Ghoak – SomeAreWeird

Nova esperança da electrónica. Música Experimental ao mais alto nível em análise e pequena entrevista à nova esperança da electrónica.

A música portuguesa está sem dúvida a evoluir. São novas tendências que surgem, novos caminhos a serem explorados e um grande número de artistas com grande qualidade a surgir. Os vários géneros musicais têm tido uma evolução imensa. O hip-hop feito em Portugal está cada vez mais forte, na música de dança temos artistas de nível internacional e na electrónica surgem cada vez mais projectos que merecem uma maior divulgação devido à grande qualidade que apresentam.

Na cena electrónica em Portugal, uma editora tem vindo a destacar-se devido à sua coragem e aposta naquilo em que acredita. A Thisco sabe que existe para uma minoria mas também sabe que essa minoria gosta mesmo do trabalho desenvolvido pela mesma. Para além das compilações de grande qualidade que nos têm vindo a apresentar, surge este ano um trabalho surpreendente de um jovem de Leiria, com apenas 18 anos que nos mostra que a música não tem qualquer tipo de barreiras nem pré-definições.

Ghoak, é o nome dado por Carlos Nascimento ao seu projecto. Um projecto que recai principalmente na arte de experimentar sonoridades, quebrando todas as barreiras estéticas. Este ano foi editado o seu primeiro trabalho “Someareweird”. Treze temas, que demonstram todo o espírito criativo de Ghoak e que nos transportam para uma realidade preenchida por acasos, sons e artifícios. Faixas marcadas principalmente por um break beat expansivo e um caos que ao mesmo tempo é descontrolado e muitas vezes cómico. Um humor bem patente nos títulos das faixas (“olá eu sou uma meia” ou “a agressão da beringela”, por exemplo), que são bem expressivos em relação ao seu conteúdo. Um albúm que nos mostra a comédia da vida, onde pólos opostos se tocam e ultrapassam as fronteiras do convencionalismo. Fica aqui bem demonstrado que a música, como arte que ostenta ser, não tem que ser obrigada a seguir padrões e directivas. A arte é feita a partir da criatividade do artista e das suas formas de a pensar e de a concretizar. Um passo em frente na electrónica feita em Portugal e um disco a não perder para todos aqueles que não têm medo de experimentar.

Em seguida, deixamos aqui uma pequena entrevista feita ao Carlos aka Ghoak.

RDB – Como é que surgiu o interesse pela electrónica e o experimentalismo? Com que idade?

Ghoak – O interesse pela electrónica surgiu após alguma dedicação à electrónica própriamente dita e ao djng. Eu tinha cerca de 15 anos quando tive o meu primeiro contacto com software de síntese de som, na altura o Rebirth 338 da Steinberg. O experimentalismo surgiu mais tarde na tentativa de seguir um rumo próprio.

RDB – Quais as tuas principais influências (se é que tens algumas)?

Ghoak – Grande parte das minhas influências provêm do meu pai e do meu primo João Cachulo. O meu pai mostrou-me coisas que hoje acho espectaculares como Weather Report, Pink Floyd e Genesis… na altura eu não devia ter mais de 8 anos (tenho uma memória péssima). Por outro lado, outra das minhas maiores influências foram os tempos que passei com o meu primo em frente a um Amiga. Vários artistas que vim a descobrir mais tarde marcaram definitivamente o meu rumo, entre eles Aphex Twin, Autechre, Mouse on Mars, Can, Max Tundra, C.J. Boland, FSOL, My Bloody Valentine, etc.

RDB – Como é que começaste a produzir temas?

Ghoak – Sempre trabalhei com o computador que na verdade acho que é um instrumento espectacular. Depois de alguns tempos passados a explorar o Rebirth ouvi falar do Reason, também da Steinberg, e apressei-me a explorá-lo também. A partir daí comecei a gravar algumas experiências que mais tarde começei a arrumar numa gaveta.

RDB – Quais foram as principais dificuldades?

Ghoak – Basicamente o facto de ter de estudar e de não possuir grandes meios para comprar material. No entanto acho que isso me deu hipótese de explorar cada coisa no seu todo e tirar o melhor proveito do equipamento que comprei.

RDB – Achas que consegues “catalogar” a tua música?

Ghoak – Podia tentar mas não quero. Ao fazê-lo estaria a limitar a ideia da música que faço, uma vez que a definição de electrónica ou de experimentalismo é muito diferente de pessoa para pessoa e logo estaria a dar às pessoas uma ideia errada daquilo que eu tenho em mente.

RDB – Estudas? Estás a pensar seguir algum curso, ou a carreira no mundo da música é aquilo que queres seguir profissionalmente?

Ghoak – Actualmente estou no secundário. Tenho intenções de seguir Eng. de Som e Audiovisuais não deixando a música de parte, é claro.

RDB – Como surgiu o contacto com a This.Co?

Ghoak – Um disse ao outro e esse disse àquele que por sua vez se chamava Carlos Matos. Mentor do projecto Plaztik Leiria Bomberz e de grande conhecimento musical, foi ele que tornou possível todo este projecto. O Carlos falou com Luís Seixas da This.co e fez-lhe chegar uma cópia. A this.co gostou do trabalho e eu estou aqui.

RDB – O que pensas da This.co?

Ghoak – A this.co é uma editora independente com uma política muito própria. Têm uma escola industrial atrás deles que lhes confere um estatuto alternativo com o qual eu achei que seira interessante colaborar. Eles estavam dispostos a pôr o CD cá fora e eu aproveitei. No fundo, estou-lhes imensamente grato por toda a promoção e aposta (em conjunto com a loja Alquimia e Fonoteca Municipal de Lisboa) neste projecto.

RDB – O que achas do movimento electrónico em Portugal, nas suas diferentes vertentes?

Ghoak – Do panorama que eu conheço, temos uma grande quantidade de pessoas a produzir trabalho, grande parte das vezes bastante interessante. Temos editoras empenhadas em moldar um estatuto diferente para o cenário electrónico português como a This.co, a Variz, a Zounds, etc. Penso que o que faz falta é uma maior promoção do alternativo e não uma divulgação do pseudo-alternativo. Por outro lado acho também que há muitos bons artistas com trabalhos escondidos nas gavetas que deviam expô-los ao público e contribuir dessa maneira para um desenvolvimento cultural electrónico e artístico.

RDB – É complicado encontrar uma editora que aposte em projectos como o teu? O que achas do mercado?

Ghoak – No que toca ao mercado Português acho que ainda é um pouco difícil emobra eu tenha tido alguma sorte. É um mercado ainda pouco receptivo na minha opinião a este tipo de sonoridades. Quanto ao estrangeiro acho que há muitas editoras, todas elas com sons diferentes, sempre à procura de nova gente. Não custa nada tentar a sorte.

RDB – Sabes se o teu disco tem vendido muito?

Ghoak – Superou as minhas expectativas no dia de lançamento. Neste momento não tenho informações suficientes acerca da venda do cd mas julgo que está tudo a correr óptimamente.

RDB – O que ouves hoje em dia?

Ghoak – …Black Dice, Supersilent, My Bloody Valentine, Fennesz, Aphex, Autechre, Chris Clark, Leila, Manitoba, Jan Jelinek, algum Jazz, etc.

RDB – Já estás a trabalhar em novo material? Alguma edição prevista para os próximos tempos?

Ghoak – Estou continuamente a trabalhar em material novo. Ainda não tenho mais nenhum projecto definido… tenho pensado num EP para breve mas ainda está tudo na cabeça.

RDB – Vais continuar a trabalhar com a This.co?

Ghoak – Enquanto a This.co trabalhar comigo.

RDB – Espectáculos? Alguma coisa na carteira?

Ghoak – Tenho um ainda não confirmado para finais de Novembro na ZDB em Lisboa e outro já marcado para 10 de Novembro na Casa dos Dias d’Água também em Lisboa para apresentação de um projecto.


RDB – O futuro ? O que prevês ?

Ghoak – Adivinho uma maior estupidez e insanidade que irão acabar por dar em algo parecido com um porco general.

that’s it!



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