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Jenny Hval @ Culturgest (23.11.2022)

É uma plateia heterogénea, aquela que quase enche por completo a Culturgest. Em comum o gosto e admiração por Jenny Hval, que se apresenta perante o público português acompanhada de banda. A norueguesa vem trilhando um percurso ímpar, apenas seu, que combina a componente de romancista, a de artista e sempre feminista covicta.

São quase 21h10 quando Hval e a sua (magnífica!) banda entram em palco. Somos presenteados como um “Hello”, sussurrado mas simpático, seguido de uma referência à grande dimensão da sala, deixando desde logo evidente uma clara preferência por salas mais pequenas, mas reservadas e com uma maior proximidade do público. Mas pensar que isso a tornaria menos afável, comunicativa ou menos empenhada, teria sido um erro crasso da nossa parte.

Na actuação de Jenny Hval está presente toda uma componente de performance, patente desde o primeiro momento, com «The Glowing Room», sempre com projecções a passarem num ecrã que ocupa todo o fundo do palco, e que muitas vezes apresenta uma cena em Jenny está presente e que é depois explorada ao longo da canção como um frame em três dimensões.

Segue-se «Female Vampire», de “Blood Bitch” e a intensa procura pelo desejo. Mas era “Classic Objects” o álbum que realmente trazia Hval ali e eis que surge «American Coffee». Por esta altura é impossível ficar indiferente à versatilidade da voz de Jenny Hval e à leveza e elegância com que se desloca em palco. De tempos a tempos parecemos conseguir escutar sons vindos de trás. De início parecem soar como vozes de alguém que fala quando não devia, mas depois apercebemo-nos que é algo mais. É a envolvência total, com pequenos sons inseridos pelos próprios engenheiros de som e que funcionam como um complemento das canções. Seguem-se «Classic Objects», canção homónima do álbum, e a sensação  de contemplação do mundo e tudo o que nos rodeia que «Cemetery of Splendour» nos oferece.

«Ashes to Ashes», de “Practice of Love” de 2019, surge-nos numa versão mais orgânica, consequência natural de estar acompanhada de uma banda que tão bem dá conta do recado, pela forma como acrescentam sempre algo a uma canção. Regressamos a “Classic Objects” e enveredamos pela road trip alucinogénia e viciante que é «Jupiter», “Jupiter call her / Into the ether / Jupiter call her / Let her come, let her come”. «Freedom» é uma canção de intervenção e é interpretada de joelhos; um pouco o estado em que algumas democracias se encontram nos tempos que correm, “I wanna in a democracy / Somewhere art is free / Not that it never was”.

«Year of Backyard», canção não editada, que fala sobre o cão que Hval adoptou durante a pandemia, é-nos apresentada como uma canção muito escandinava e duplamente passiva-agressiva. Uma canção sobre as pequenas coisas que a pandemia levou a que reparássemos nelas. Já «Buffy», single editado muito recentemente e que não integra nenhum álbum, é apresentado como a antítese do que poderia ser o genérico da série com o mesmo nome.

«Year of Love» fecha o concerto e desde logo apresentada como sendo o encore, porque nalguns concertos estas paragens pura e simplesmente não são necessárias. E assim chega ao fim um concerto curto, é certo, mas que entregou tudo e que nos deixa com uma estranha sensação de satisfação e desejo por mais em simultâneo.



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