Frida Kahlo
26 das melhores obras da pintora em exposição até 14 de Maio no CCB, em Lisboa.
Frida Kahlo nasceu a 1907 em Coyocán, nos subúrbios de uma cidade do México. Filha de uma Mexicana e de um Alemão, fotógrafo de profissão, desde cedo teve uma vida atribulada, expondo-lhe esta a sua face mais negra; a dos sofrimentos físicos e dos amores difíceis. Aos 6 anos contrai poliomielite, o que a deixa com o pé direito paralisado. Mais tarde, após ingressar no curso de Medicina, que depois abandonaria, admira Diego Rivera, um famoso muralista Mexicano, pelo qual se viria a apaixonar e a viver uma relação – de uma vida – extremamente conturbada. Este era também muito conhecido pelo seu forte activismo de esquerda, que de igual modo viria a influenciar fortemente Frida.
Mais tarde, o seu talento, força de vontade e carisma haveriam inclusivamente de suplantar a popularidade do seu marido e mestre…
Mas o maior incidente que lhe terá dilacerado não só o corpo como o espírito, e que a terá tornado o que hoje dela conhecemos, terá sido quando Frida tinha exactamente 18 anos e, de uma colisão entre a um eléctrico e um autocarro (em que seguia para a escola), terá resultado várias vértebras deslocadas, e um grave problema de coluna que a afectou para toda a vida e, de certa forma, a incapacitou e colocou o sofrimento diário como o seu sentimento mais quotidiano.
Este incidente foi, sem dúvida, o maior ponto de ruptura/viragem da sua vida e que a fez, durante a sua convalescença, iniciar-se na arte, de forma autodidacta. Este incidente e o resultado deste foi, por variadas vezes, abordado nas suas telas muitas vezes em forma de auto-retrato, género que a distinguiu e caracterizou, fazendo-o numa forma muito espontânea de extorsão trágica dos seus piores fantasmas (em 1926, com um espelho por cima da cama, pintou o seu primeiro auto-retrato). É o caso de “O autocarro” de 1929 (numa clara alusão ao acidente), ”Retablo” de 1943 e do famosíssimo “A coluna partida”, de 1944.
De facto, arrisco-me mesmo a pensar que, sem este dramático acidente, nunca teria eventualmente existido a Frida artista, mas talvez uma Frida médica (que era para tal que estudava…). Ou, quiçá, talvez se tivesse mantido o apelo da arte, muito embora, com toda a certeza, este não teria sido tão forte, nem resultado em obras tão marcantes e sinceras. São incertezas desta natureza que, por vezes também nos fazem reflectir acerca da natureza da arte, de onde vem, para onde vai e quais as suas reais motivações.
Passados 52 anos após a sua morte, a sua arte, a sua pessoa e a sua vida tão singular movida por uma fé inabalável na arte, e nas suas ideologias políticas, continua a fascinar milhares de pessoas. Este compreensível fascínio terá inclusivamente culminado num filme sobre a sua vida e obra, magnificamente interpretado pela também mexicana Salma Hayek (que há muito ansiava poder vestir o papel do maior ícone do seu país).
Este ano, depois da Tate Modern e da Fundacíon Galícia em Santiago de Compostela, é a vez de Portugal acolher a maior e mais completa exposição de Frida realizada nas últimas décadas, pela mão do CCB. Esta é realmente uma das mais impressionantes exposições patentes no nosso país nos últimos anos.
Frida produziu cerca de 200 imagens, sendo que nesta retrospectiva 26 obras, as mais importantes, serão apresentadas, como é o caso de o já acima referido “A coluna partida”, ”Uns cuantos piquetitos”, ”Hospital Henry Ford” e “Auto-retrato com macaco”. Esta será também complementada por uma colecção de fotografias e objectos pessoais.
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