Filipe Pina e Filipe Andrade
Entrevista com os autores de "BRK", a mais recente aposta da ASA no que toca a edições de BD portuguesa.
O livro conta a história de David, um jovem de 17 anos cuja vida irá mudar drasticamente ao conhecer Bia, uma bela rapariga que o tenta convencer a juntar-se ao “Estalo” uma organização que tem por objectivo mudar a mentalidade das pessoas.
Tentando afastar-se da ideia, David acaba por se juntar ao grupo e é aqui que a sua aventura realmente começa.
Os autores Filipe Pina e Filipe Andrade começaram a trabalhar juntos em BD em 2003 quando criaram a tira cómica online “Fraggers”. Posteriormente iniciaram a história de “BRK”, o qual foi editado periodicamente no BD Jornal entre 2006 e 2008 e que nos chega agora em formato de livro.
Antes de mais como é que vocês se conheceram e decidiram começar a trabalhar juntos?
Filipe Pina: Conhecemo-nos há uns 8 anos atrás, o Filipe Andrade era colega de escola do meu irmão (Rafael Pina) e na altura começámos a fazer BD online com o projecto dos “Fraggers”. Chegou a uma altura que queríamos ambos fazer uma BD e decidimos avançar logo de uma forma muito séria e profissional.
Filipe Andrade: Sim a ideia que de fazer algo a sério no campo da BD começou logo assim que falamos das primeiras vezes. O Pina também nos ajudou, a mim e ao Rafael, em outros pequenos projectos de escola que íamos fazendo.
Podiam contar-nos um pouco sobre como nasceu este projecto? O qual começou por sair periodicamente com o BD Jornal e que agora é finalmente compilado e editado?
FP: Queríamos fazer BD que cativasse um público de massas e mais generalista pois achávamos que a produção de BD em Portugal na altura não estava a bater nas teclas certas. Actualmente as crianças e adolescentes estão habituados aos videojogos, cinema e televisão e tudo tem uma qualidade fantástica, achámos que fazia falta algo que apostasse mesmo muito a sério e com a máxima qualidade possível. Logicamente este ainda é o nosso primeiro projecto e muitos erros foram cometidos com os quais aprendemos e melhorámos a nossa arte ao longo da publicação no BD Jornal.
Além dos leitores do BD Jornal, a principal fonte de críticas construtivas veio através do fórum da Central Comics onde os leitores opinavam sobre cada edição. O próprio dono da loja, o Hugo Jesus, decidiu a certo ponto começar a ajudar-nos na balonagem e formatação dos textos.
FA: Em Portugal sempre se apostou num formato alternativo ou de história ilustrada que, atenção, para mim não tem mal nenhum, aliás temos excelentes autores neste campo. O problema é quando só existe o alternativo torna-se complicado chegar à maioria das pessoas. Esse era um dos nosso objectivos, como disse o Pina, tentar chegar a um publico maior e que por maioria não olha para BD. Esse é o objectivo, agora se conseguimos é outra conversa (risos).
Como referi o BRK começou por ser editado no BD Jornal através da pedranocharco e agora esta compilação surge através da ASA. Qual a razão para esta mudança?
FP: Nunca houve uma compilação, havia inicialmente um livro que foi repartido em partes para ser editado pela pedranocharco no BD Jornal. A mudança para a ASA é um assunto privado que não queremos discutir aqui.
FA: “Águas passadas”
A história chegou a ser terminada no BD Jornal ou ficou incompleta?
FP: Ficou a faltar um capítulo no BD Jornal que nunca foi publicado.
FA: Esse capítulo faz com que a historia ainda se mantenha com interesse pois o arco deste primeiro livro fecha-se aqui.
Sendo o Filipe Pina também um pintor e designer gráfico além de escrever o argumento do “BRK” também participaste nos desenhos ou todo o trabalho nesse campo é do Filipe Andrade?
FP: Os desenhos são todos do Andrade. A pintura da BD foi mais ou menos 90% minha e 10% dele.
Filipe Andrade, terminaste recentemente o curso de escultura na Faculdade de Belas Artes. Além da BD/ilustração é correcto dizer que esta é outra das tuas grandes paixões? Fala-nos um pouco sobre quais os teus planos nesta área.
FA: Sem dúvida, se não não tinha estado lá quatro anos a “estudar”. O problema da escultura é que sai muito cara tanto para o autor como para o comprador o que limita muito o mercado, que praticamente não existe e é dominado sempre pelos mesmos. No entanto vou tentando fazer escultura sempre que posso, Gosto muto de trabalhar em pedra e modelar em barro. Estou ainda no EUA onde recentemente terminei estudos na Gnomon School. Tirei três cursos e um deles era de modelação em escultura, esta mais virada para a indústria de cinema que Belas Artes, isto prova a minha dedicação.
Além de BD vocês já trabalharam juntos também nos videojogos, mais especificamente na Seed Studios co-fundada pelo próprio Filipe Pina?
FP: Sim, já trabalhámos. O Andrade fez uns designs de teste para um jogo nosso e mais recentemente foi contratado para um pequeno trabalho para um jogo que irá ser editado para o próximo ano.
FA: Confirmo, é tudo verdade.
E já pensaram em criar um jogo do “BRK”? Acho que seria algo inédito em Portugal a adaptação de uma BD portuguesa aos videojogos.
FP: Sim, isso passou-nos pelas cabeça mas infelizmente o “BRK” não se dá muito à conversão para videojogos por várias razões. Talvez na próxima vez.
Muitos livros aproveitam o Festival Internacional de BD da Amadora (FIBDA) para serem lançados. Sendo o “BRK” um lançamento recente estará em destaque no festival? E contará com alguma participação vossa? Ou pelo menos do Filipe Pina uma vez que o Filipe Andrade se encontra nos EUA.
FP: Ambos vamos estar cá para dar um salto ao FIBDA (Amadora BD) no primeiro fim-de-semana e se tudo correr bem estaremos lá com a ASA e o “BRK”.
FA: Sim, é uma grande oportunidade, porque apesar de Portugal ser um mercado pequeno, no que a BD diz respeito, é no FIBDA que o mercado ainda mexe um pouco no nosso país. Na altura já estarei em Portugal e por isso disponível para lá estar claro.
Outra parceria vossa ocorreu no volume 5 do fanzine “Venham +5” organizado pela bedeteca de Beja com a história “Analepse” que em 4 páginas nos leva numa rápida viagem desde o nascimento até à morte.
Podem falar um pouco sobre esta participação e se ela vos trouxe algum reconhecimento uma vez que reuniu autores dos mais variados países e venceu prémios no festival da Amadora e da Central Comics.
FP: O Andrade queria participar e tinha 3 ideias diferentes para fazer uma história. Pediu-me ajuda no desenvolvimento e eu acabei por achar que todas as 3 ideias eram a mesma e fiz aquela única história da vida inteira de uma pessoa. No entanto esta história apareceu primeiro num festival da BD Amadora e só depois mais tarde foi editada pela Bedeteca de Beja.
Quanto ao reconhecimento não faço a mínima ideia, nem é isso que procuramos, apenas queremos fazer boa BD e tentar alargar a quantidade de leitores.
FA: Esta foi uma BD que para mim marcou, a nível pessoal, uma grande viragem na forma de fazer BD. Pela primeira vez submeti o desenho ao story telling. Ela foi a concurso na BD Amadora de 2006 se não me engano, mas apesar de ter sido bem recebida pelo público não o foi pelo júri do concurso. Assim a BD ficou na prateleira. A primeira oportunidade de a divulgar foi no Venham +5. Apesar de a publicação ser a preto e branco e o original a cores, não hesitámos em enviar esta BD. Tudo graças ao convite do Paulo Monteiro.
A edição foi óptima mas vale mais como conjunto do que como valorização dos autores em particular, até porque são imensos, mas ainda bem que foi premiada a edição, porque mereceu.
A “Analepse” pode não ter vencido na Amadora como disse o Filipe Andrade, mas venceu este ano o prémio de melhor obra curta nos troféus Central Comics. O que significou este prémio para vocês?
FP: O prémio para nós foi uma espécie de reconhecimento que não houve nos prémios BD da Amadora, só isso. Já ficámos contentes por terem pegado na Analepse e terem editado no “Venham +5”.
Algum dos personagens do livro é baseado em vocês? Pergunto isto porque quando vi o Telmo achei-o logo igual ao Filipe Pina e depois disso pensei que até o próprio David poderia ser o Filipe Andrade.
FP: Sim, eu sou o Telmo, o Andrade é suposto ser um daqueles amigos do Telmo, mas não se percebe tão bem. O David é inteiramente ficção, não é baseado em ninguém.
Filipe Pina uma vez que moraste em Almada o liceu do David é o mesmo no qual andaste?
FP: Sim, 5º e 6º ano.
Podem descrever sucintamente como se desenrolou o processo de desenho das cidades do Porto, Lisboa e Almada?
FA: Queríamos dar um aspecto verosímil às situações em que a historia se ia desenrolando. Para isso fizemos pesquisa para as coisas baterem certo. Utilizámos imagens nossas que tirámos em visitas aos locais que nós fizemos e imagens da net para detalhes como cacilheiros por exemplo.
Quais são as vossas maiores influências?
FA: Eu tenho várias influências como toda a gente, acontece que o facto de ter estado na gnomon me abriu tanto a pestana que o campo das influências é agora um grande panelão de sopa.
Assim vou deixar nomes ao acaso. B.Birghman, Ryan Church, José López, Humberto Ramos, Rodney Fuentebela, para dar alguns nomes da actualidade. Depois eles multiplicam-se pela história de arte a dentro desde arquitectos, pintores, escultores, etc.
FP: Na BD: Zot de Scott Mcloud; Blade of the Immortal de Hiroaki Samura; Nausicaa of the Valley of the Wind de Hayao Miyazaki. As revistas de BD Visão dos anos 70 feitas por autores Portugueses.
Depois claro tenho fortes influências de cinema e videojogos mas são demasiados autores e filmes / jogos para colocar aqui.
E em relação a projectos futuros há algo que possam revelar? Vão continuar a trabalhar juntos?
FP: Sim, claro que vamos. Por incrível que pareça, e ao contrário do “BRK”, o próximo projecto já está quase pronto. Demorou tanto tempo a colocar este livro nas bancas que tivemos tempo suficiente para fazer outro trabalho enquanto este não saía.
FA: E não se ficou só por um trabalho terminado temos inúmeros projectos já começados e que fomos desenvolvendo ao longo deste últimos 3 anos.
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