Guadalupe Plata | “Guadalupe Plata”
Bons ventos e óptimos casamentos
“De Espanha, nem bons ventos, nem bons casamentos”, reza o dito popular sobre tudo o que surge associado a nuestros hermanos… Acontece que nem tudo pode ser incluído nesta redoma e os Guadalupe Plata são perfeito exemplo disso. Quem diria que, a escassos quilómetros desta por muitas vezes considerada província espanhola, viria um blues rock idêntico àquele feito do outro lado do atlântico, há várias décadas atrás. Fazer play neste álbum é semelhante a entrar no Delorean de Marty McFly e viajar até à cidade de Los Angeles em 1967, onde quatro tipos lançavam o seu primeiro álbum, altamente influenciados pelo psicadelismo da época. Tal obra de arte viria a servir de base para muito do rock feito a posteriori. E este conjunto oriundo de Úbeda não escaparia a tal contaminação.
Pó, muito pó expelem estas cordas arranhadas por Pedro de Dios (guitarra), e Paco Luis (baixo), que nos fazem imaginar cenários a preto-e-branco de estradas infinitas e motéis badalhocos. Sim, estamos de volta aos Estados Unidos dos The Doors. Os próprios Guadalupe Plata auto-rotulam o seu som como “americana made outside of America”, não podemos fugir à evidência. Mas um ligeiro factor sobressai por detrás da sujidade destas guitarradas ásperas: a voz. Sim, essa mesma que faria todo o sentido ser cantada na língua de Morrison é, neste caso, arremessada, maioritariamente, em Espanhol e, por mais incrível que possa parecer, não soa mal. Nem faz o mínimo de confusão. Até pelo contrário. E tudo começa pela «Break on Through (To The Otherside)», ou neste caso «Rezando», onde ficamos algum tempo à espera do célebre verso «You know the day destroys the night, night divides the day», até que uma voz em Castelhano nos retira deste limbo e nos relembra que afinal estamos na província de Jaén, em Espanha. E que bem que continua a soar.
Valha-nos Nossa Senhora de Guadalupe – santa padroeira da Cidade do México, e do País que o quarteto norte-americano visitava em busca da fé camuflada em peyote – este álbum é mesmo bom (será que há peyote em Espanha?). Pouco mais poderá ser transmitido através de palavras em relação a este disco. O melhor mesmo será convidar o leitor a dispensar uns minutos e ouvir esta pequena obra, oriunda de terras de Cervantes, sob promessa de não se arrepender. Dançará ao som do «Funeral de John Fahey», balançará o corpo em «Voy Caminando» e recordará alguma da sonoridade de Stevie Ray Vaughan em «Jesus Está Llorando 2». Numa década em que reina a música pré-formatada, criada nos fornos das editoras multinacionais, mães de artistas artificiais e sem alma, sabe bem ouvir estes projectos tão cheios de identidade e (alguma) originalidade.
Os Guadalupe Plata actuam na próxima edição do Optimus Primavera Sound, no Porto.
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