Galgo @ Musicbox (29.09.2016)
O futuro, hoje ou o concerto de apresentação de "Pensar Faz Emagrecer", dos Galgo
É fim de Setembro e o calendário diz que o Verão já terminou mas não é isso que sentimos. A noite está quente e à porta do Musicbox em Lisboa vai-se juntando muita gente. Lá dentro os Quelle Dead Gazelle vão estender a passadeira vermelha para os Galgo apresentarem o seu acabado de lançar e mui recomendável “Pensar Faz Emagrecer”.
Todas as ocasiões para ver e ouvir o “Maus Lençóis” dos Quelle Dead Gazelle ao vivo valem a pena e não devem ser desperdiçadas. Na bateria está Miguel Abelaira e na guitarra está Pedro Ferreira. Entre eles há uma simbiose perfeita. Ninguém tem um protagonismo excessivo. Não faz sentido existirem um sem o outro em cima do palco. A guitarra apenas se sobrepõe à bateria quando é realmente necessário. O mesmo se pode dizer sobre a bateria. Ao vivo as canções de “Maus Lençóis” ganham mais músculo, mais fibra, mais identidade. E depois há algo marcadamente português no som da guitarra de Pedro Ferreira; faz lembrar a guitarra de Tó Trips com esteróides (elogio!). O ponto alto da curta actuação foi, como seria de esperar, «Pedra-Pomes», não só porque foi o cartão de visita para o “Maus Lençóis” mas também porque é uma grande canção.
É possível que Alexandre Moniz, João Figueiras, Miguel Figueiredo e Joana Batista estivessem nervosos quando subiram ao palco mas se estavam, esse sentimento abandonou-os bem rápido. O som dos Galgo é diferente do dos Quelle Dead Gazelle. Começa-se logo por notar nas guitarras. São mais e dão outras texturas às canções, quase todas desprovidas de letras. É que a palavra é importante mas nem sempre é essencial. Há casos em que a música pode por si só falar mais alto, e com os Galgo é assim. As influências são várias; há rock, há post-rock e até há espaço para uns pózinhos de afro-beat quando escutamos essa monumento à festa que dá pelo nome de «Skela». A verdade é cada canção é uma montanha-russa. Sentimos um pouco de PAUS (outro elogio!) e também de Memória de Peixe (sim, mais um) mas também temos os Galgo e este é o maior elogio que podemos fazer. Há aqui uma identidade própria e que se quer dar a conhecer.
O passado também é uma parte indissociável de nós e por isso escutamos «Dromomania», «Torre de Babel» ou «Monte Real», canções do anterior ”EP5”. Mas é pelo “Pensar Faz Emagrecer” que estamos ali e os Galgo asseguram-se de nos lembrar disso mesmo. Escutam-se canções como «Balanço», que começa quase como um sussurro mas rapidamente bate o pé. Primeiro com uma guitarra cortante e um baixo agressivo a marcar o ritmo até abrandar. Depois com um magnífico momento em que as guitarras criam um dos melhores momentos do “Pensar Faz Emagrecer”. É post-rock, senhores, é post-rock. Em «Pivot» escutamos o verso que dá título ao álbum. «Sabine», que surge logo a abrir, com a bateria a cavalgar e as guitarras a desenharem os contornos da canção, que é complementada pelo teclado. Em «Tokutum» há uma urgência quase palpável, como sangue a palpitar nas nossas veias. Goya é o nome de pintor espanhol, conhecido (entre outras coisas) pelos seus retratos. «Goya» é também o nome de uma canção dos Galgo que é um perfeito retrato da sonoridade que os Galgo nos oferecem em “Pensar Faz Emagrecer”. Houve ainda tempo para um regresso ao palco do Musicbox para voltar a tocar a «Skela» porque já tinham tocado tudo o que podiam tocar e porque a vontade do público para escutar mais canções era muita. Foi uma bela noite.
Fotografia por Margarida Ribeiro
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