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Inês Marques Lucas @ Teatro Maria Matos (08.11.2023)

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Texto por Miguel Barba e fotografia por Américo Coelho.

A noite convidava a ficar em casa, longe da chuva e no quentinho, mas o palco no Teatro Maria Matos, parecia uma sala de estar, com muitos candeeiros, instrumentos pelo meio e dois cadeirões do lado esquerdo do palco, prendia-nos ali. Passa pouco da hora marcada quando começamos a conhecer as “Horas Mortas” de Inês Marques Lucas, com outros (pertinentes) apontamentos pelo meio.

«Dormente» apresenta-se com um som inicialmente abafado, mas que rapidamente é corrigido, mas isso não impediu que a canção fosse recebida com um enorme entusiasmo por uma plateia que se reparte entre amigos, família e um considerável número de fãs e admiradores. Para surpresa de muitos, «Avesso» surge logo de seguida, o que até terá levado alguns a pensar que íamos ter uma interpretação do alinhamento na íntegra, o que não veio a acontecer. «Avesso» é uma magnífica canção pop, com os arranjos certos e um refrão fácil e certeiro, para além disso o facto de já ter uma boa rodagem garantiu amplo e dedicado coro.

Todos damos «Trambolhões» e por vezes até propositadamente, para que outros perto de nós não o tenham de fazer. Numa viagem a um passado não tão distante quanto isso, Inês Marques Lucas recupera “Traz-me o Verão a Casa”, com que a antecipar o São Martinho.

A dupla passagem pelo The Voice, a primeira má e a segunda boa, são recordadas por Inês antes de interpretar a sua leitura de «A Chaga» dos Ornatos Violeta. Uma versão interessante, com um tempo e intensidade próprios e distintos do original, mas que deixa realmente a ideia de que foi pensada para um concurso, de forma a evidenciar alguns aspectos perante um painel de jurados. Nada contra, mas as ideias próprias da Inês têm muito mais interesse. As oito que dão corpo às suas “Horas Mortas” são um óptimo exemplo disso.

«Cedeu» é uma bela canção na forma simples como usa (e bem) elementos electrónicos, aparentemente simples para conferir uma grandiosidade à canção, tudo muito bem rematado pela entrega na voz de Inês Marques Lucas. É um single em potência. Seguem-se dois momentos a solo, com Inês Marques Lucas apenas acompanhada da sua guitarra. O primeiro dedicado ao seu avô e à Fé que sempre lhe tentou passar, mesmo quando o caminho que Inês decidiu seguir era outro. É amor, certamente, e a fé por vezes pode assumir formas distintas e quiçá mais interessantes, do que as que temos como mais convencionais; como permitir que numa noite chuvosa de Novembro em 2023 estar a tocar perante um Teatro Maria Matos cheio. «O Que Serás» foi a primeira canção composta em português e foi o que se ouviu de seguida.

«Sofá» é pop honesto e despretensioso e «Eu Já Me Habituei» leva Inês Marques Lucas ao cadeirão do lado esquerdo do palco, com que para fazer um pouco de psicanálise sobre si própria. “Eu já aceitei todo o descontrolo, já o abracei como forma de consolo”. A oportunidade de agradecer a todos surge, de forma adequada, antes de ouvirmos «Pago a Renda em Canções», com um convite para dançar, que aceitamos porque a batida simples que atravessa a canção convida-o. Sim, é mais uma boa canção pop, que faz uma suave transição para «Curto-circuito». «Não Restou Nada» deixa-nos com sentimento agridoce, culpa da canção triste, mas bonita, que encerra o alinhamento planeado. Planeado, porque se regressou novamente ao «Avesso» para a surpresa de alguns (ou não).

Correu muito bem.



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