Interpol @ LAV (16.02.2023)
Coube aos Water From Your Eyes, de Brooklyn, abrir para uma casa cheia onde saltava à vista uma média de idades alta que dava corpo à sala. Há muitas programações, há a guitarra de Nato Amos (vestido com uma t-shirt dos Slipknot) a impôr-se por cima e a voz de Rachel Brown propositadamente distorcida. Infelizmente também há muito ruído na sala. Algo a lamentar e recorrente quando se trata da banda de abertura. Mas há que continuar. Momentos há em que o registo roça o spoken word. É uma amálgama de influências onde há sempre algo que nos agarra. Pelo meio, surge uma canção descaradamente pop com o desejo que “I hope you have a warm feeling by the end of the night”. Os Water From Your Eyes revelam-se uma montanha de influências. Passamos pelo drum’n’bass, pelo industrial e pisca-se o olho ao pop e manda-se um piropo provocante ao noise. Tudo feito de forma coerente. Não há barreiras de género aqui e para além disso “the computer is the Supreme Overlord”. São 45 minutos que passam quase sem darmos por isso.
A azáfama toma conta do espaço e já passa das 22h45 quando os Interpol sobem ao palco e arrancou ao som de «Toni», do mais recente “The Other Side of Make Believe”. O som do LAV não desilude, ainda para mais dado o peculiar tom de voz de Paul Banks que teima sempre em surgir baixo, quando comparado com os restantes instrumentos.
«Evil» é o primeiro grande momento, com a linha de baixo sempre frenética; “Rosemary / Heaven restores you in life”. Os Interpol têm três álbuns repletos de hinos e nos momentos de maior inspiração o papel de Daniel Kessler é essencial, passeando a sua guitarra ora com subtileza, ora com passadas largas, mas sempre com conta, peso e medida. Seguem-se «Fables», «C’mere» e «Narc» e quando se foge (neste caso) do eixo delineado por “Antics”, para a discografia mais recente, nota-se logo um arrefecimento. Não é que as canções sejam más. Não o são. As anteriores é que são mesmo fantásticas.
«Pioneer to the Falls» transporta-nos pela primeira vez a “Our Love to Admire”, álbum de 2007, onde Paul Banks oferece um final arrepiante, apenas com a sua voz, antes do crescendo final que é interrompido de uma forma deliciosamente brusca e frustrante.
«Into the Night» traz outra quebra, compensada pela «Obstacle 1» que transpira uma Nova Iorque efervescente dos primeiros anos do século XXI. Os anos passam e há coisas que não mudam. Os Interpol sempre foram uma banda parca em palavras. Seguem-se «Passenger» e «My Desire», naquela que é a única passagem da noite por “El Pintor”, de 2014. «Rest My Chemistry» é magia, mesmo com Kessler a falhar umas notas no arranque da canção. “Marauder” de 2018, surge orgulhosamente só, representado por «If You Really Love Nothing», recebida com o seu quê de indiferença (mais uma vez) mesmo não se tratanto (de todo) de uma má canção. A matriz post punk dos Interpol surge vincadíssima em «Roland», imediatamente antes da sequência final composta por «Mr. Credit», «The New» e a sempre certeira «Slow Hands»; “Can’t you see what you’ve done to my heart / And soul? / This is a wasteland now”.
O regresso ao palco é feito ao som de «Lights», mas os verdadeiros bombons são os que se seguem. Primeiro, «No I in Threesome», canção cheia, sobre relações e o que surge pelo meio, numa demonstração cabal que por cá os Interpol continuam a ter muito amor para receber. Por último, «Not Even Jail», fecha com chave de ouro aquele que foi o melhor concerto dos Interpol em Portugal nos últimos anos.
Texto por Miguel Barba e fotografia por Graziela Costa.
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