Jameson Urban Routes
Descubram tudo o que podem descobrir na primeira semana do festival indoor do Musicbox Lisboa.
Começa a ser tradição – a primeira noite, a que abre oficialmente o Festival Jameson Urban Routes, no Musicbox, é de borla. E se no ano passado tivemos You Can’t Win, Charlie Brown, Casiotone For The Painfully Alone e DJ Ride na noite de abertura, desta feita essa tarefa está delegada aos Grasspoppers e aos Beatbombers. O evento estabeleceu-se definitivamente e é, a par do evento da Avenida (o Super Bock em Stock que entretanto passou a Vodafone Mexe Fest), a referência de Inverno. Por lá já passaram, noutras edições, artistas como Andreya Triana, Cibelle, Mocky, Ebony Bones, Jamie Woon, Toro Y Moi, El Guincho, Marina Gasolina e Whomadewho. Este ano a fasquia não é elevada, mas também não cede. Sun Airway, Health e Tom Vek serão os maiores nomes, mas poderão haver surpresas.
Dia 20
Logo na quinta-feira, dia 20, a estreia em palco dos Grasspoppers – a primeira e a última actuação. É, portanto, uma actuação exclusiva do Jameson Urban Routes 2011, na sequência de outras actuações exclusivas ocorridas em anos anteriores – é também esse um dos factores de diferenciação do festival. Cartão de visita: um disco dub, “Dub Inna Week”, gravado e lançado em 2010, disponível para audição global. É um trabalho descomprometido e que vai pescar influências de outras bandas e projectos dos vários elementos que a formam – Cacique 97, Cool Hipnoise, Philarmonic Weed, Faith Gospel Choir, Kussondulola, Mercado Negro, etc. É um supergrupo à portuguesa, um conjunto de músicos com história feita e com a confiança de quem está a gravar uma obra de qualidade irrefutável. O grupo, num texto publicado online, refere como parte integrante da (única) semana de gravação o “muito fumo, algumas cervejas e ocasionais copos de vinho e de whisky”. Nós acrescentariamos o Rum e, nas comidas, uma Muamba ou um Dambun Nama. Reggae, afrobeat, samples e a certeza de que esta é uma festa que terá um final feliz, dia 20, no Musicbox.
Seguem-se os Beatbombers, duo composto por Stereossauro e DJ Ride – mais uma tradição do festival, DJ Ride a abrir as hostes. A dupla tornou-se vice-campeã do mundo de scratch no último campeonato de turntablism IDA. O que faz é único, mais ninguém o inventou. Vai às raízes da tradição portuguesas – há samples de fado, de filmes (e, salvo possível erro, desenhos animados vintage) com várias décadas – e transpô-la para o século XXI e para a cultura urbana. Mestres do scratch e do turntablism, Ride e Stereossauro cortam e colam, são mestres dos trabalhos manuais e passaram sempre com distinção na disciplina de Educação Visual. E é por isso indispensável ouvir “Tuga Breaks”, o único registo de estúdio do duo, e marcar presença no Musicbox – ainda para mais sendo de borla.
Dia 21
Ao segundo dia, a noite começa com os portugueses Dear Telephone – a escolha do nome do projecto estará, segundo a própria banda, intimamente ligada a “Dear Telephone”, uma curta de Peter Greenaway. O quinteto vem do Minho e está ligado a várias outras bandas (La La Ressonance, Peixe:Avião, Old Jerusalem, Green Machine e Kafka). O EP de estreia, “Birth of a Robot”, é pop que vem do Norte, que é cândida, que é cantada em inglês e está cheia de referências literárias e cinematográficas.
As boas ideias, sabemos, alastram-se mais rápido que o vírus da gripe nesta altura do ano. Não deve ser fácil para o duo Sun Airway chegar, ver e vencer, com um disco que segue essa linha a que, na ausência de um nome mais rídiculo, chamámos chillwave. É música de quarto ou, neste caso, de cave, uma cave em Filadélfia, onde Jon Barthmus e Patrick Marsceill pensaram “Nocturne of Exploded Crystal Chandelier” – título do disco que, na ausência de nome mais bizarro, se manteve assim. Não é música tão planante nem infestada de pozinhos mágicos como a de Washed Out ou Memory Tapes. A performance vocal aproxima-se de Julian Casablancas (The Strokes), o que confere um qualquer coisa de indie-rock a este objecto que estabelece ainda óbvios paralelismos com os últimos discos de Animal Collective e Grizzly Bear.
Dia 22
E ao terceiro dia abram alas para aquela que, apostamos, vai ser a grande surpresa do festival: Throes + The Shine. Isto é rock. Não, isto é kuduro. Não, isto é punk com laivos de kuduro. Não, isto é rockduro, ou pelo menos é o que dizem alguns. Não, não é nada disto – e ainda bem. É tudo isto ao mesmo tempo e é coisa nunca antes vista. E, acreditem, é arrasador. Há um vídeo profissional na Videoteca do Bodyspace que pode abrir o apetite, existem vários amadores no Youtube, relativos à actuação no Milhões de Festa, que também podem ajudar. O Porto (que podia ser Detroit, Seattle, Birmingham, etc) dá as mãos a Luanda naquilo que é uma grande e bem-vinda confusão. A fusão vai resultar num álbum que já está terminado. Não se esqueçam, vai ser a surpresa do evento, cheguem cedo.
Depois, aquele que é o maior nome do cartaz, os Health. A banda noise de Los Angeles faz-se ouvir alto, bem alto. Pode muito bem ser o grande concerto do festival. Sim, Sábado dia 22, é o dia obrigatório, existem grandes probabilidades de estarmos perante a grande surpresa e o grande concerto do festival. É verdade que aquilo que lhes conferiu mais visibilidade até hoje foi uma colaboração com os Crystal Castles de Ethan e Alice Glass, mas os Health valem por si. Os discos, o homónimo e “Get Colour”, são bastante recomendáveis, sendo que este último pode mesmo entrar na categoria dos grandes discos do ano da graça de 2009, altura em que foi editado. Damos por nós várias vezes a pensar nos My Bloody Valentine e a apreciar as vozes que são hipnóticas, suaves, distantes e sussurradas. As guitarras são sujas e barulhentas. Isto é noise-rock industrial e não é para meninos. E já referimos que pode muito bem ser o concerto do Jameson Urban Routes?
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