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Human League

Um concerto jet set.

Os Human League, com 35 anos de carreira, editaram este ano um novo LP, “Credo”. A digressão e promoção do novo trabalho contemplou a primeira visita da banda a Portugal. O concerto deu-se na noite de 4 de Agosto, na Praia da Rocha, em Portimão e a Rua de Baixo, que não tira férias para vos pôr a par de tudo, moveu os presuntos, e foi até ao palco do Meo Spot para assistir ao concerto e para ver como anda o Algarve neste “querido mês de Agosto”.

Fez todo o sentido que o glamour da New Wave voltasse às quentes noites do Algarve, já que foi numa tórrida noite desta província que Bryan Ferry sacou duas beldades alemãs para a capa do mítico álbum “Country Life” dos Roxi Music, e também foi por aquelas paragens que Art Sullivan, uma das primeiras barbies masculinas da Pop-cor-de-rosa, encontrou um lar, para a sua reforma dourada.
 Agora mais a sério, os Human League, a celebrar 35 anos de carreira e a promover o seu mais recente LP “Credo”, vivem abatidos pela paixão de “Dare”. Um marco sonoro que, em 1981, os colocou como uma das mais importantes e influentes bandas do Reino Unido, percursor do muito revivalista Synthpop que se encontra hoje na Pop contemporânea.

O concerto aconteceu, não no Algarve dos anos 70 e 80, mas sim no renovado “Allgarve”, onde muita coisa mudou. O betão que outrora ameaçava é, agora, uma realidade; antes o Zézé Camarinha brilhava nos poucos apart-hotéis pela honra do macho latino, hoje encontra-se perdido entre torres de vinte andares, e nem no facebook consegue encetar um intercâmbio internacional.

Mas na música, pouco mudou. Agora podem chamar-se Empire of the Sun ou Midnight Juggernauts, mas sabemos que foi com “Dare” que tudo começou. Os ritmos da dança não são muito diferentes dos que passavam nos tempos áureos da discoteca Kiss em Albufeira, onde nórdicas com cabelo à Rod Stewart dançavam toda a noite os sintetizadores de uma nova tendência sonora que era a New Wave, ao ponto de pingar suor e caspa para os enchumaços dos seus blazers de meia manga. Era habitual nessas noites ouvir-se Duran Duran, o «Fade to Grey» dos Visage, o «Never Again» dos Classix Nouveaux ou até o «Blue Monday» dos New Order, que haviam deixado o Pós-Punk após o Ian Curtis ter enfeitado o pescoço com uma corda, e claro o «Don’t you want me» dos Human League, que ressuscitaram como um assombro desse tempo.

O Meo Spot, situado na ponta Leste da Praia da Rocha, junto ao molhe que guarda o rio Arado do Atlântico, é um recinto tipo festival sudoeste, mas vestido de gala para impressionar a alta sociedade portuguesa que, de resto, deambulava pelo recinto enjeitada com fatos de ocasião, ornamentados com botões de ouro nos casacos e gel q.b. A puxar o pouco cabelo para a nuca, juramos mesmo ter visto por ali Santana Lopes, mas não, era apenas um clone a pensar que o Michael Bolton e o Kenny G iriam fazer um remake do concerto do Pavilhão Atlântico ali à beira oceano.
 Os Human League teriam então que puxar de ritmos démodé e de slows sodomitas para agradar uma parca plateia de aristocratas portugueses, entretidos a derreter o gelo dos seus copos de scotch e de plebeus britânicos, que talvez de férias de um talho de Southampton se entretinham a molhar os seus lábios carnudos em finas taças de vinho branco. Era esta estripe, todos meus cicerones figurantes, aquando das filmagens do vídeo «thriller» do Michael Jackson, que de havaianas, vestidos de algodão das lojas dos chineses, a apertar o silicone dos seios ou, simplesmente a encolher a barriguita, consoante a sua condição sexual, iriam pactuar com Philip Oakey, líder e único membro da formação inicial dos Human League, Susan Ann Sulley e Joanne Catherall que se lhe juntaram em 1980, a primeira actuação da banda, por terras lusas.

O concerto

O desembaraçado trio entrou em palco com um pomposo atraso, acompanhado por um baterista e dois teclistas, sendo que um deles também se libertava para a guitarra. E atacou logo com «Never Let me Go», música que abre o LP de 2011, “Credo”, que poderia servir bem de expressão a alguns dos poucos que se encontravam no recinto, e à populaça que se aglomerava lá fora nas muralhas do Forte de Santa Catarina, mas que podia assistir de longe, ao concerto (pois pagar 25 euros por um bilhete a que se tinha de juntar mais 15 euros de consumo mínimo nos caríssimos bares no recinto, não era mesmo para todos).

O início deu-se assim num estado mais electro, a demonstrar que os Human League têm acompanhado as tendências do novo milénio. Philip Oakey movia-se freneticamente pelo palco. Entrou encapuçado e, ao descobrir-se, demonstrou o esplendor da sua calvície que, de óculos escuros, pareceu uma assombrosa silhueta do nosso Pedro Abrunhosa, mas claro, mais iluminado.

Fez-se então a primeira incursão ao muito aclamado “Dare” com «Open Your Heart» e «The Sound of the Crowd» que, de resto, era mais estridente junto ao forte que no recinto, onde algumas tias de Cascais já haviam abandonado a segurança dos estrados de madeira e avançavam no areal junto ao palco descalças de chanatas e preconceitos. A música tem destes milagres, e aquilo era o “Dare” limpinho, tal e qual como Deus o meteu na terra, e em disco. A banda não inventou, reproduziu-o no palco tal como ele é no registo discográfico.

Entretanto, os Human League saíram do confortável ano de 1981 e voltaram a 2011 com «Egomaniac», o tema mais New Wave do novo álbum. O cheiro do passado exalava das colunas e entrava-nos pelas narinas misturado com óleo de coco, dando a sensação de Patcholy. Ao som de «Empire State Human» do primeiro LP, “Reproduction”, Philip Oakey arremessou o casaco ao Rio Arado, e a electrónica tornou-se mais crua, pois aquele disco ainda tinha sido feito com Martyn Ware e Ian Craig Marsh que, mais tarde, dariam origem aos Heaven 17.
 Entrou-se depois no pântano claustrofóbico do tema «Nigth People», uma epilepsia ritmada que se encontra em “Credo”. Susan Ann Sulley e Joanne Catherall, que haviam abandonado o palco no tema anterior, voltaram vestidas num burlesco fresco e provocante à sua condição de meninas de coro. A primeira, na qual os anos não lhe tocaram, ainda enxuta, dançava e cantava, deixando distraída alguma lingerie branca a saltar para a visão dos mais atrevidos na plateia. A noite aquecia, e as arribas do forte de Santa Catarina prometiam desmoronar para que se fizesse justiça e o povo se juntasse à festa cá em baixo.

Mas antes, «Human» para alguns devotos mais mainstream elevarem os braços aos céus, e mandarem louvores entre grãos de areia e beatas de cigarros ainda a fumegar. Ouviram-se pois, os primeiros coros feito pelo público. Os elementos femininos da banda sacudiam os braços e o sal das mucosas, talvez de um banho tardio na Praia da Rocha. Philip Oakey cumpria a sua voz ainda portentosa que em nada se assemelhava à sua alvura capilar. Era chegado o momento de apelar então a todas as forças, puxar da energia acumulada ao longo de 35 anos de história, pois ouviam-se dos sintetizadores os primeiros sons de «Don’t you want me». Do coro para o solo com o líder, saltou Susan Ann Sulley que, seca de carnes, fresca de movimentos, celeste de vestido, falhou na voz, que se arrastou numa súplica pela companhia de sua colega, mais cheiinha, que se limitou a dançar e com o público testemunhar que os anos realmente pesam.

A banda abandonou então o palco e recolheu à privacidade, que um tímido encore interrompeu. Na ressurreição, Philip Oakey descartou «Being Boiled», a primeira música escrita pela banda, e logo acabou com «Together in Electric Dreams» que, ironicamente, foi a primeira música que, em conjunto com Giorgio Moroder, escreveu fora do histórico colectivo.
 Saíram para não mais voltar ao palco de um concerto que soube a pouco, onde ficaram guardados temas como «Seconds» ou «The Things That Dreams Are Made Of». Na cabine do recinto, um DJ avançou com uma Mix manhosa do «Smalltown Boy» dos Bronski Beat, lembrando outros heróis. A pista tomou cor. No palco e fora dele, muito fica por dizer. Preços exorbitantes numa iniciativa com o apoio camarário numa praia pública… mas fiquemo-nos pelo concerto até porque o Algarve, irá sempre ser o “Allgarve”.



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