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Ginga Beat_On Air

Lux, 25 Fevereiro

Ginga Beat é um programa da Red Bull Music Academy Radio construído pelos gostos de Rui Miguel Abreu, DJ Mpula, Violet, e DJ Ride – na sonoplastia. Não sendo  só um programa de rádio, na quinta-feira passada, 25 de Fevereiro, numa emissão especial de 2 horas transmitida ao vivo e em directo do centro da pista de dança do bar da discoteca Lux, para todo o país – via Antena 3- Ginga Beat On Air assinalou o seu primeiro aniversário de emissões semanais.

Ginga Beat está no ar todos os Domingos entre as 13h e as 14h. Absorvendo as mutações de géneros musicais de manobras subterrrâneas – protagonizadas pelos dubstep e wonky  em Londres, passando pelo disco Norueguês, o angolano Semba e com as dinâmicas culturais de expressão portuguesa tão bem representadas pela equipa do Ginga Beat- chamam-lhe entre outras coisas, um satélite sobre o continente africano; da Soul ao Funk, entre o Hip-Hop, a Electrónica e mais o que a imaginação livremente desejar. Motivos de sobra, com quem ginga, para o celebrar todas as semanas e em particular ao vivo nesta noite.

Num estúdio de rádio montado no centro da sala, sem barreiras nem separadores , por ali passaram durante 2 horas  convidados como,Martyn, Markur, Infestus e Bonga.

À conversa com  Rui Miguel Abreu,  Martyn – um holandês que não engana (na Holanda tudo é grande) -ouvimos e anotámos o interesse que o próprio tem ganho em trabalhar com vocalistas (Olá D-Bridge). Com Martyn a residir actualmente nos Estados Unidos, imaginamos  múltiplas hipóteses. E um D’Angelo num tema do Martyn? Mas, continuámos a gingar com ainda mais vontade.

Na segunda hora, foi Infestus – um dos agraciados por ter sido seleccionado para a edição de 2010 da Red Bull Music Academy em Londres, da qual o Ginga Beat está associado desde nascença – a ser recebido no feminino por Violet, Markur dos Photonz, completou a representação do contigente luso, na RBMA 2010, academia de talentos.

A finalizar, em diálogo espontâneo com o Dj Mpula, Bonga, um autêntico showman,  (assim o provou ser, caso fosse preciso) que  num dos momentos mais altos da emissão Ginga, conquistou uma ovação de despedida e fecho de emissão cantanto parte de “tenho uma lágrima no canto do olho”.

Não obstante algum burburinho dos convivas na plateia, em momentos ruidosos, que nem sempre permitiam ouvir a  conversa que se adivinhava, pelos soundbytes que de lá brotavam, do que foi permitido escutar todo o Ginga Beat está de parabéns!

A Batida teve honras de abertura da pista em que se tornou o bar do Lux após o Ginga Beat On Air, e em estreia absoluta ao vivo em Lisboa, não precisou de rodeios para conseguir uma boa reacção do público. Muita animação, alguma euforia inclusivé , visivel, por exemplo, ora num punk-rocker que dançava lado- a – lado com um rapaz que poderia ter saído dos escritórios de um qualquer Banco.

Constituindo surpresa para quem não estava a par dos galardões do projecto conduzido por DJ Mpula, e porque são muito mais que o incontornável “Bazuka”, a Batida transportou para o interior das paredes do Lux, as tonalidades duma certa música de dança, que conhece a fonte. Vai a África. E partilha-a. Durante intermináveis delirios provocados pelo Kuduro, há abordagens num afro-house inflamado, pensámos em estetas contemporâneos que partilham afinidades com a Batida: o Mujava, o Culoe De Song; há piscares de olho, conscientes, ao Kwaito, ao Afro-Beat. Livros de estilo que se servem de uma precisão ritmica usados e repetidos imparavelmente. Tudo em família. Todos nos revemos num casal de dançarinos trazidos pela Batida. Em várias batidas, enroladas numa só. Nas ilustrações projectadas que os acompanharam, com as cores quentes de África, a sentir os sabores e os cheiros tão efectivo foi o efeito . Observador, e protector. E em espirito, tão bem presente em particular tomando a forma dum turbante que numa profética dica de um dos vários Mc’s da Batida, ordenou: “Velho que esperas em vão,Levanta!!”.

Melhor deixa, a anunciar DJ Ride, que se seguiu, seria dificil.

De DJ Ride, não se poderia esperar outra coisa -em plena fase crescente que a sua produção se tem encarregue de o demonstrar, ora, gigando nas ondas de som psicadélicas- que não um set assente em duas qualidades essenciais,que não só pudessem dar continuidade ao balanço dançante que a Batida impôs, como trazer uma espécie de apelo cerebral, que se lhe exige. De cabeça levantada, que não só acompanhasse como guiasse os pés. Fazendo uso da sua habitualmente diversificada palete de estilos, no electro vai-se ao dubstep, -“Ai, Tão bom!!”, ouvia-se de  uma rapariga que gingava – uma volta transversal, ou várias, no hip-hop, com argumentos que justificam uma certa aura que já o envolve.

Habilidoso quando manipulou Kanye West, The Prodigy, Dr.Dre, Joker ou Lil’Wayne, a virtude de DJ Ride vem ao de cima quando modela padrões ritmicos abstractos, complexos, que nas suas mãos se tornam simples. Como se brotasse dele mesmo. Materializando-os em puro deleite áudio.

Notável manipulador de graves, sub-graves, frequências e sub-frequências, sintéticos coloridos; massas das quais se obtém o mais rico liquido auditivo, tornados num contínuo groove cinemático, recompensador para quem o assimila, O coração palpita, DJ Ride é experiente, conhecedor do público que o consome, e se é na qualidade de arriscar quando assim julgou fazê-lo e prolongá-lo, que obteve os resultados mais estimulantes, foi poderoso quando assim o fez, nem por um segundo deixou de ter o público na mão.

Apesar de na sua maioria, as pessoas nem sempre saberem como reagirem aos impulsos mais cerebrais que provinham do sistema sonoro. Com a perfeita noção de que o set lhe correu de feição, assistimos a um Ride entusiasmado e entusiasmante. Com a sensação de dádiva a invadir-nos conforme se aproximava o final, sucessivamente adiado, o que ia servindo, e bem, para prolongar o êxtase.

Recebido pelo próprio Ride, com quem partilhou inicialmente e durante cerca de meia hora uma divertida sessão mete-disquista, Infestus, o timoneiro que se seguiu, apresentou um set fluído, assente maioritariamente num drum n’ bass rápido, bastante dançavel, mainstream. Nem sempre apelativo, contudo, seguro. Animado, com assinalável savoir-faire técnico e evitando incursões por subgéneros mais radicais. Terá tido, não só o problema da sucessão, é dificil ocupar o mesmo lugar depois do bravo DJ Ride, como também, no piso de baixo, Martyn, motivo que levou muita gente ao Lux nesta noite ter iniciado funções aproximadamente à mesma hora.

Entretanto, pela primeira vez no Lux , numa cabine de dj disposta na casa-de-banho das senhoras, sim, verdade, Ka§par entregava um outro sentido a “In The Club”. Sofisticado e etéreo, traçando toda a espécie de delirios sonoros aquáticos, como é sua imagem, adivinhou-se um dos lounges mais compostos da noite.

Na cabine da discoteca, os Photonz já se entregavam. Que se saiba, com Martyn que viria depois a ocupar o espaço, não têm nenhum registo gravado em comum, em conjunto. Tão marcante foi a ligação que que souberam criar, nesta noite, que a questão se poderia colocar: Os 2 Photonz e o Martyn foram um só?  E aí, nessa conjugação de vontades, a valorização da noção de espaço e tempo, determinante, e a interacção obtida com as pessoas foram as razões primordiais de uma experiência inesquecivel.

Se o intuito foi juntar a explosão criativa do holandês Martyn; impulsionador duma vaga de dubstep que vem do drum n’bass, e do techno, onde tem sido pioneiro, com resultados práticos à vista num dos melhores documentos de música de dança recentemente publicados, falamos da estreia em álbum “Great Lenghts”; à natureza inventiva da dupla Photonz que o antecedeu, a prática foi sublime.

Particularmente ilustrada durante uns bons minutos em que os 3 ocuparam, em simultâneo a cabine. Alternando-se harmoniosamente, Photonz e Martyn; sets ligados umbilicalmente por uma qualquer conjugação cósmica propagaram-se. Criando ondas de puro magnetismo que resultaram na combustão acelerada dos corpos e num frenesim de puro deleite dos sentidos. Tão incrivel foi a segurança demonstrada pelos Photonz no processo de humanização de máquinas melódicas, em gestos que “orgânico” ou “emotivo”, termos progressivamente esvaziados em sucessivas utilizações, ficam aquém do efeito sentido transmitido pela marca autoral dos Photonz. Como nos estímulos sensiveis sobre o signo tecnológico, propagados pela vigorosa demonstração de que Martyn é um dos mais influentes novos produtores, no campo do que é novo, do que se descobre (Será dub, será techno? É o Martyn!) deixaram-nos o cunho muito especial de um ginganço irrepetível.

“Uma noite fantástica”, proferida a sorrir, com aquela certeza rara, traduz igualmente o que aconteceu, sem grande prejuízo de rigor.

Angola também está na Almirante Reis e outras visões contemporâneas em technicolor, com a adequada sonorização: A Batida está em todo lado? Esteve.

foto: Hugo Silva / Red Bull Music Academy



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