J.J. Abrams
A Força está com ele
Uma epidemia varre por estes dias o planeta: felizmente não é a gripe das aves, nem a febre das galinhas. Trata-se da estreia mundial do muito aguardado Star Wars VII – O Despertar da Força.
No centro deste furacão mediático está o pacato cidadão americano Jeffrey Jacobs Abrams, conhecido pelos amantes de cinema como J. J. Abrams. Foi ele o argumentista (com Lawrence Kasdan e Michael Arndt), produtor e realizador do filme, substituindo George Lucas ao leme da saga. No meio de toda esta histeria, é fácil esquecer que J. J. já anda a vender sonhos em Hollywood há duas décadas.
Abrams realizou os primeiros filmes no seu quintal com uma câmara Super 8, tal como Steven Spielberg, o seu ídolo de sempre. Filho de um casal de produtores de televisão, começou por se fazer notar aos 16 anos como compositor de bandas sonoras para cinema, e depois como argumentista: “O Regresso de Henry”, com Harrison Ford, e “Armageddon”, de Michael Bay, saíram da sua mente hiperactiva na década de 90.
Em 1998 criou, a meias com Matt Reeves, a série “Felicity”, uma espécie de novela sensível sobre a adolescência de uma jovem estudante da Califórnia. Quatro temporadas passadas, Abrams fartou-se dos problemas existenciais da puberdade feminina para abrir a porta a um dos seus grandes êxitos: a série “Alias”.
Produzida pela Bad Robot (companhia de produção criada por J. J. em 2001) Alias tinha Jennifer Garner à frente do elenco, como a perigosa agente secreta Sydney Bristow. A série durou 5 anos e pulverizou audiências em todo o mundo. Abrams destacou-se pelas subtilezas do argumento, repleto de piruetas que subvertiam as nossas expectativas a cada momento. As surpresas continuariam a ser um dos ingredientes principais do passo seguinte da carreira de J. J. – a mítica série “Lost”.
“Lost” surge em 2004, criada por Abrams, Damon Lindelof e Jeffrey Lieber. Ao longo de 6 anos, tornou-se um fenómeno de cultura popular global: a dada altura parecia que toda a gente estava viciada no mistério: um grupo de sobreviventes de um desastre de avião tentam perceber o que se passa na enigmática ilha onde se despenharam. A série aborda assuntos pouco vistos na ficção para televisão: questões existenciais, o bem e o mal, o pecado e a redenção, ursos polares e monstros de fumo. Terreno fértil para teorias, mitologias e parábolas, “Lost” ganhou dois Emmys em 2005, e incontáveis nomeações e prémios ao longo dos anos em que foi exibida.
Apesar de continuar envolvido em várias séries como “Lost”, “Fringe” e “Six Degrees”, em 2006 J. J. não resistiu ao apelo do grande ecrã. Desafiado por Tom Cruise, fã do seu trabalho em Alias, estreou-se como realizador de cinema com “Missão Impossível III”. A transição da televisão para o cinema não podia ter corrido melhor. O seu à-vontade a filmar um blockbuster desta dimensão é notório. Com cenas de acção espectaculares e adrenalina sempre em alta, o filme torna-se mais do que um mero veículo para Cruise, e consegue repescar o espírito da velha série em que se baseia.
Em 2009 Abrams agarra num franchise de culto, com origem numa série dos anos 60, que conta com milhares de fãs em todo o mundo: “Star Trek”. Com os seus colaboradores habituais Roberto Orci e Alex Kurtzman, J. J. imagina um filme que, apesar de preservar o ADN da série original, lhe dá uma roupagem que a torna actual. Decide começar a história desde o início, narrando as origens do Capitão Kirk, de Spock e da U.S.S. Enterprise. Um casting inspirado, com muitos jovens talentos, o vilão carismático de Eric Bana, efeitos especiais de topo e uma realização dinâmica fazem do filme um sucesso global. Star Trek ganhou mais de 385 milhões de dólares em todo o mundo, deixando os trekkies satisfeitos com a nova direcção da história.
Depois dos sucessos de “Missão Impossível 3” e “Star Trek”, o realizador teve carta branca para fazer um filme mais pessoal. “Super 8” estreou-se em 2011, mas a sua origem remonta aos anos de adolescência de J. J. Nessa altura chamou a atenção de Steven Spielberg, que contratou o jovem prodígio para restaurar os seus filmes pessoais de 8mm. Três décadas depois, Abrams presta uma sentida homenagem ao mentor com um filme spielberguiano até à medula.
Passado em 1979, centra-se num grupo de putos que tenta realizar um filme de zombies, tropeçando num Alien aterrador. Abrams teria mais ou menos a mesma idade dos protagonistas em 1979, e, como eles, cresceu com o cinema de Spielberg.
“Super 8” é produzido pela Amblin Entertainment de Spielberg, que ficou certamente lisonjeado com a homenagem. Se este filme faz lembrar Os Goonies, Stand by Me ou E.T., não é por acaso: se tivesse estreado nesse ano de 1979, seria certamente confundido com uma obra de Spielberg, que tinha realizado Encontros Imediatos do Terceiro Grau em 1977.
Em 2013, J. J. regressa ao universo Star Trek para realizar “Star Trek: Into Darkness”. O filme aposta mais nos efeitos especiais grandiosos, e é mais disperso do que o tomo anterior. O melhor do filme é a interpretação de Benedict Cumberbatch – um vilão superlativo, que rouba o filme aos outros protagonistas. Into Darkness teve uma recepção menos entusiasta, apesar de ter sido um sucesso de bilheteira. Até J. J. Abrams admitiu recentemente que o argumento tem algumas fraquezas.
Ainda em 2013 sai a notícia da escolha de J. J. para realizar “Star Wars VII – The Force Awakens”, com a benção do próprio George Lucas. Após ter transformado o moribundo Star Trek num franchise extremamente bem sucedido, Abrams parece ser a escolha perfeita para trazer frescura e dinamismo à saga Star Wars – já há pelo menos mais dois filmes previstos, realizados por Ryan Johnson (Looper) e Colin Trevorrow (Jurassic World), respectivamente.
Apontado por muitos como o herdeiro natural de Steven Spielberg e de George Lucas, J. J. Abrams tem um percurso invejável. As referências e ideias que implementou nas suas produções fizeram escola, e tornaram-no um dos mais influentes realizadores actuais. A origem do seu talento está naquele puto da década de 70, fascinado com o cinema.
Diz Abrams: “quando era pequeno, adorava truques de ilusionismo. Quando descobri como eram feitos os filmes, numa visita com o meu avô aos estúdios da Universal, lembro-me de sentir que era um outro meio com o qual eu conseguiria fazer magia”. A sua magia está disponível para todos nos cinemas do mundo inteiro.
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