Filhos do Tédio

Ensaio antropológico sobre Coimbra, sobre a música e as suas ramificações, tendo como mote os míticos Tédio Boys.

Ao primeiro contacto directo com o livro de Rita Alcaire, “Filhos do Tédio”, fica-se com a ideia que estamos perante uma biografia da banda de Coimbra e/ou um ensaio sobre a música portuguesa das últimas décadas. Ao ler a badana de apresentação da autora, ficamos a perceber que estamos perante algo completamente diferente e bastante mais interessante que uma mera biografia e/ou opinião.

Vamos por partes. O livro fala dos Tédio Boys? Sim. O livro fala de Coimbra? Sim. O livro fala de música? Sim. “Filhos do Tédio” utiliza o exemplo prático da vida e obra dos Tédio Boys para fazer uma leitura e reflexão sobre tudo aquilo que os rodeou, bem como para perceber as suas motivações e importância numa cidade estereotipada como é Coimbra.

A autora, Rita Alcaire, é “uma mulher do século passado”. Formada em Antropologia e natural de Coimbra, “gosta de estar em casa” e deve ter “comido 30 kg de chocolate” para escrever este livro. Sendo embora uma “nativa conimbricense” de alma e coração, nunca se identificou com a dita “tradição” de Coimbra e com o trinómio – fado, estudantes e guitarradas, que sempre caracterizou a cidade.

Partindo da banda/fenómeno Tédio Boys, a autora questiona esse estereótipo, dando a conhecer um conjunto de indivíduos que construíram a sua identidade de uma forma alternativa. Os Tédio Boys foram os primeiros jovens de Coimbra a exigir o seu lugar no mundo social dominado por adultos e estudantes universitários, bem como os responsáveis pelo início de uma nova “tradição” musical na cidade, que hoje é vista como uma das capitais do rock nacional.

Assim, durante 120 páginas, ficamos a conhecer a forma como a banda “mexeu” com as fundações da cidade, através de excertos de várias entrevistas que a autora manteve com os elementos da banda. De uma forma natural, conhecemos a história e as vivências dos elementos do Tédio Boys, a sua postura perante a cidade e as tradições, bem como algumas passagens curiosas da sua carreira. Um dos momentos mais caricatos ficou conhecido como o “concerto dos frangos” na Queima das Fitas de Coimbra, onde os elementos da banda surgiram em palco apenas com umas galinhas a tapar os seus órgãos genitais, acabando completamente nus e a gritar “queima a queima”.

A autora utiliza os excertos das entrevistas como material de reflexão. Através de passagens por muitos outros teóricos da matéria (a bibliografia é vasta), somos transportados para uma discussão sobre muitos factores empíricos que podem ser abordados, como por exemplo a identidade, relação com o meio, a estética e o corpo.

Com edição da Pé de Página, “Filhos do Tédio” já se encontra nas livrarias e é um excelente documento histórico e de reflexão.



Existe 1 comentário

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  1. petercrazy666

    Queima a queima sem duvida, pois sem duvida que os tedio e os bons momentos que passei com eles, pode-se dizer que aparte das bandas estrangeiras, foram os tedio a minha banda de seguimento naqueles finais dos 90. Posso afirmar que dentro do estilo jamais apareceram bandas apesar que muitas mais que surgiram e das melhores actualmente sao formadas por elementos dispersos dos tédio, que a raiva, o sentimento, a pureza e a entrega daqueles 5 era fantastica e fora de série, obrigado tédio.boys


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