Gás Magenta

Gás Magenta

A entrevista com a banda que inaugura a festa do 10º aniversário da RDB no Musicbox Lisboa, já no próximo dia 16 de Novembro

Não vais gostar de Gás Magenta. Gás Magenta não fica bem nem é socialmente correcto. A tua mãe acha que Gás Magenta é uma má influência. Apesar de lhe ralhares várias vezes, Gás Magenta vai obrar outra vez no tapete da sala. Gás Magenta não quer saber de ti e dos teus sentimentos. Gás Magenta vai mentir e dizer-te que está a ter prazer. Não vás a um concerto deles, não ouças a música deles.

É desta forma algo sui generis que se apresentam os Gás Magenta, banda que nasce das cinzas dos Alucina, Bellenden Ker e Iconoclasts, projectos por onde passaram o Fábio Cardoso, a Margarida Martins e o Sérgio Dinis. Há também um açoriano, o Pedro Rodrigues, a rematar a composição, mas dizem-nos que “vem com legendas”, por isso está tudo bem.

“Está tudo bem” é, aliás, o título do primeiro álbum da banda que sairá com o apoio da RDB. Por isto, e porque o concerto de apresentação em exclusivo deste registo acontece já no próximo dia 16 de Novembro no Musicbox Lisboa, às 00h00, inserido na festa do 10º (10º?!?!) aniversário da Rua de Baixo, sentimos que deviam deixar de ser um segredo bem guardado para serem partilhados convosco.

A entrevista é apenas o aperitivo; as surpresas estão guardadas para o concerto!

Introduz-nos os Gás Magenta. Quem compõe este grupo de músicos que não quer saber de mim nem dos meus sentimentos?

Sérgio Dinis: Gás Magenta – nós! – são o Fábio Cardoso, a Margarida Martins, o Sérgio Dinis e o Pedro Rodrigues. O Fábio, que é quem canta e escreve as letras, é natural do Rio de Janeiro, apesar do sotaque português de quem viveu a vida toda em Lisboa. A Margarida, que também canta e toca baixo, é natural da Covilhã. Eu sou o Sérgio, toco guitarra e sou natural de Lisboa. O Pedro, que é quem toca bateria, é natural de S. Miguel, Açores. Ele vem com legendas mas nós já percebemos mais ou menos o que ele diz. Nós vínhamos de projectos anteriores cá em Lisboa – o Fábio dos Alucina, a Margarida das Bellenden Ker, eu dos Iconoclasts -, e como já nos conhecíamos através de amigos em comum decidimos começar a tocar a juntos. Fizemos os primeiros ensaios em Setembro de 2012 e o Pedro entrou no final de Dezembro desse ano. É claro que nós o quatro queremos saber dos teus sentimentos, estamos só a fazer-nos de difícil para tu depois nos dares mais valor.

O vosso cartão de visita é no mínimo original. O que está por detrás deste vosso texto de apresentação?

Sérgio Dinis: A ideia foi minha, mas todos nós alinhámos nisto. As apresentações das bandas são quase sempre uma conversa pretensiosa, previsível e politicamente correcta. Nunca ficas com vontade de querer saber mais sobre eles. Podíamos dizer-te que somos um projecto de revivalismo proto-punk com sensibilidades rockabilly, mas isso não quer dizer muito no jornalismo musical de hoje em dia. A informação começa a ser tão genérica que se dilui. Nós apresentamo-nos com um “olá” e uma tirada, como um garanhão no bar – se depois quiseres pagar-nos uma bebida e ouvir a nossa música, tiras as tuas conclusões sem o folheto promocional.

Há nesta nova composição influências dos projectos individuais em que participaram?

Sérgio Dinis: Nós somos sempre a soma das nossas experiências, e o que trazemos de trás é sempre uma mais-valia para o que queremos fazer. Contudo, isso não quer dizer que nós soamos a Alucina+Bellenden Ker+Iconoclasts. Há coisas que queríamos experimentar em projectos anteriores, mas que só fazemos agora com Gás Magenta. Há maneiras de tocar que alguns de nós trazemos na manga porque está no DNA de cada um. Quem sabe dos nossos projectos anteriores vai reconhecer jeitos familiares, mas também vai encontrar muita coisa diferente.

Fábio Cardoso: Aliás… um dos termos muito usados nos nossos primeiros ensaios de composição, foi “sair da zona de conforto”. Procuramos sempre fazer coisas diferentes do que já tínhamos feito noutros projectos, porque afinal de contas era o momento certo para o fazer. Mas por outro lado todos quisemos ouvir uns aos outros nos seus outros registos, para ter uma ideia do que poderíamos “sugar” de cada um. Eu diria que aquilo que cada um de nós fez ou faz individualmente ou colectivamente com outras bandas foi essencial para a rápida adaptação que tivemos uns aos outros e compreensão dos caminhos que devíamos explorar.

Quais são as linhas orientadoras dos Gás Magenta?

Sérgio Dinis: Nós começámos a entendermos-nos num terreno comum do punk dos anos 70 – The Clash, Ramones, Buzzcocks, etc -, mas depois acabámos por explorar coisas diferentes. Também gostamos de rock psicadélico, de folk, indie pop, montes de coisas. Às vezes ouves Bob Dylan, Pixies, PJ Harvey ou Censurados num soundcheck nosso. Mas isto é apenas o que gostamos de tocar até agora; como ouvintes de música gostamos de muito mais. A pergunta das linhas orientadoras é sempre um bocado complicada porque é meio limitadora. O nosso material novo pode ser tanto country, como new wave, como lo-fi, vai tudo depender do sítio para onde estivermos virados.

Fábio Cardoso: Eu diria ainda que basicamente tudo o que foi ou é considerado rock alternativo é bem capaz de ser uma influência nossa. Noutro dia escrevemos um texto a dizer que somos uma mistura de guitarras e vozes punk/new wave dos anos 70 com estruturas evocativas do indie americano da década de 90, com alguns traços de americana moderna. Mas se fizerem essa pergunta daqui a duas semanas, a resposta talvez já seja influenciada pelo som dominante da nova música em que estivermos a trabalhar nessa altura.

Dia 16 de Novembro será a apresentação do álbum “Está tudo bem” no Musicbox Lisboa. Explica-nos o porquê do título

Fábio Cardoso: “Está tudo bem”, é uma das saudações mais frequentes na língua portuguesa, mesmo em alturas em que “está tudo mal”. É uma espécie de conclusão antecipada: “seja o que for que vamos falar, fica sabendo que no final de contas eu estou bem”. Ou uma espécie de inevitabilidade: Está tudo bem (Que remédio?!). Gostamos da verdade e da ironia que a expressão carrega. E claro, surgiu como hipótese pois é um excerto de uma letra duma canção presente no álbum, que é a «Morde-me o pescoço».

Querem contar-nos um pouco sobre o álbum?

Fábio Cardoso: O álbum tem 12 temas, dos quais só existiam esqueletos de dois ou três antes de nos conhecermos. Na verdade são 11, com duas versões da mesma canção. Tem um carácter visivelmente exploratório. Passamos de registos com groove, para outros para “partir pescoço”, passando por outros mais intimistas. Passamos do tom sério para o sarcástico e do saudosista para o humorístico, mas penso que sempre com uma identidade própria. Alternamos a minha voz com a da Margarida. Ela assume a voz em algumas músicas, eu noutras e os dois em várias. Exploramos o conceito de backing vocals como que as querendo trazer para a frente. As canções «Deve / haver», «Qualquer coisa vaga» e «Os becos» são, por esta ordem, aquelas que escolhemos como canções de apresentação, pois são as que consideramos mais próximas do que deve ser um single representativo do som da banda. Mas poderíamos eleger a «Johnny sem Cash» como o nosso “momento boa onda”, a «Gás pimenta» como o nosso “momento Riot” e a «Mais melhor» como o nosso momento intimista.

Há surpresas na calha para este concerto?

Fábio Cardoso: Claro que há. Vamos tocar temas que nunca foram tocados antes ao vivo, sendo que um deles é um cover. As restantes surpresas ainda estão a ser trabalhadas. Gostamos da ideia de trazer sempre qualquer coisa nova cada vez que tocamos ao vivo. Optamos por assumir este ano como de preparação, composição e gravação. Este concerto marca o início dum ciclo ao vivo para nós. Vamos estar em muito boa forma.

E os próximos passos?

Fábio Cardoso: No curto prazo vamos apostar ao máximo na divulgação e distribuição do nosso álbum, que estará disponível no nosso Bandcamp para audição e compra em formato físico e digital. Estará disponível em algumas lojas também. Vamos apostar em conteúdos de vídeo, entrevistas, showcases e afins. A nível de concertos, estaremos no Offbeatz em Dezembro e temos umas quantas datas na calha em Lisboa e fora mas que não podem ser ainda divulgadas. No médio prazo, queremos ganhar calo no palco e começar a trabalhar em material novo para um próximo álbum. Estamos felizes com o nosso primeiro trabalho, ansiosos para confirmar se vai ter a boa aceitação revelada nas músicas que já apresentámos, mas curiosos para saber como será o segundo álbum.

Querem deixar alguma mensagem aos nossos leitores?

Fábio Cardoso: Sim. Venham ao Musicbox Lisboa no dia 16 de Novembro conhecer-nos e celebrar os dez anos da Rua de Baixo, oiçam o nosso álbum, comprem, espalhem a palavra, façam amor e sejam felizes.



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