Franz Ferdinand & Medicine Cabinet @ Campo Pequeno

O passado e o futuro do rock escocês.

Depois de adiado devido à pandemia, no dia 29 de Outubro o Campo Pequeno recebeu o regresso dos escoceses Franz Ferdinand a Portugal, 3 anos após a sua última atuação no North Music Festival. O concerto fez parte da tour de promoção da compilação “Hits to the Head”, editada no inicio deste ano. A primeira parte ficou a cargo dos compatriotas Medicine Cabinet.

Apenas com dois singles lançados pelos próprios, a banda que se formou após um “right swipe no Tinder” tem sido apontada como uma das mais promissoras por terras escocesas. Embora se auto proclamem como uma “riot girl band”, o alinhamento que os Medicine Cabinet trouxeram a Portugal (8 músicas) mostraram uma mescla de influências desde punk ao disco e electropop. A energia foi contagiante do inicio ao fim do espetáculo e souberam aproveitar a oportunidade da melhor forma em frente a uma moldura humana já bastante considerável para assistir ao supporting act da noite. Foi notório que “Signs”, um dos singles da banda, já era conhecido por muitos dos presentes e todo o concerto foi uma agradável surpresa que deixa-nos com vontade de ouvir mais e conhecer melhor o trabalho dos Medicine Cabinet. 

Considerando as óbvias diferenças, de certa forma as sensações ao ouvir os mais novos e pujantes escoceses relembraram-me a forma como em 2004 ouvi pela primeira vez ao vivo os Franz Ferdinand no Optimus Sudoeste. Foi nesse ano que o marcante disco de estreia da banda foi editado e que a simplicidade de “Take me Out” a tornou num dos hinos do indie rock que vivia os seus tempos aureos na primeira década do novo milénio. A energia que a banda demonstrava em palco e que colocava em cada música transpirava para o público e rapidamente se tornaram num fenómeno em todo o mundo particularmente devido aos dois primeiros álbuns, de onde saíram a maioria dos hits que fazem parte desta nova colectânea. 

Em 2022, da formação original apenas se mantém Alex Kapranos, voz e guitarra e Bob Hardy no baixo. Desde 2017 que Julian Corrie e Dino Bardot fazem oficialmente parte da banda, aos quais se juntou, mais recentemente, a baterista Audrey Tait. Embora possa parecer injusto é impossível não fazer comparações entre a formação original e a atual. O que foi em tempos uma banda repleta de carisma, energia e com capacidade de contagiar plateias, tornou-se num “one man show” com um conjunto de músicos competentes que conseguem fazer-nos viajar aos tempos áureos do indie rock despejando um conjunto de clássicos para uma plateia composta por revivalistas na casa dos 40 (give or take) e alguma (pouca) juventude, que, não esgotando o Campo Pequeno, criou um bom ambiente.

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Com uma pontualidade britânica, o concerto arrancou com “The Dark of the Matinée” e rapidamente se percebeu o seu rumo. A brilhante camisa azul de Kapranos centralizava todas as atenções e todas as tentativas para dar “palco” aos mais novos elementos da banda acabavam por ser inglórias. Os hits foram passando mas sempre com a sensação que faltava alguma coisa, aquele tempero especial que caracterizava a banda. Por vezes até se sentiu alguma displicência na forma como algumas músicas foram apresentadas e o indispensável elo de ligação entre público e banda tardava em ser encontrado. Na realidade foi necessário entrar na recta final do concerto para se viverem os melhores momentos no Campo Pequeno. Mesmo numa noite menos inspirada, “Take me Out” consegue sempre colocar uma plateia a saltar e a transposição para “Ulysses” foi fantástica, tendo sido provavelmente a melhor interpretação da noite.

O encore arrancou com o mais recente single da banda, “Billye Goodbye”, tendo terminado em apoteose com “This Fire” onde finalmente a banda conseguiu colocar o Campo Pequeno ao rubro.

Os Franz Ferdinand fazem parte da história do rock e garantidamente têm um lugar na playlist das nossas vidas. Esta passagem por Portugal fez-nos reviver esses tempos mas não apontou um caminho para o futuro da banda.

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