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FMM 2023 (29.07.2023)

A folk maleável e desconcertante de B Fachada foi a toada seleccionada para abrir a hostilidades no dia que marcou o culminar do FMM Sines 2023. Mais uma vez em português, o mestre de cerimónias patenteou, na sua forma sui generis, de viola braguesa em mãos (somente com o auxílio de alguns ritmos pré-gravados), as danças e contradanças que provocou na música popular. Com a sua proza sempre mordaz, B Fachada constrói e proclama as suas visões sociais e políticas, quase disfarçadamente, como um bardo dos tempos de modernos que virou a casaca.

Presença relativamente frequente nos palcos nacionais, Céu deu início à etapa nocturna no Castelo de Sines empunhando o seu tributo a outras vozes, «Um Gosto de Sol». Como quem partilha, hoje em dia, uma playlist de Spotify, a doce cantora brasileira foi entoando músicas de gente que respeita e adora, não deixando obviamente de deixar o aroma das suas próprias canções. Tudo isto feito com a base proporcionado por um grupo de executantes tremendo, provavelmente dos mais eficientes que vimos desfilar nesta edição do FMM. Com toda a sobriedade do mundo foram mostrando os seus créditos e dons sem espalhafato, mas sem que isso passasse desapercebido aos milhares que se encontravam à escuta.

O timbre feminino mantinha o seu reinado na actuação seguinte, com Sines a dar as boas-vindas a Nneka. A nigeriana foi-se soltando com o decorrer da sua prestação, mostrando a versatilidade quer das suas vocalizações, quer da sua escrita, desenvolvendo picos de doçura que acabam por contrastar com outros mais fervorosos (tendencialmente em momentos mais políticos da sua discografia). As dicotomias da obra de Nneka registam-se igualmente a nível sónico, dado que em vez de se aventurar bravamente na mistura de correntes tradicionais com modernas, parece optar por abordagens mais convencionais a cada género que visita, tendo o condão de mantê-los frescos e interessantes quase incessantemente.

(n. d. r.: Nneka acabou por aproveitar a visita à costa alentejana para gravar o vídeo que ilustra o seu mais regresso single, “Back And Forth”, que conta com realização de Madjiguene Samb e Edwin Sedjro).

Logo depois da aparição dos Ghorwane, que se mostraram especialistas bem técnicos nas águas da marrabenta, fazendo deles um dos colectivos musicais mais respeitados em Moçambique (e não só), emergiram Os Tubarões, que eram inquestionavelmente o nome maior deste Sábado de FMM, cabendo-lhes o direito de apreciar desde o palco do Castelo o espectáculo pirotécnico já tão tradicional deste evento. Sabendo que as bandas devem e merecem exibir todos os recantos da sua história, e pese embora a lindeza das suas baladas, os famosos cabo-verdianos acabavam por afrouxar os ânimos com esses ritmos mais lentos. Talvez houvesse espaço para um alinhamento mais consentâneo com as hostes de um festival deste tipo, mesmo incluindo as mornas mais longas. As portas do Castelo de Sines encerraram após uma apoteose geral sentido após a interpretação do clássico “Djonsinho Cabral” e de um encore igualmente entretido, embora com menos loucura.

As restantes reportagens podem ser encontradas aqui:
26 de Julho
27 de Julho
28 de Julho



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