Hania Rani @ Aula Magna (21.04.2024)
A afirmação de Hania Rani.
Há teclados de todos os lados à excepção da frente, a rodear o banco que está no meio a garantir acesso absoluto para que Hania Rani se desdobre facilmente. Suspensos de uma estrutura metálica que rodeia os teclados, estão 6 tiras brancas de tecido que se estendem na vertical desde uns 5 ou 6 metros de altura mesmo até ao chão, duas a duas. No espaço dentro dessa estrutura, para além dos instrumentos, há luzes.
Muito mudou desde aquele concerto em Lisboa, no Musicbox em 2019 perante meia sala, se tanto, como a própria Hania Rani, fez questão de referir. A carreira de Hania Rani tem sido de total e completa evolução. Começou com composições neo-clássicas apenas com o piano ou o órgão. Começou a introduzir voz e outros instrumentos, mais pessoas, começou a compor bandas sonoras e aventurar-se noutros estilos. As suas composições tornaram-se nalguns casos canções. Talento em estado puro. É um privilégio poder acompanhar assim a carreira de alguém que daqui a alguns anos será vista com toda a certeza como uma referência, um nome incontornável.
15 minutos depois da hora ouvimos ondas de rádio como som de fundo. Cria-se uma atmosfera, num arranque a fazer lembrar Nils Frahm. Iniciamos ao som de “Ghosts”, na sua vertente mais electrónica. Pulsante.
«Dancing With Ghosts» conta com a participação de Patrick Watson no álbum. Por uma semana não se cruzaram (Watson actuou no LAV nos dias 12 e 14), mas a verdade é que quase conseguíamos imaginar a sua voz, tal e qual um fantasma, a pairar por aqui em comunhão. Rani é o epicentro de tudo. O seu corpo fluiu com exactidão para ocupar sempre o espaço certo. Por vezes grandiosas, outras vezes as teclas surgem quase como um sussurro. E o silêncio? O maravilhoso silêncio que se faz sentir. Um espirro ou uma garganta arranhada soam quase como uma disrupção massiva.
«Hold On» é construída por camadas, entre loops e teclados diferentes, com toda a naturalidade do mundo. Mas aqui as camadas são dinâmicas; ora se chegam à frente, ora dão lugar a outras. Durante a primeira metade não há um momento de silêncio entre cada composição, peça ou canção. Há sempre um som, um acorde a ligar. Tudo flui, a transição coloca-nos exatamente onde temos de estar para ouvir a canção seguinte. Temos direito a uma canção em estreia, apresentada entre muitos sorrisos e agradecimentos. Mas antes escutamos «Don’t Break My Heart», com a sua aura jazzistica.
É um privilégio escutar estes teclados, que como que choram, enquanto a beleza das notas se vai enrolando na nossa garganta, e damos por nós com um nó. É uma experiência, daquelas que se enfia debaixo da nossa pele. Arrepia. Há uma clara vontade em ligar elementos electrónicos e elementos clássicos. E há um propósito para o fazer da forma mais coesa, como se estes elementos sempre tivessem coexistido.
Uma hora e trinta minutos absolutamente sublimes, mas felizmente ainda havia tempo para um pouco mais. «Hawaii Oslo» foi o presente de despedida, arrancando num registo tenso e num crescendo que nos apertam e quase roubam o ar, até ao momento em que as teclas se libertam e inundam a sala.
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