Herberto – Bruaá

“Herberto”

Cada lesma na sua alface

Num mundo cheio de gente e escasso em tempo, sobra pouco espaço para olharmos para dentro, para olharmos para nós mesmos e, então, sabermos quem realmente somos e qual a nossa missão na vida que temos. Isolados. Aumentados. Cheios da importância e das capacidades que trazemos connosco, tantas vezes sem reparar, acabamos por gastar os dias a admirar os outros, a observar os outros, a querer ser os outros, sem sabermos verdadeiramente o que somos capazes de fazer.

“Herberto” (Bruaá 2014) fala disto mesmo, mudando pessoas anuladas num mundo de competição e orgulho pelos bichinhos e reduzindo o mundo a um pequeno jardim. Herberto é uma pequena lesma que vive debaixo de troncos húmidos e folhas caídas, num canto do jardim. Os seus dias passavam-se simplesmente a encher a barriga com folhas de alface. No dia em que a alface acabou, Herberto partiu em busca de mais alimento e a viagem mostrou-lhe muito mais do que poderia imaginar. No percurso encontrou a aranha a tecer uma magnífica teia, uma colónia de formigas criando túneis tão bem construídos e um escaravelho-bosteiro e a sua bela escultura. Herberto admirou e elogiou o trabalho e o talento de todos os que conheceu. Mas, ao cair a noite, do cimo de uma árvore, a mariposa fê-lo olhar para si próprio refletido no jardim. Que talento escondido teria o Herberto sem nunca se ter apercebido? Qual a capacidade de tão simples lesma capaz de motivar a admiração e a inveja de outros?

Lara Hawthorne consegue com este seu primeiro livro criar uma autêntica fábula dos tempos atuais. Falando-nos diretamente à razão. Segredando no nosso ouvido como é possível nós próprios sermos “Herbertos”, na nossa rotina, sem percebermos como é importante subirmos a uma árvore e olharmos para o que somos e para o poder criativo que temos.

A beleza deste livro está centrada na história mas vai muito para além dela. As ilustrações, também da autoria de Lara Hawthorne, cheias de minúcia e primorosa delicadeza são, sabiamente, enfatizadas por pequenos detalhes de brilho em pormenores muito particulares de alguns desenhos. Cada parte contribuiu para um todo de emotividade, revelando-nos uma verdade que, de tão óbvia, passa pelos nossos olhos sem repararmos nela. Porque, adultos e crianças, a qualquer momento precisam de uma mariposa que lhes lembre o quão especiais são e o quanto são admirados pelos outros habitantes deste jardim.



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