Jackie
A curadora.
“Jackie” de Pablo Larraín retrata os momentos que se seguiram à morte de Kennedy do ponto de vista da sua mulher Jacqueline Kennedy, Jackie, interpretada por Natalie Portman.
Entre excertos da realidade e a visão do argumentista Noah Oppenheim a narrativa constrói-se intercalando três acções: a entrevista que concede à revista Life uma semana após o assassinato do Presidente Kennedy, os momentos desde a morte do marido até ao funeral e partes de um documentário que fez para a CBS chamado “Uma visita à Casa Branca com a Sra. John F. Kennedy”.
Estas três acções permitem que o realizador consiga fazer um zoom a Jacqueline e expor a viúva temendo o desamparo, a mãe protectora, a figura pública que passa a ícone, a ex-primeira-dama que quer a todo o custo lançar a primeira pedra para a construção do mito JFK.
O que me mais me interessou em Jacqueline foi este lado ligado à Memória. Ela demonstra uma noção de que é preciso preservar e enaltecer o Passado para que ele se constitua herança histórica e cultural.
Em vez de um museu, Jackie usou a televisão para eternizar momentos que ficaram para história do seu país. Estávamos nos anos 60 e 90% dos lares norte-americanos tinham televisão, por isso, em vez de um museu, Jackie utilizou este meio para “preservar” os eventos, dos quais ela se tronou curadora.
Ao chegar, em 1961, à Casa Branca o seu principal projecto foi a restauração e preservação do património deste edifício. Um ano depois apresentava o resultado do seu trabalho, guiando as câmaras de televisão pelos corredores e salas da Casa Branca, mostrando objectos que tinham pertencido a antigos chefes de estado, como um piano, uma mobília de quarto, poltronas. “Uma visita à Casa Branca com a Sra. John F. Kennedy” foi visto por 45 milhões de pessoas.
A partir daquele momento a Casa Branca, local afastado da esfera pública, passou a “pertencer” a todos os cidadãos, pois todos o tinham visto através da televisão em sua casa.
Em 1963, horas após o assassinato, Jacqueline e Bobby Kennedy seguem dentro do carro que transporta o caixão do presidente para o avião. Jackie pergunta ao motorista se ele se lembra de James Garfield ou de William Mckinley ou de Abraham Lincoln, todos eles presidentes assassinados. O motorista só se lembra de Lincoln. Jackie tem a resposta que precisava e pede ao seu assistente que lhe conte como foram as cerimónias fúnebres do Presidente Lincoln e organiza um funeral que lhe iguala em monumentalidade e dor.
Jackie vai ao Passado compreender o que define um momento histórico e recria-o para produzir uma memória que perdure no futuro.
A mediatização dos acontecimentos que rodearam a morte do presidente Kennedy foi sem precedentes. Pela primeira vez as televisões suspenderam a emissão normal e fizeram um directo continuo.
Jackie percebeu que era preciso que a nação se unisse em torno daquela tragédia para que o “Camelot” de JFK se eternizasse e o mito nascesse.
“Jackie” de Pablo Larraín foi nomeado para 3 Óscares, incluído o de Melhor Actriz para Natalie Portman.
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