Flanger @ Lux

Uma lição de bom gosto.

Alguns instantes após as luzes do piso inferior do Lux se terem apagado e momentos antes dos Flanger subirem ao palco, escutou-se uma gravação a enumerar os diferentes estilos que fizeram a história da música mundial. Mas afinal não iamos presenciar um concerto de jazz? Não. Estávamos prestes a testemunhar um concerto de extremo bom gosto e a tarefa de rotular a música dos Flanger, foi rapidamente para segundo plano.

Com um passado musical repleto de projectos, em diversas áreas da música electrónica (e não só), os Flanger surgem do génio de duas pessoas, Burnt Friedman e Uwe Schmidt e da mestria e interpretação de mais três, Richard Pike na voz e guitarra, o irmão Laurence na bateria e Hayden Chisholm no clarinete (e sax). Friedman e Schmidt são os organizadores, os directores, os maestros, que fazem com que a “máquina” esteja bem oleada e preparada para mostrar os seus dotes. Os irmãos Pike e Hayden Chisholm são os “trabalhadores”, a parte orgânica da música dos Flanger.

”Spirituals” é o novo disco do projecto e serviu de base ao concerto. Com o jazz dos anos 20 e 30 como pano de fundo, este trabalho está repleto de boas canções e letras que as transformam em pérolas pop. Apesar de no passado a electrónica ser um elemento fundamental na música dos alemães, neste disco, os instrumentos e a orgânica dos músicos é o aspecto primordial, elevando este trabalho para um patamar superior, que foge totalmente às interpretações electro-jazzisticas que inundaram o mercado no princípio deste milénio.

Em palco, “Spirituals” soa ainda melhor. Ao ouvir o disco fica-se com a clara sensação que os temas ao vivo podem ser alterados, acrescentados e estendidos. Foi isso que aconteceu. Para além das excelentes canções – «Crime in the Pale Moonlight», por exemplo – a banda proporcionou momentos de sublime qualidade musical, utilizando muitas vezes a electrónica (representada por um Mac), em temas que deliciaram a bem composta plateia presente da discoteca lisboeta, transformando um concerto num encontro de amigos bastante descontraído e agradável.

Para além dos interlúdios musicais, as próprias faixas de “Spirituals” ganham uma outra dimensão. «How Long is the wrong way?» proporcionou um dos melhores momentos do concerto e é também responsável por uma das passagens mais conseguidas no disco, aliando de uma forma agradável, a cadência do jazz com a excelente voz de Richard Pike, que funciona bastante bem neste tipo de registo.

Em suma, a passagem dos Flanger por Lisboa foi bastante positiva e ninguém saiu desiludido. Se a banda tivesse apostado um pouco mais no lado lúdico do jazz e na improvisação, talvez o resultado ainda tivesse sido melhor. “Spirituals” é um disco para ouvir com atenção mas também com muita descontracção.



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