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Festival Vodafone Paredes de Coura 2022 | Dia 2 (17.08.2022)

No segundo dia desta edição especial de 2022, o Vodafone Paredes de Coura retomou os seus moldes normais: mistura de artistas portugueses e internacionais, e menor número de concertos do que os alinhados no dia especial dedicado à música nacional.

A jornada arrancou cedo graças ao interessante menu do Jazz Na Relva, que esteve especialmente recheado este ano. Nesta quarta-feira podemos atestar um belíssimo escritor de canções que é Caio, que não parou de nos deleitar ao longo de todo o seu tempo de antena junto à rio Taboão. Em seguida, o Homem em Catarse abordou todos os compartimentos das suas experimentações sónicas, de verdadeiro one man band, desde as paisagens tecidas com os loops da sua guitarra, até às construções serenas ao piano, que vale como a sua nova munição, após se ter dedicado à aprendizagem das teclas durante os tempos pandémicos.

Homem em Catarse

Já no recinto principal, era o Palco Vodafone FM que arrancava de maneira mais interessante. Porém, os Porridge Radio não fizeram jus a tudo o que esperávamos, ainda que a sua exibição tenha melhorado progressivamente ao longo do concerto. Mas nunca lograram alcançar aquela fagulha que tem tornado os seus trabalhos de estúdio em objectos bem interessantes e frescos.

Porridge Radio

Em compensação, Indigo de Souza aproveitou a maravilhosa obra que é «Any Shape You Take» para catapultar a sua performance como a mais brilhante do dia 17 de Agosto em Paredes de Coura. A contínua mistura entre momentos de doçura e as explosões com que normalmente parte para os refrões foi galvanizando o público que acorreu ao palco secundário. Apesar de conhecida a obra da senhorita da Carolina do Norte, não deixou de espantar a portentosa capacidade vocal que demonstrou, fazendo estremecer diversas vezes a infraestrutura que protege o Palco Vodafone FM.

Indigo de Souza

Depois dos Badbadnotgood voltarem a hipnotizar a enorme plateia do Vodafone Paredes de Coura, provando mais uma vez que, em especial neste evento, é possível conquistar o público independentemente da corrente sonora (embora seja sobejamente conhecido o culto que granjeiam no nosso território), o início de noite transportava-nos para terrenos mais rockeiros. Os Murder Capital conseguiram, mesmo em regime de festival, abrir para os Idles, tal como tem acontecido nas recentes digressões. Entraram com tudo, fazendo uso da sua obra mais pesada, que cedo desaguou em crowdsurfing por parte de James McGovern, agarrando claramente pelos colarinhos o público presente. Contudo, não tardaram a comprovar que são uma banda com um espectro bem mais alargado, debitando posteriormente as suas criações mais profundas, localizando-se algures entre uns Idles e uns Fontaines D.C., mas com vários tiques mais obscuros retirados de legados como Nick Cave ou da darkwave britânica dos anos 80.

Murder Capital

Em seguida, os Idles mostraram mais uma vez a sua competência, com banda maior que já são. Pode apontar-se que não chegaram verdadeiramente a incendiar as hostes, mas por outro lado ficaram bem longe de terem desiludido. O arranque do concerto não foi o mais pujante, existindo alguma falta de entendimento com a plateia, que claramente não captou algumas das indicações costumeiras que Joe Talbot tem dado, um pouco por todo o lado, durante esta tour. No entanto, a euforia não tardou a irromper por entre o público e os membros da banda (sempre com destaque para os homens das guitarras, que quase parecem desmanchar-se em palco com tanta movimentação), e foram múltiplos os relatos de mazelas resultantes do mosh durante o concerto de Idles. “The Beachland Ballroom” e “Never Fight a Man With a Perm”, vindas de latitudes meio distintas, foram a sequência mais rica deste alinhamento, do qual se destaca sempre “Danny Nedelko”, desde logo por ser aquela que conta com maior vocalização do público. No final, Joe Talbot não perdeu a oportunidade de agradecer à multidão por olharem pelos Idles, e por o terem ajudado a recuperar da depressão em que se encontrava há poucos anos.

Idles

A acção do Palco Vodafone findou com o regresso dos sempre aguardados Beach House que, todavia, mais uma vez padeceram de entrarem em cena demasiado tardiamente, à imagem do que havia acontecido em 2018. Com a agravante da hora sem concertos que este ano atravessou todos os dias do festival (à excepção de terça-feira), e que em nada beneficiou o público que depois assistiu à toada calma, ainda que superiormente melódica, da dupla de Baltimore.

Beach House

Reportagem do primeiro dia disponível aqui, do terceiro aqui e do quarto aqui.



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