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FMM 2023 (26.07.2023)

Num evento que tenta continuamente extravasar fronteiras, não deixou de ser curioso que a fatia de leão do FMM, reservada para Sines, tivesse arrancado com Raia. A bordo deste projecto, António Bexiga vai tentando extravasar os territórios reservados por norma à viola campaniça, exemplificando a sua versatilidade, acrescentando-lhe aqui e ali alguns registos vocais, que tornam as suas composições ainda mais sui generis.

As percentagens do Castelo de Sines abrir com o melhor concerto de toda a edição não seriam muito altas, mas foi exactamente isso que A Garota Não logrou alcançar. Naquele cenário lindo e solarengo, o trio em palco conseguiu comover e chamar a atenção do público para uma panóplia de questões prementes dos nossos dias, sendo que nem o patrocinador oficial do festival escapou às críticas. Todavia trata-se de um activismo calmo, com o dom da palavra e da melodia, sem histrionismos, e que abarca ritmos brandos, mas quentes, que simultaneamente permitem que o nosso corpo relaxe apesar da mente ir absorvendo e reflectindo sobre o que nos é dado a escutar. Demorámos diversos dias a absorver tudo aquilo que Cátia Mazari Oliveira e seus parceiros assinaram em Sines.

Na etapa nocturna do dia inaugural do FMM 2023 em Sines, Lila Downs presentou-nos com um verdadeiro workshop de música mexicana, desfilando canções da sua própria verve com clássicos que também tem ajudado a difundir pelo globo fora. Desde “La Llorona” a “Cucurrucucú Paloma” até ao momento festivo que logrou com “Cariñito” (que virou um autêntico hino desta edição do FMM), que o entusiasmado público ficou a entoar enquanto a diva mexicana saiu e voltou ao palco para uma canção extra de encore.

Seguiu-se Rokia Koné que, mesmo nunca tendo verdadeiramente explodido, conseguiu manter a multidão interessada em tudo o que ia produzindo em palco com a sua banda. Situando-se múltiplas vezes à beira de um momento mais bombástico, a maliana demonstrou que as suas composições apreciam existir nesse limiar, que nos faz sonhar com algo mais, mas que logram manter-nos agarrados, como se estivéssemos numa sala de espera decorada de forma superior.

Cimafunk foi o artista seleccionado para encerrar as portas do Castelo de Sines nesta primeira jornada por estas bandas. E que concerto extraordinário o showman cubano efectuou, superiormente acompanhado por uma banda cujos elementos mereceriam um destaque individual, sem excepção. Tanto assim é que, pese embora a estrela do grupo seja deliberadamente o vocalista Cimafunk, o mesmo vai-se esfumando – de forma consciente – ao longo da actuação por entre os seus comparsas em palco, permitindo-nos respirar todo o aroma musical que o conjunto de instrumentos que o rodeia emana. Foi o chamado festão, com a atitude à la James Brown por parte do vocalista a dar o mote, e a musicalidade a tornar tudo o resto irresistível.

No palco da Av. Vasco da Gama, o vozeirão de Brushy One String mostrou que recompensa plenamente o déficit de cordas que a sua característica viola apresenta, conseguindo hipnotizar a vasta quantidade de festivaleiros tardios que desceu até à beira-mar. A toada quente e melódica serviu na perfeição para ir mantendo os músculos activos, incluindo os faciais, perante a boa onda do autor jamaicano.

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As restantes reportagens podem ser encontradas aqui:
27 de Julho
28 de Julho
29 de Julho



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