#AGC ILL CONSIDERED 003

Ill Considered @ Musicbox (01.04.2023)

Foi, indubitavelmente, um dos concertos mais entusiasmantes de 2023 até ao momento.

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Texto por Álvaro Graça e fotografia Andreia Carvalho.

Num dia em que grande parte do país saiu à rua pelo direito à habitação, o jazz londrino encontrou um lar doce lar nos braços do Musicbox, naquela que foi uma riquíssima manifestação da dinâmica deste movimento. Os Ill Considered são um dos tentáculos do monstro jazzístico que se tem erguido na capital inglesa, desenvolvendo-se num ecossistema onde os músicos se desdobram em múltiplos projectos, que não cessam de deliciar e surpreender quem se debruça sobre o mesmo.

Inicialmente parece-nos evidente que o saxofone de Idris Rahman vai ter o papel principal, facto que é bastante normal dado que é o instrumento que traça as linhas melódicas com que tecem as malhas de Ill Considered. Porém, com o andar desta carruagem imparável e fumegante, começamos a ter dúvidas quanto a esse papel, porque vamos sendo progressivamente submersos pelas ondas de som vindas do palco, os sentidos apuram-se, e olhamos para os três executantes como um único organismo. Um único corpo que, pesem embora os inesgotáveis cambiantes a que é sujeito, nunca se fractura.

A bateria do experiente Emre Ramazanoglu é uma verdadeira locomotiva, que vai desafiando o saxofone de modo permanente, indicando-lhe novos e inesperados destinos, porque a improvisação é uma fatia muito importante do bolo deste trio londrino. Não admira que tanto nos sintamos numa sala de jazz, como repentinamente pareçamos estar a desfrutar um ritmo jungle num club de bom gosto, ou até que alguém colocou um disco de Massive Attack a rodar na mesa de som.

E as reminiscências não ficam por essas águas, porque nem só de jazz, e quejandos, se cosem as linhas de baixo gizadas por Liran Donin. É aliás bastante curioso que muita vez o baixista nos encaminhe para sons mais indie, trazendo à ideia alguns sabores de Morphine por exemplo. Noutros instantes, a fúria e a excitação instalam-se, e o Ill Considered chegam a parecer uns Jazz Against The Machine.

Quem também se entusiasma é obviamente o público, que não resiste a reagir a cada paragem, patenteando o êxtase com que a criatividade e execução de Ill Considered nos contamina.

Esperamos sinceramente que este esfuziante trio possa hospedar-se de forma regular nas salas do nosso país após uma mini-digressão tão sobejamente apreciada. Foi, indubitavelmente, um dos concertos mais entusiasmantes de 2023 até ao momento.



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