IndieLisboa 2005

A 2ª edição chegou mais cedo. Mas nem por isso mais fraca.

Apenas sete meses passaram desde a primeira edição do IndieLisboa. Ninguém diria. Ainda parece que foi ontem que o Cinema São Jorge da Avenida da Liberdade se enchia para acolher de braços abertos aquele que, tardiamente, seria o primeiro grande festival de cinema que Lisboa, como capital europeia que é, há muito ansiava. Antes tarde que nunca. A receita resultou e a prova está no que para esta edição se anuncia.

A 2ª edição do IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema Independente, terá início a 21 de Abril e encerramento a 1 de Maio, a data desde sempre desejada pela organização. E conta com um total de 130 filmes exibidos, mais uma sala de cinema, mais prémios para os participantes e quase o dobro das sessões. Quanto a números, também o das candidaturas de filmes para selecção aumentaram para o dobro, com 700 fitas recebidas pela organização.

A organização criou para esta edição mais três prémios – Prémio Amnistia Internacional; Prémio 2: Onda Curta e Prémio Indie Júnior. Mas a maior novidade será talvez a mudança de espaço. Devido às obras do cinema São Jorge, o festival divide-se entre o Fórum Lisboa e os cinemas King, distribuído por quatro salas.

Já ao que de visionamento importa, o Indie terá nesta edição dois Heróis Independentes, ao contrário da primeira que elegeu o Festival de Sundance para homenagear. Por um lado, existe a retrospectiva de um autor, o realizador chinês Jia Zhang-ke, e, por outro, coloca-se em foco a cinematografia independente da Argentina. Esta secção tem como objectivo a homenagem ou contributo de uma personalidade ou entidade em prol de um cinema inovador e livre de constrangimentos comerciais.

O IndieLisboa fará uma retrospectiva integral da obra de Jia Zhang-ke, onde exibirá (com a presença do realizador) além de “Plataforma” (o único que teve estreia entre nós), “Pickpocket”, “Unknown Pleasures”, o documentário “In Public” e ainda, em ante-estreia, “The World”, que esteve o ano passado em competição no Festival de Veneza. A Argentina merece aqui também destaque devido à sua vontade inabalável de fazer filmes, mesmo perante a grave crise económica que atravessa. O festival concretiza a sua homenagem a esta cinematografia através de uma mostra de longas e curtas-metragens assinadas por nomes tão diversos como Pablo Trapero, Lucrecia Martel ou Lisandro Alonso. Este último, presença confirmada no certame.

A competição conta com 11 longas e 30 curtas-metragens, tudo de autores não reconhecíveis, para que haja mais hipóteses de descoberta do público. Alguns chegam cá depois de uma circulação por festivais internacionais, e com prémios no currículo, como “Private”, do italiano Saverio Constanzo, que teve a distinção máxima no último Festival de Locarno, o Leopardo de Ouro, além do prémio de melhor actor.

“Born Into Brothels”, comovente documentário sobre os filhos das prostitutas de Calcutá que descobrem na fotografia uma possibilidade de contornarem um destino quase fatal, dos fotógrafos Zana Briski e Ross Kauffman, recentemente distinguido com o Óscar para Melhor Documentário, e “My Summer Of Love”, que marca o regresso do cineasta Pawel Pawlikowski, dois anos depois da estreia em Portugal de “A Última Oportunidade – Last Resort”, serão respectivamente os filmes de abertura e encerramento da 2ª edição do IndieLisboa.

Nas secções de sessões especiais, o festival exibe integralmente a trilogia “Infernal Affairs”, da dupla de cineastas de Hong Kong, Andy Lau e Alan Mak. À trilogia junta-se ainda a projecção do épico de guerra de Samuel Fuller, “The Big Red One: The Reconstruction”, com mais 40 minutos de filme do que a versão original, uma aproximação ao que o realizador sonhou para o seu filme, e que chega ao grande ecrã graças ao crítico de cinema Richard Schickel e ao produtor Brian Jamieson que recuperaram o que puderam do negativo original. Entre as secções Competição e Observatório, o IndieLisboa estreia seis curtas-metragens portuguesas.

No entanto, estas estreias não apagam o facto de a produção portuguesa não ganhar grande visibilidade na competição. Não existe uma longa-metragem nacional a concurso, facto que os organizadores do festival justificaram na conferência de imprensa com a “conjuntura pouco favorável” do cinema nacional. Já na competição de curtas-metragens, há quatro a concorrer para o Prémio: “Alguém Olhará por Ti”, de Marta Pessoa, “Collective”, de Ruben Santiago, “Untitled Sequence”, de Edgar Santinhos e Telmo Ramos, e “Com Uma Sombra na Alma”, de Fernando Galrito e João Ramos.



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