“Imóvel”
Passividade infiltrada.
Levados pela mão dos assistentes de sala, o público deixa o Teatro Carlos Alberto para se infiltrar numa reunião de condomínio algures num Imóvel de porta estreita, onde conhece três moradores e um quarto personagem que nos entrega a fast-food da sociedade, uma roda dos alimentos sem espontaneidade.
Estes vizinhos na casa dos quarenta anos, que não escutam, acusam-se, bombardeiam-se de factos da vida itinerante de cada um, mas que no fundo procuram uma conversa longa, uma tentativa inconsciente de preencher a solidão, restaurar um coletivo.
Uma geração urbana, insatisfeita, porém paralisada face ao movimento, à modernidade que defendem. O “Imóvel” precisa de obras, está terrivelmente inundado, não só por líquidos, mas por “passivistas”, termo que sugiro para esta assembleia disfuncional.
Como refere a escritora Regina Guimarães:
O que é mais violento é que estas pessoas falam, mas não têm nada para dizer umas às outras. A maior violência é essa: o descalabro da linguagem, que se assume como um abismo e como uma derradeira forma de máscara.
Uma peça que encharca o espectador de obras físicas e humanas, que todos convivemos e discutimos por dentro ou por fora.
FICHA ARTÍSTICA
Criação coletiva/conceção e direção: Hugo Cruz
Texto: Regina Guimarães
Sonoplastia: Rodrigo Malvar
Desenho de luz: Wilma Moutinho
Cenografia: Hugo Ribeiro
Figurinos: Vitor Alves da Silva
Produção executiva: Carina Moutinho
Registo vídeo e fotográfico: Patrícia Poção, TNSJ
Interpretação: Margarida Fernandes, Sérgio Anjos, Susana Madeira, Vitor Alves da Silva
Coprodução: Nómada, TNSJ
Apoio: CAIS, Fundação GDA, Mira Artes Performativas
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