquele cenário, tendo sido uma canção editada em pleno confinamento. Foram diversos os momentos em que Luís Nunes integrou o público na cantoria dos seus orelhudos refrões. Samuel Úria optou por um alinhamento ousado, repescando diversas composições dos seus primórdios, numa tentativa de mostrar toda a sua gama de escrita de canções, desde o punk à pop alternativa.
Bruno Pernadas entregou mais um concerto de elevado gabarito técnico e sónico, no qual apesar das limitações temporais todo o plantel teve tempo de brilhar, sendo de sublinhar a prestação imaculada de Margarida Campelo. Também no palco Vodafone FM, os Paraguaii aqueceram o ambiente à tarde com as suas viagens electrónicas, provocando pelo caminho os primeiros movimentos dançantes na audiência, que foi seguindo as indicações no mapa da evolução da banda.
Para o final, no segmento normalmente designado por after-hours, dois conjuntos inteiramente díspares. O Conjunto Corona bombardeou uma plateia em êxtase desde os instantes inaugurais, com as letras na ponta da língua, com incessantes jardas sonoras e o corrosivo humor que tanto os caracteriza. Alcançaram com êxito edificar em Paredes de Coura o ambiente que costuma marcar os concertos de Corona, num imenso regabofe de batidas gordas. Os créditos finais deste dia histórico estiveram a cargo do Conjunto Cuca Monga, com todos os seus trunfos em palco, que debitou diversos temas próprios, bem como revisitou sucessos dos artistas do seu catálogo, como Luís Severo, Capitão Fausto, Rapaz Ego, entre outros. Aconteceu o único encore deste longo dia, num derradeiro número que deu azo a cantorias em coro por parte do dedicado público.
Reportagem do segundo dia disponível aqui, do terceiro aqui e do quarto aqui.
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