Fitas de Baixo para Cima

Battle Royale II

Depois de ter estreado em 2000 um dos filmes mais sangrentos e violentos dos últimos tempos, eis que nos surge agora em DVD a sequela de Battle Royale. Atrasos aparte (a obra é de 2003), este é um filme só possível no imaginário japonês e que nos deixa algumas pistas para o que poderia ser o futuro se os níveis de desemprego e insatisfação dos cidadãos continuarem a aumentar como até agora e se algum governo tomasse medidas extremas para o conter.

Este filme foi realizado por Kinji Fukasaku e constitui o seu derradeiro trabalho. Na última conferência de imprensa que deu, em Setembro de 2002, anunciou que estava a morrer de cancro dos ossos e que nem mesmo isso o evitaria de trazer à luz do dia Battle Royale II. Infelizmente, faleceu durante as filmagens ficando o final do filme a cargo do filho, Kenta Fukasaku.

O filme tem como protagonistas Noriko Nakagawa (Aki Maeda) e Shuya Nanahara (Tatsuya Fujiwara), dois alunos da escola secundária de Shiroiwa e únicos sobreviventes do jogo Battle Royale.

Este jogo surgiu na sequência do lançamento do “BR Act” e foi a forma encontrada pelo governo japonês de pôr termo à taxa de 15% de desemprego no país e à desistência de 800 mil alunos dos seus estudos. Basicamente, consistia na escolha aleatória de jovens alunos que eram posteriormente enviados durante três dias para uma ilha numa versão um pouco mais agressiva do Survivor. O que estava aqui em jogo era a sua própria vida e apenas um aluno poderia abandonar a ilha.

Agora, três anos após os sobreviventes do primeiro “Battle Royale” terem escapado da ilha, Nanahara e Nakagawa lideram um grupo terrorista internacional denominado “Wild Seven”, anti-BR e anti-governo. O grupo declara guerra a todos os adultos que apoiaram o “BR Act”, lançando um ataque massivo a Tóquio, matando milhares de japoneses. Numa contra-ofensiva, o governo cria a “Lei Anti-Terrorismo do Milénio” ou “BR-II”. A turma 3B, com 42 alunos, de Machishikanotoride é raptada das suas férias de Natal pelo exército japonês e forçada a participar no Battle Royale II. O objectivo: matar Nanahara em três dias para ganhar o direito a voltar para casa. Os alunos são colocados em pares e obrigados a “caçar” Nanahara em conjunto. Se entretanto um deles for morto, o seu parceiro explode imediatamente graças a uma pulseira electrónica colocada previamente em cada um.

Tal como no filme original, um aluno opõe-se ao jogo e ele e o seu parceiro são mortos de imediato. Os 40 restantes são enviados para a ilha onde supostamente os membros do “Wild Seven” estão escondidos e dá-se início ao “jogo”.

Os filmes sempre estiveram envoltos em polémica. Aquando do lançamento de “Battle Royale”, os políticos japoneses tentaram bani-lo. Uma vez falhada essa tentativa, o filme foi classificado para maiores de 15 anos e bateu largamente as expectativas de bilheteira. Agora, na continuação do jogo mais violento dos últimos tempos, os mais puristas não se conformam com a ideia de simpatia para com o terrorismo que o filme transmite, nem mesmo com a sugestão de que os responsáveis pelas ideias fascistas do Battle Royale são os Estados Unidos da América e que a liberdade só pode ser encontrada em países libertos dessas influências e o exemplo dado aqui é o do Afeganistão. Coincidências?

No geral, este é um filme que reflecte inevitavelmente a realidade vivida hoje em dia, não só a nível do terrorismo, mas também acerca das inúmeras tentativas que qualquer governo realiza para controlar os seus cidadãos. Felizmente ainda ninguém se lembrou de explodir os seus estudantes para evitar o aumento do desemprego.



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