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“Is This It”, The Strokes

A minha capa é mais bela que a tua.

Qualquer pessoa que seja levada a escolher a sua capa preferida em álbuns de música, sabe que não é seduzida somente pelo conceito e design que nela estão reproduzidas. Há obviamente uma relação afectiva – leia-se quota sonora – na decisão final. Não é de surpreender, portanto, que Beatles (número um com “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”), Nirvana, Velvet Underground ou Pink Floyd, figurem no Top Ten na votação sobre a melhor capa de sempre, junto dos leitores da revista Rolling Stone, divulgada a meio de Junho. No caso do autor desta prosa, há uma capa que jamais sairá da memória visual… E musical. Chama-se “Is This It” e pertence aos nova-iorquinos The Strokes.

Da autoria de Colin Lane, a fotografia impressa na capa apresenta uma nádega feminina vista de lado, tendo sobre ela uma mão revestida com uma luva preta de cabedal. A modelo – que na altura era namorada de Lane – revelou que a foto foi tirada espontaneamente quando esta estava nua a sair do chuveiro. Interessante ideia para lançar quando quisermos desculpar a presença de uma máquina perto de um momento semelhante. Do género: “É na boa… Foi por estes momentos que alguém acabou por ser estrela no álbum doS’trocados! Já viste a probabilidade de seres venerada sem precisares de dar a cara?” – afirmação em tom Bruno Nogueira no ficcionado e cómico reality show, “O Último a Sair”. Se não resultar, para a próxima adquira uma microcybershot e passe despercebido nesta “católica” acção.

Espontaneidade e fantasias à parte, é na simplicidade que está o ganho desta capa. Primeiro porque, independentemente da orientação sexual, é certo e sabido que a parte da fisionomia humana aqui realçada é das mais observadas a qualquer hora do dia. Para ser ainda mais spicy, tem algo de cabedal a dar umas festas ou palmadas (depende da imaginação de cada um).

Por outro lado, a envolvência em redor da sua publicação explica bem o paradigma de ser norte-americano: uma coisa é sentir o pulsar de cidades como Nova Iorque, São Francisco ou Los Angeles, outra é ter a noção que a “América profunda/conservadora” tem ainda muita força. E como essa realidade está mesmo ao virar da esquina – afectando igualmente a indústria musical local-, os The Strokes não quiseram correr riscos e decidiram mudar a capa no mercado dos E.U.A. (ao contrário da Europa e do Japão). Estávamos em Outubro de 2001 e até o tema «New York City Cops» acabou por ser substituído por «When It Started», apesar do primeiro sublinhar a atitude corajosa da polícia local no 11 de Setembro. Como a tragédia estava demasiada fresca na memória, foi preferível não evocá-la no disco. “Is This It”, que estrategicamente não incluiu o ponto de interrogação, também conta com esta curiosa componente de ter surgido quando o mundo contemporâneo sofreu um terrível abalo.

Musicalmente, é o que se sabe: são muitos que o consideram um dos melhores álbuns da década passada e um documento que deu um novo fulgor ao rock. A 16 de Julho, os The Strokes actuam no festival Super Bock Super Rock, no Meco (Sesimbra), evento que traz outras figuras que marcaram a música da última década, casos de Arcade Fire, Arctic Monkeys, Portishead e James Murphy (dos recentemente extintos LCD Soundsystem) em sessão DJ.



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