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H3 – Grupo de Rua de Niterói no Alkantara Festival

Da rua para o palco há um fôlego na dança contemporânea.

O que já viu o Teatro Nacional de S. João é o que vai ver esta sexta e sábado (28 e 29 de Maio às 21h00) um espectáculo que será sempre associado à rua. «H3» é do Grupo de Rua de Nitéroi e não é só pelo nome do grupo que o brasileiro Bruno Beltrão coreografa e dirige que o associamos à rua. A associação faz-se quando se vêem em palco nove bailarinos masculinos a moverem-se e encararem-se à imagem dos códigos da atitude de rua de cidades maiores que homens sozinhos. Como confrontos a dois ou a três, os bailarinos vestidos com t-shirt e calças de ganga misturam Hip-Hop com laivos de Capoeira, Artes Marciais e Ginástica como disciplina. Pelo menos assim sugere. Mas é sobretudo dança contemporânea.

Nestes dias em que os programas de televisão exibem castings e dança de todos os géneros a explorar a acrobacia – quanto mais arrojada mais pontos – «H3» é arrojado e tem acrobacia também… tem ritmo tem corrida. Há movimentos que parecem improvisos mas que são totalmente disciplinados e que nos remetem, tal como a banda sonora a espaços, para o condutor que não se deve encarar olhos nos olhos, para os pombos no trânsito, para as máquinas de obras ou de um futuro cibernético. Tudo é rua esta rua é no palco.

Ao longo de cinquenta minutos o palco torna-se maior (as luzes iluminam tudo o resto daquilo que não vemos no início). Os bailarinos cruzam-se perigosamente sem semáforo nesta tal rua que se faz do barulho deles, das respirações, dos movimentos e das sapatilhas que se manifestam nos intervalos da percussão. O desenho de luz, sempre ele, faz com que as corridas em marcha à ré – chamemos-lhes assim – pareçam ter uma velocidade a dobrar da parte dos intérpretes que desaparecem como hologramas que perdem visibilidade. É uma espécie de segredo da coreografia que se vai abrindo e mostrando o Backstage, onde os bailarinos descansam, bebem água e preparam-se para mais um confronto que termina perto da boca de cena.

Bruno Beltrão reinventa o Hip-Hop conforme se propôs há cerca de cinco anos, trabalhando os seus cruzamentos com todas as coreografias possíveis. Mas Bruno Beltrão faz mais: reinventa a dança contemporânea e dá-lhe, provavelmente, um fôlego sem complexos.



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