Glockenwise @ Musicbox (01.03.2024)
No Musicbox celebrou-se com muito amor e dedicação um ano de “Gótico Português”, que como Nuno Rodrigues tão bem colocou já perto do fim do concerto, apresenta-nos o Rock Andrógino (as maiúsculas são propositadas), um “rock para pessoas que querem ser nossas amigas”. Quaisquer outros rótulos que possamos pensar, perdem todo o sentido perante isto. Mas voltemos um pouco atrás.
Há muitos amigos e há fãs que, canção após canção, celebram mais do que um álbum, todo um percurso, que teve fazes de maior urgência para depois se passear de forma sublime por terrenos em nada alheios ao post-punk e é fácil imaginar uma realidade alternativa em que se o Robert Smith fosse de Barcelos poderia perfeitamente integrar os Glockenwise (elogio!).
Começamos pelo fim de “Gótico Português”, com «Vida Vã» e visitamos “Plástico” logo de seguida, com «Sempre Assim». “E o que é melhor para ti / Também é melhor para mim”. Palavras bonitas recebidas com sorrisos. «Muito para dar» é um tricot delineado pela guitarra.
Voltamos ao Gótico porque é ele que nos “deu” o pretexto (perfeito) para ali estarmos. O Gótico é meticuloso, harmonioso e proporcional. «Natureza» é isso mesmo, com a salpicar-nos, sob a cadência constante da bateria e do baixo, até desaguarmos no momento em que a canção se ergue.
Continuamos a saltitar entre “Plástico” e “Gótico Português”, ao som de «Moderno» e «Margem». Segue-se a introspecção de «Água morrente» e uma dedicatória ao Xico da Ladra, antes do quarteto se lançar a «Dia Feliz». É bonito. “Hoje foi um dia feliz / Tratei o que tinha a tratar / Voltei de onde tinha de vir / Hoje foi um dia feliz / Nada de novo a relatar / E então, como foi para ti?”
A urgência de «Gótico Português», canção homónima do álbum que se celebra não passa despercebida, com os teclados que, pelo meio, por uns segundos nos deixam em suspenso. Já perto do fim há tempo para reflectir sobre o álbum e mundo em que vivemos; “Gótico Português” foi o disco que os Glockenwise tinham de escrever quando apenas apetecia chorar. Estávamos então em tempos de pandemia e o mundo não estava muito bem. A verdade é que agora não está melhor. Antes pelo contrário.
«Deixar ferver» e «Bom rapaz» antecedem o «Calor», sem o Rui Reininho, e que tão bem fez a ponte entre “Plástico” e “Gótico Português”, a fechar um concerto bonito e intenso.
Celebrámos!
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