FMM Sines 2022 (28.07.2022)
O segundo dia no epicentro do Festival Músicas do Mundo prosseguiu com o protagonismo atribuído às mulheres nesta primeira edição pós-pandemia. Não apenas mulheres, mas mulheres de causas, bem empenhadas nos valores que defendem e que usam os seus amplificadores para assinalarem esses mesmos temas na sociedade.
Bia Ferreira é, inquestionavelmente, uma artista que encaixa nessa categoria. Empenhando apenas a sua guitarra, mas projectando a sua portentosa poesia, que muitas vezes declamava antes das canções como forma de sublinhar o sentido da mesma, a brasileira assinou uma aparição forte, com vários murros no estômago para quem esteve mais atento.
O arranque da noite no castelo ofereceu-nos o concerto mais surpreendente e interessante do FMM 2022, pela mão e criatividade de Albert Pla, maravilhosamente acompanhado pela guitarra cigana de Diego Cortés. Desempenhado o papel de um autêntico trovador em palco, no seu jeito bem peculiar e arguto, o músico catalão foi encantando todo o mundo, em especial graças às suas histórias mirabolantes e sarcásticas, como nos temas “Joaquin el Necio” ou “Carta al rey Melchor”. Houve ainda espaço para a destreza de Diego Cortés, que por momentos teve o palco apenas para si, brindando-nos com algumas acrobacias na guitarra.
James BKS era o nome que se seguia no cartaz, e com as suas produções de hip-hop com travo a África, honrando as suas raízes familiares, entregou uma performance interessante. Acompanhado de banda e MCs, que foram um verdadeiro espectáculo dentro do próprio espectáculo, o produtor parisiense, em notória ascensão nos meandros do hip-hop, manteve sempre o público vivo, ora com composições mais dançantes, ora com temas mais centrados na palavra.
Ainda no universo das rimas e batidas, Ana Tijoux regressou ao FMM trazendo igualmente palavras importantes para debitar ao microfone. E, se o acto anterior tinha dado um sabor africano ao hip-hop, a chilena enveredou obviamente por lhe acrescentar motivos sul-americanos, como que demonstrando a versatilidade deste estilo musical. Que sónica, quer liricamente, porque Ana Tijoux tem claramente um discurso mais politizado quando comparado com as letras mais leves do seu antecessor.
Para colocar um ponto final do segundo dia de festival em Sines, foi chamado ao palco Steam Down, um dos imensos projectos de jazz interessantes que singram em Londres durante os últimos anos. Comandados pelo multi-instrumentista Ahnansé, bastante focado no saxofone neste concerto, os Steam Down providenciaram um estimulante número de jazz moderno, bem representativo da referida cena londrina, que já foi marcando presença pelo FMM nas últimas edições, por intermédio de Kokoroko ou Nubya Garcia. Ritmicamente rico, sonicamente ziguezagueante, contando ainda com a presença vocal de Shantéh na recta final, os Steam Down foram outras das actuações de topo do FMM 2022.
Podem encontrar aqui as reportagens referentes a Quarta dia 27 de Julho, Sexta 29 e Sábado 30, respectivamente.
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