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“Imortais”

A batalha entre o Épico e o Estético.

Quem conhece a obra do realizador visionário Tarsem Singh (“A Cela”, de 2000, “A Queda”, de 2006) já sabe o que o espera: cenários incríveis, uma fotografia altamente estilizada e uma narrativa de dimensões épicas. Segundo este, “Imortais” seria “um encontro entre Caravaggio e o Fight Club”, e se realmente se encontra presente no filme a estética do primeiro aliado à violência do segundo, Singh, porém, parece esquecer-se que o filme de David Fincher é muito mais do que violência, sangue e combates corpo-a-corpo.

Na história acompanhamos a odisseia (épica, claro está) de Theseus (Henry Cavill), um simples camponês que, após ver a vida que conhecia destruída às mãos do Rei Hyperion (Mickey Rourke) e do seu exército, embarca numa viagem para encontrar o Arco de Epirus; uma arma que nas mãos erradas seria capaz de destruir a Humanidade. Nesta jornada, e acompanhado pelo ladrão tornado escravo Stravos (Stephen Dorff), e pela oráculo virgem Phaedra (Freida Pinto), Theseus terá que se preparar para a batalha da sua vida. Enquanto isso, no Monte Olimpo, os deuses observam a sucessão de acontecimentos, ponderando se deverão intervir na vida dos mortais em questão, de modo a alterar a ordem da História.

Teoricamente é muito fácil o espectador apoiar, torcer e até identificar-se com a personagem de Theseus; o David desta história para o Golias de Hyperion. Porém a escala épica que o realizador parece querer conferir à história torna difícil estabelecer uma conexão com qualquer uma das personagens. A excepção seja talvez a do próprio Rei Hyperion: a única personagem que apresenta algo próximo a uma personalidade, e que Rourke ao interpretar este vilão megalómano consegue roubar praticamente todas as cenas em que entra.

O problema de escalas é uma das maiores falhas do filme, pois de tão grandioso que quer ser, acaba por tratar as suas personagens (o elemento principal de qualquer filme) como uns seres menores que apenas existem num universo gigantesco. A grande maioria das cenas parecem querer lembrar ao espectador quão épico o filme é. E do ponto de vista visual é realmente épico: a paleta cromática, rica em dourados, vermelhos, ocres e o ocasional azul é majestosa; o magnífico guarda-roupa, da responsabilidade de Eiko Ishioka (“Drácula de Bram Stoker”, de 1992 e “A Cela”, de 2000) e todas as cenas no Monte Olimpo, com a sua fotografia de cores saturadas e tons dourados, ajudam a elevar o filme a um outro patamar. De facto, quando julgado apenas pela sua estética, o filme é muito mais interessante do que realmente é.

Não deixa de ser irónico que a cena mais marcante deste “Imortais”, seja precisamente o último frame do filme; um autêntico fresco de Caravaggio em movimento, e que serve certamente para deixar a porta aberta a uma (potencial) sequela. Quem sabe os deuses não nos irão sorrir num próximo capítulo?



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