Final Fantasy XV | Análise
A série Final Fantasy está de regresso ao topo do género JRPG!
Esperámos cerca de 10 anos para conhecer a história de Noctis e a verdade é que mereceu a pena! Acompanhado pelos seus companheiros Prompto, Gladio e Ignis, a sua história marca o regresso dos lançamentos na linha principal de jogos Final Fantasy, depois de Final Fantasy XIII e das suas respectivas sequelas directas que, pessoalmente, não me deixaram nada com boa impressão. Felizmente, Final Fantasy XV nada tem a ver com aqueles jogos e chega para recuperar novamente a coroa do género para a série Final Fantasy.
Em Final Fantasy XV encarnamos o papel de Noctis, um príncipe que luta para tentar recuperar o trono de Lucis que é seu por direito e cuja cidade natal foi invadida pelo império de Niflheim. Ao mesmo tempo, uma ameaça ainda maior paira sobre todo o mundo de Eos e cabe a Noctis e aos seus companheiros de aventura defendê-lo. A história está muito bem executada, mas vem com alguns requisitos a priori. Para conseguir compreender a sua total magnitude, o jogador terá que investir algum tempo a ver o filme Kingsglaive, assim como o anime Brotherhood, disponível de forma gratuita no Youtube. Para além disso existem ainda dois jogos complementares: Justice Monsters Five (plataformas móveis) – numa abordagem diferente à fórmula pinball – e A King’s Tale: Final Fantasy XV que não só presta homenagem aos clássicos side-scrollers das antigas 16-bits como explora ainda mais este universo. A Square Enix criou um enorme leque de conteúdo à parte que serve de contexto essencial para quem quer jogar a campanha principal de Final Fantasy XV e como se não bastasse tudo isto, existem ainda alguns elementos de contexto da narrativa principal que vão surgindo através de diálogos. Estes por sua vez têm lugar durante as reuniões à volta da fogueira, ou até mesmo durante as viagens no Regalia – o veículo que os quatro personagens principais usam para atravessar grandes distâncias pelo mapa de Eos.
Modernizar os JRPGs nunca foi fácil mas parece-me que Final Fantasy XV pode ser finalmente o passo que o género precisava e logo com um título tão importante como este. Neste jogo, controlamos estritamente Noctis, com pequenas chamadas à acção dos outros membros da nossa equipa. A inteligência artificial dos nossos companheiros é bastante competente e não foram raras as vezes em que foram eles a salvar-me de situações apertadas. Teremos de perder algum tempo com a árvore de pontos de habilidades para que, à medida que vamos evoluindo, possamos ir cada vez mais longe nos desafios que vamos enfrentando. E porque em Final Fantasy XV, o dano dos nossos feitiços pode também atingir os nossos companheiros, vamos dar por nós a esperar infinitamente que eles se desviem e isso é algo que raramente acontece. Foi talvez esta a única falha que encontrei na inteligência artificial de Prompto, Gladio e Ignis. Não obstante, é da relação entre os membros da equipa que se constrói grande parte da narrativa, degrau a degrau. A forma como a Square Enix conseguiu embutir a relação de equipa entre os quatro, durante os confrontos e cinematics, é louvável. Apesar desta relação e dos eixos que a constroem estarem já bem inerentes no anime Brotherhood, a verdade é que toda a experiência de jogo de Final Fantasy XV transparece isso. E apesar do protagonista ser Noctis, a forma como esta personagem vai evoluindo ao longo de toda a narrativa é consequência directa das acções dos seus companheiros.
O combate é abordado de uma forma um pouco ao género da série Tales of, mais dentro do género de acção e menos na linha clássica do combate por turnos. No entanto, é possível parar o combate a meio para aplicar alguns comandos e usar itens. Ainda assim, o combate é bastante rápido e sofre de uma curva de aprendizagem bastante alta. Até conseguir dominar o sistema de combate, o jogador vai ter de sofrer um bocado mas quando tal acontecer, por consequência, os combates tornam-se bastante recompensadores. Já no que diz respeito a toda a acção que decorre no ecrã, essa é deslumbrante. Podemos esquivar-nos e movimentar-nos pelo campo de batalha por intermédio da habilidade de teleporte característica de Noctis e podemos ainda usar vários tipos de armas diferentes, cada uma com o seu efeito específico. Os nossos companheiros também intervêm no combate, por vezes chamados por nós para executarem as suas habilidades especiais (as quais podem ser complementadas por Noctis, se tiver a arma certa seleccionada) ou para coadjuvarem os nossos ataques direccionados ao inimigo desprevenido. Também as batalhas com bosses são únicas e devo dizer que é nestes confrontos que a jogabilidade mais se destaca como genial e única. Final Fantasy XV possui, com toda a certeza, os melhores bosses que já agraciaram um JRPG.
A magia está implementada de uma forma ligeiramente diferente do que é habitual no franchise Final Fantasy. Aqui, à medida que exploramos o mapa, vamos encontrando fontes de magia de vários tipos que podemos absorver para depois criar feitiços que podemos levar para as batalhas. As magias podem ser misturadas entre si, dando lugar a versões mais poderosas, ao mesmo tempo que também podem ser misturadas com itens, como por exemplo as poções. Um dos aspectos mais curiosos de Final Fantasy XV é o facto dos feitiços terem em conta o ambiente em que os usamos. Por exemplo, se usarmos um feitiço de gelo durante um combate numa zona com água, vamos ver esta a congelar. Algo que pode ter efeitos bastante dramáticos não só para os nossos inimigos mas também para a nossa própria equipa. Portanto há que os usar com cuidado. Os clássicos summons de Final Fantasy surgem apenas em momentos que parecem quase aleatórios, mediante o cumprimento de algumas condições bastante específicas. Apesar desse facto, a verdade é que qualquer um deles é simplesmente espectacular, a diferença de escala é descomunal e cada aparição é um momento único e inesquecível.
O mundo é vasto e rico em cenários fenomenais e o ciclo natural de dia e noite cria algumas dinâmicas bastante interessantes com as criaturas que o habitam. A liberdade para explorar Eos é total até cerca de metade da campanha principal e por vezes damos por nós a enfrentar algumas criaturas com bastantes níveis acima da nossa equipa. Nesses casos, é fulcral ter bom senso e saber quando executar uma retirada estratégica. Mas se de dia, a nossa vida é relativamente facilitada para contornar criaturas, à noite surgem demónios que serão impossíveis de conseguir vencer logo no início da nossa aventura. Portanto há que evitar a exploração à noite e apostar no ciclo de dia para viajar e descansar depois. Aliás, descansar é parte essencial da mecânica de jogo de Final Fantasy XV já que a experiência que vamos acumulando apenas é aplicada após uma boa noite de descanso. Se fizermos o nosso descanso no acampamento, entram em acção os dotes culinários de Ignis que nos dão vários tipos de bónus que podemos depois usufruir enquanto exploramos e combatemos. É também neste momento que Prompto mostra as suas capacidades artísticas com a fotografia, mostrando aqueles que foram os seus registos fotográficos dos momentos da jornada. Também Gladio vai ganhando níveis no seu passatempo preferido, a exploração, à medida que vamos caminhando com as nossas personagens e descobrindo novos itens pelos cenários. Por sua vez, a personagem principal Noctis possui o passatempo menos integrado nas acções do grupo e é por isso mesmo que é o mais complicado de evoluir. A sua especialidade é a pesca e temos que aceder a um mini-jogo específico para evoluir esta capacidade de Noctis. No entanto, a pesca acaba por estar também inerentemente ligada à culinária de Ignis, o que só ajuda a que, também ela, seja uma tarefa essencial.
A gestão do combustível do Regalia é também um ponto importante para não ficarmos “apeados” no meio de nenhures com a nossa equipa. Para além do Regalia, não podiam faltar os clássicos chocobos que tornam cada viagem em Final Fantasy XV bem mais emocionante e permitem movimentar a nossa equipa de uma forma mais livre. Os chocobos também podem evoluir para correrem mais depressa, durante mais tempo, e saltar mais alto, ao mesmo tempo que também podem ser personalizados ao nível da cor. As viagens no Regalia e até os momentos em que damos por nós a atravessar a pé os cenários ganham outra dinâmica, quando à nossa disposição estão as bandas sonoras de todos os anteriores lançamentos de Final Fantasy para ouvirmos. Para as desbloquearmos basta pesquisarmos nas lojas que vamos encontrando. À parte da linha da narrativa principal não faltam coisas para fazer, com um enorme leque de sidequests, hunts e dungeons disponíveis para explorar. Assim que terminamos a campanha principal, há ainda muito conteúdo extra para descobrir e novas masmorras secretas para percorrer. Para além destas, a Square Enix anunciou ainda novo conteúdo que ficará disponível brevemente e que chegará a Final Fantasy XV no formato de DLC (incluído com o passe de temporada).
Este é o Final Fantasy porque todos os fãs esperaram nesta geração de consolas. Um jogo repleto de conteúdo para explorar tanto dentro como fora, com todo o conteúdo extra que foi desenvolvido para ajudar a perceber a história de Noctis e a forma como este cresce como personagem. O mundo é simplesmente espectacular e a escala de alguns bosses e summons é estrondosa e proporciona alguns dos confrontos mais épicos de que há memória no mundo dos videojogos. Final Fantasy XV é uma obra-prima que esteve uma década em gestação e que chega como uma lufada de ar fresco ao género JRPG, cheio de novidades tanto para os fãs hardcore de Final Fantasy como para aqueles que nunca jogaram um jogo do franchise.
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